Notas de um moleque desocupado - 14 de março

Por Daniel Frazão
sexta-feira, 13 de março de 2009
por Jornal A Voz da Serra

De todos os horários do dia, o melhor é sem sombra de dúvida a manhã. A noite vem logo atrás e a tarde perde de lavada. Mas não há nada como a manhã. É um horário em que tudo é novo, fresco e promissor; não há qualquer espécie de ranço. O telefone não toca, a cacofonia da rua ainda está dormindo, tudo é calmo e sutil. Até mesmo os pássaros cantam melhor de manhã.

A manhã é o único período do dia em que estou no ápice de minha produtividade. No resto do dia, por melhor que me encontre, sempre há um pouco de esforço na coisa toda. Não pela manhã. Eu sou o máximo de manhã.

A tarde é com certeza o pior período das 24 horas diárias. Tudo o que é ruim acontece de tarde. Todo tipo de coisa cansativa acontece de tarde. As obrigações são sempre de tarde; pelo menos as desagradáveis. Oficiais de justiça só batem à porta durante a tarde. Pessoas vão ao banco durante a tarde. Ninguém encontra seu grande amor durante a tarde, mas muitos se divorciam de tarde. Por essa e mais outras, fico com a manhã.

No que me diz respeito, procuro adiantar bastante o meu trabalho de manhã. Minha mente está mais afiada, minhas mãos, mais rápidas. Depois do meio-dia, já estou um bagaço. Sem contar o calor. ALGUÉM ME RESPONDA QUE PORRA É ESSA. É impossível se sentar na frente do computador e trabalhar quando o quarto parece ferver a 50 graus e o sol parece pipocar em cima de um teto de amianto. De tarde, o trabalho torna-se penoso e eu me arrasto. Minha bunda sua na cadeira. O calor aumenta a cada minuto que passa. O ar mais parado que um morto. Morno. Morno. Morno. O sol simplesmente não dá uma trégua que seja. Está pior a cada ano que passa. Até pouco tempo atrás, o clima refrescava quando anoitecia. Agora, não. A noite cai e o calor persiste como se fosse meio-dia e o sol estivesse a pino. É por isso que já não gosto tanto da noite. Só a manhã me diz alguma coisa.

Alguém podia abolir a tarde de nossos dias. Botar uma segunda manhã para ocupar o posto do meio-dia. E se a noite continuar com essa gracinha de brincar de meio-dia, ela também que vá para o diabo. E olha que a noite já estava em baixa comigo por causa dos malditos mosquitos.

Sempre gostei de acordar bem cedo e ver o dia nascer. Você sabe, naquele horário em que não há absolutamente ninguém pelas ruas, nenhum carro, nada. Os pensamentos também não existem. É pura existência e nada mais. Nada a se meter no meio do caminho. Eu fazia muito isso quando era menor. Tinha mais disposição. Hoje já não consigo acordar tão cedo. Diabos, tudo vai ficando mais difícil, não é? É claro que eu tinha a escola que me condicionava a madrugar. Quando esse tipo de rotina acaba, você vai assumindo um quê de lesma.

O céu é de um azul formidável pela manhã; ou seja, desbotado e meio rosado. O sol também é bastante suave. Já de tarde, céu e sol se unem na árdua e dedicada tarefa de deixar tudo um saco.

É isso. Amo as manhãs. Gosto das noites, embora andem me decepcionando com esse cacoete de meio-dia recém-adquirido. E não vou com a cara das tardes. Como pode perceber, tenho lá minhas razões.

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