Balancete anual
366 aberturas de olhos
(ano bissexto)
colhendo no velório da madrugada
nasceres de sol
e cantos de sabiás-laranjeiras
inventariando árvores nos morros
cada uma essencial ao meu dia
esta, onde uma lagarta caminha despreocupada
aquela, em que as folhas sonham
ou ainda uma não vista
escondida por outras
servindo de algo para alguma coisa
366 luares
no parto de 366 noites
como lanternas chinesas
que não-sei-quem acendesse
clarificando os passos dos gatos
e o retorno de todos os boêmios da terra
um a um
ao destino misterioso que os aguarda
Foram 366 lambidas de cão
multiplicadas por três línguas
e uma infinidade de alegrias
por afagá-los com tamanha festa
366 dúvidas
e no momento seguinte
366 certezas
As amizades semeadas
as renovadas e mesmo as secas pelo tempo
se não foram 366
deram dez vezes esse número em delícia
Ante o espelho
366 formas de olhar-me
e igual quantidade de me ver
no fim importando apenas
a unicidade de dentro
366 poemas imaginados
cinco por cento deles vestidos
com suas fantasias de letras
deixando aos homens um recado e um signo
talvez não originais
talvez pouco necessários
mas em ambos palavras de impossível contenção
na estreiteza dos lábios
Foram 366 tentativas
de justificar minha passagem
que afirmo aproveitadas
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