Notas de um moleque desocupado - 27 de dezembro

Por Daniel Frazão
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
por Jornal A Voz da Serra

É melhor construir ou destruir? Depende muito. Não é raro a destruição ser construtivista. Por outro lado, de vez em quando a construção é corrosiva. Não vá me entender ao pé da letra e achar que estou fazendo apologia de alguma espécie de filosofia louca e psicótica. Minha construção e destruição estão num plano metafísico-fisiológico-filosófico-linguístico-metalinguístico-sociologicamente abstrato e desnorteadamente retórico.

Nas artes, por exemplo. Às vezes quero ser tão afável quanto um São Francisco das letras. E outras vezes, quero explodir com tudo o que estiver no caminho; um Aleister Crowley dos parágrafos. Construção em prol da destruição e destruição para a construção. Construição. É o que quero.

Ao contrário do que muitos pensam, não é fácil construir nem destruir. São coisas extremamente difíceis. Pelo menos quando você sai do terreno seguro. Aí, é puro campo minado.

Faça como queira, mas faça rápido. A vida é curta demais para que se perca tempo com divagações textuais. Há coisas concretas e imediatas que exigem a sua presença.

Quero construição, e não essa besteira de construções vagas e destruições vazias. Não posso perder tempo com isso. Você também não.

Eis aí uma regra que faz sentido e que merece ser seguida.

– Oi, Daniel.

– Olá.

– Li o seu novo livro. É bom.

– O próximo será melhor.

– Não é o que todos dizem?

– Exatamente.

E caminhei para longe, sem saber o que acabara de falar porque minha cabeça estava imersa em planos de construção e destruição... como sempre esteve.

– Ei, Daniel!

Olhei para trás.

– Eu disse que está bom, mas não tão bom assim!

Sorri e continuei o meu caminho.

Às vezes você não está com vontade de encontrar conhecidos por aí, mas isso parece irritantemente inevitável.

Estar sozinho também é importante. Nenhum homem é uma ilha. Mas isso não quer dizer que seja uma multidão. Está aí um bom começo para uma destruição.

Construir a destruição e destruir a construção.

Isso está vago demais para mim. Vou parar por aqui; há milhares de coisas mais imediatas que precisam de mim. E provavelmente há milhares de coisas mais imediatas que também precisam de você.

O quê? Achou que eu fosse falar alguma coisa do ano-novo?

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