Palavreando - 13 de dezembro

Por Wanderson Nogueira
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
por Jornal A Voz da Serra

Guaraná Caledônia

Nostalgia. Talvez mais do que propriamente saudade, sou tomado por um sentimento de desejar algo que jamais poderei experimentar de novo. Não sei se é aquele sabor docinho que aliviava o calor após uma pelada de rua, um pique desses qualquer ou se é o somatório de todas as coisas. Minha infância foi regada a Guaraná Caledônia. Na garrafa... Porque assim sempre foi mais gostoso! Era o repositor de energia, acalmando a adrenalina de uma vida ingênua e corrida, mas nem um pouco atribulada.

Numa época em que tudo era mais difícil, mas também mais divertido. Não existia essa de tamanho família! Tudo era mais escasso, o que notadamente fazia-se valorizar mais as coisas. Quem sabe não é por isso que tudo era mais saboroso? Talvez, seja por isso que se preserve a crença de que Coca-Cola é muito mais gostosa na garrafa de 290ml. Exatamente como era o Guaraná Caledônia!

Essa infância não é infância digna daqueles tempos. Não tem pique-esconde, pique-alto, pique-bandeira, nem salada mista! Não tem pelada, escoteiro, castorzinho ou cantigas de roda. Não tem Bozo, Fliperama, Playmobil, nem Trem da Alegria. Não tem, não tem, não tem... Guaraná Caledônia!

E se pudesse, recordaria os tempos de Jaspion e Changeman; Cavalo de Fogo e Caverna do Dragão; Auto-Pista e Comandos em Ação, ao som do Balão Mágico e com Guaraná Caledônia! As lembranças me inebriam, mas me falta o Guaraná Caledônia. E não serve genérico, até porque não tomo mais refrigerante. Por teimosia própria de adulto ou por protesto intrínseco à rebeldia de quem não participou de nada parecido como as Diretas Já!

Tão da serra como eu! Da montanha como Benito! Da infância minha e de tanta gente que pôde aproveitar bem mais aquele sabor da Caledônia. E a história é contada, alimentada pelo pão com mortadela e o Guaraná Caledônia. Fácil de encontrar, onde quer que se estivesse. Isso é raiz! É exclusividade nossa! É lindo de tão simples! É gostoso de tão único!

E não venha me dizer que era muito doce. Hoje, é tudo que precisamos: a doçura de uma vida leve, descompromissada e ingênua. Aliás, o doce era o segredo e quando do segredo tiraram o doce, deixou de ser único para ser igual a todos os outros. E aquele sabor não voltou mais. E aquela química perdeu sua fórmula. E aquele tempo se esvaziou e na perturbação de um saudosista só ficaram os contos, sem pontos e sem guaraná.

Hoje, apenas personagem sem ganhar vida, ou melhor, sabor.

Se eu tivesse nascido no Maranhão, ainda teria o Guaraná Jesus para me orgulhar e relembrar meus tempos de menino. Aliás, guaraná cor-de-rosa, de sabor um tanto estranho para se comparar ao guaraná da minha terra: Guaraná Caledônia! Se fosse mais esperto, teria guardado uma garrafa daquela verde, cheia de frescor da montanha. Valeria mais do que vinho francês de 1973.

E por mais que meu desejo se transforme em necessidade, aquele tempo de Lego, colégio e rua não voltará. São lembranças que junto com aquele sabor doce jamais passarão, mas que também jamais poderei saboreá-las novamente.

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