Liberdade para os livros
Pelo milagre da internet, que em vez de vinho multiplica informação, chegou a notícia da realização da 5ta Gran Liberación de Libros promovida pelo movimento Libro Libre Argentina. A convocatória é para este sábado, 21 de março, e propõe que o máximo de pessoas liberte um livro num espaço público – escritório, praça, cabine telefônica, bar, escola etc. Podem participar todos que quiserem, com a única condição de inserir na página de rosto uma observação que indique duas coisas: que o livro pertence ao movimento Libro Libre e que aquele que o encontrar, ao finalizar a leitura, também o liberte da forma como o achou.
Essa proposta demonstra grande nobreza em sua base, que é a de fazer o livro chegar a alguém que não frequenta bibliotecas nem vai às compras em livrarias, seja por simples falta de hábito ou indisponibilidade financeira. Mas esbarra ainda na incerteza de estar mesmo alcançando o objetivo, já que o destino do livro pode sofrer um desvio: ser desmanchado pela chuva, trucidado por um cachorro ou ir parar numa lata de lixo pelas mãos de quem não está nem aí para a importância da leitura. O rumo que o livro libertado (ou esquecido) toma é tão imprevisível quanto o daqui a pouco. E o melhor é acreditar que de fato tenha sido encontrado e seja lido pelo maior número de pessoas, até o seu desgaste natural.
Não sei onde a ideia teria nascido, mas a realidade é que, além do país hermano, se espalhou por vários estados do Brasil. Há informação de o projeto estar sendo desenvolvido em cidades do interior de São Paulo, em Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre – na capital gaúcha já há seis anos – e agora, como veiculado aqui mesmo em A VOZ DA SERRA, chega a Nova Friburgo através do esforço da nova Secretaria Pró-Leitura. Parabéns ao amigo Álvaro Ottoni pela iniciativa de em breve instigar os friburguenses a uma grande libertação de livros nos bancos das praças Getúlio Vargas e Dermeval Barbosa Moreira, nos dois shoppings da cidade, rodoviária urbana (enquanto houver uma), escolas, centros culturais e outros espaços.
Penso que a proposta do Libro Libre ou dos livros esquecidos (ou que nome ganhe em cada país e cidade onde seja executada) pode evoluir para uma outra, que espero já exista em alguma parte: caixas-eletrônicos postos em pontos centrais e acessíveis, que, em vez de cédulas de dinheiro ou latinhas de refrigerante, expilam livros a um simples toque no visor. A eles se dirigiria apenas quem realmente estivesse querendo sacar do caixa boa porção de cultura, da qual os livros são os principais depositários e difusores. E o que é relevante: de graça e viabilizado pelo poder público. Onde e no dia em que este poder estiver realmente interessado em fazer o povo pensar.
Deixe o seu comentário