A vida quase como ela é
Gravação de ‘A Lei e o Crime’ tenta reproduzir a violência carioca
Os ponteiros do relógio se aproximam da meia-noite e a equipe de produção de “A Lei e o Crime”, seriado da Record que estréia dia 5 de janeiro, começa a se preparar para gravar uma cena de falsa blitz no Túnel Rebouças, no Rio de Janeiro. Apesar de estar fechado no sentido Zona Sul-Zona Norte para manutenção, os motoristas que passam nas imediações do túnel se assustam com tantas câmeras e holofotes. Afinal, são aproximadamente 250 pessoas, 25 carros parados em fila, quatro pistolas e oito metralhadoras envolvidas na gravação da seqüência que vai ao ar no primeiro capítulo da série semanal de 16 episódios. “Gosto desse tipo de cena que remete a nossa realidade. Cada vez que uma seqüência dessas vai ao ar, as pessoas param e comentam”, opina o diretor Alexandre Avancini.
A realidade a que Avancini se refere é a violência urbana, tema recorrente no cotidiano dos habitantes das grandes cidades brasileiras. Na cena gravada, um episódio violento muda da água para o vinho o destino dos dois protagonistas da história de Marcílio Moraes: a “socialite” Catarina, de Francisca Queiroz, e o ex-pára-quedista Nando, personagem de Ângelo Paes Leme. “Afinal, é nessa cena que os destinos do Nando e da Francisca se cruzam”, explica Ângelo.
E os destinos da dupla se cruzam de uma forma abrupta. Tudo porque Nando, que está fugindo do cunhado policial Romero, de Caio Junqueira, por ter assassinado o sogro – o motorista de entregas Reinaldo, de Roberto Frota –, chega ao Morro Alvorada em busca da ajuda de um velho conhecido. Lá, no entanto, acaba se envolvendo com o tráfico local e se coloca a serviço dos bandidos. Logo em uma das primeiras ações que executa – roubar carros e, com isso, ganhar a confiança do chefe do tráfico – ele se depara com Catarina, que está em um carro com o pai, o milionário Alcebíades, de Nildo Parente, e o marido Renato, de Eduardo Lago. “Acredito que a pessoa não entra para a vida sem antes sofrer uma grande dor. E é a partir da morte do pai que a Catarina reformula a vida e revê os seus valores”, adianta Francisca.
Aliás, é só depois da morte do pai que Catarina, formada em Direito, decide prestar concurso para delegada de polícia. Afinal, ela quer que o assassino do pai pague pelo que fez. Uma vez nomeada para uma delegacia das mais problemáticas da cidade, ela começa a participar de apreensões no Morro Alvorada. E, em uma incursão à favela, reconhece a foto do “dono do morro”. “É que depois de matar o chefão do tráfico, o Nando assume o controle do morro e a Catarina o reconhece na hora”, explica Francisca.
No intervalo entre uma cena e outra da seqüência, os atores tomam café para driblar o sono, mas se entusiasmam ao falar sobre seus personagens. Um dos mais empolgados é Nildo Parente – apesar de só participar do primeiro episódio do seriado. “Cena de morte é complicada de fazer, mas confio muito na direção do Avancini. Além disso, já morri em cena várias vezes”, diverte-se Nildo. Assim como ele, o ator Eduardo Lago é só elogios ao “almofadinha” Renato, papel completamente distinto do Guiga que acabara de interpretar em “Os Mutantes”. “Ele é cheio da grana, freqüentador das altas rodas da sociedade carioca, poderoso. Tem ligações com o poder em todos os seus setores. É um bon vivant”, define Eduardo.
Quem mais parece se divertir durante a gravação, contudo, é Alexandre Avancini, que é declaradamente conhecedor das cenas que envolvem violência. Afinal, ele também dirigiu “Vidas Opostas”, novela de Marcílio Moraes que focava no crime e que foi ao ar na Record em 2006. Por essas e outras, ele admite que não falta inspiração na hora de dirigir tais cenas. “Basta abrir o jornal. Em países de Primeiro Mundo, o que vivemos já seria considerado estado de sítio”, opina.
Deixe o seu comentário