Notas de um moleque desocupado - 7 de março

Por Daniel Frazão
sexta-feira, 06 de março de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Não tenho nada para falar, estou muito ocupado, então passe para a próxima, ok? Nem sempre se está disposto a ficar com reminiscências para Deus e o mundo.

Ainda está aqui? Já disse que não tenho nada para falar; por outro lado, estou com um monte de coisas pra fazer e já estou pra lá de atrasado. Isso não é estilinho de efeito para fazer tipo, é a mais pura verdade.

Falo sério. Não entrarei em assunto algum. Não, nenhum tópico. Leia a próxima coluna, não perca o seu tempo. Volte no próximo sábado. Quer protesto? Denúncias? Carnaval? Historinhas? Política? Crônicas cotidianas? Procure por aí, cara. Não há nada aqui a ser lido. Estou simplesmente preenchendo parágrafos para terminar logo com isso. Tchau.

Droga, ainda falta um bom pedaço. E realmente tenho muitas coisas importantes a fazer, e já são duas da tarde.

Talvez se aumentar o tamanho das letras, isso termine mais rápido. Não, seria jogo sujo demais, embora a ideia me agrade. Um bom truque são os diálogos. Ocupam bastante espaço.

- Oi, como vai?

- Nada bem.

Viu só? Duas linhas já se foram. E há um sujeito lá fora vendendo picolés num daqueles carrinhos. Ele fica gritando “olha o picolé!”. Isso está me dando nos nervos. Tem hora em que tudo irrita. Geralmente quando se está atrasado. Qual é, cara, siga logo o seu rumo com esses picolés.

Isso não é bloqueio. É pressa, pura e simples. Tampouco é fastio da escrita. Sempre gosto de escrever. Mas às vezes tudo o que quero é escrever para mim, sem nenhum leitor no meio do caminho. Como quando escrevo meus livros, não há leitores no meio do caminho. Tudo ali é meu, a voz, a história, os personagens, os parágrafos, tudo. Se eles são publicados, é consequência.

Sim, sou um escritor egoísta e sem muito tempo a perder.

E não sou muito sociável. Às vezes quero estar sozinho; nos textos também.

Estou chegando, estou chegando.

Os pássaros lá fora. Amarelos, pardos, verdes e brancos. Voam pelos quatro cantos do céu e sobrevoam as copas das árvores, cantando, cantando, cantando. Eles podiam dar um tempo. Migrar para outro canto.

Tenho que me apressar, antes que o pessoal lá de fora comece com o funk e o sertanejo; aí que tudo desanda mesmo.

Um desfecho para a crônica? Primeiro; não considero o texto de hoje uma crônica. Segundo, um texto sem início não precisa de desfecho. Pronto, uma questão a menos.

E acho que já é o bastante, não? Não? Ok, vamos ao velho truque:

- Oi, como vai?

- Nada bem.

Beleza. Deu certo. Agora, tchau, tchau.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS:
Publicidade