Histórias Verídicas - 6 de dezembro

Por: Mario de Moraes
sexta-feira, 05 de dezembro de 2008
por Jornal A Voz da Serra

O MECÂNICO MILAGROSO

Zezinho Marcondez foi prefeito do município paulista de Guararema. Muito respeitado na região do Vale do Paraíba, ele continuava vivendo naquela cidade, de onde também fora vereador, negociante e fazendeiro.

Em tarde de bate-papo, Zezinho contou esta história a Manoel Hernandez, que a enviou para mim. Ela segue com alguma adaptação da minha parte, esperando que não tenha perdido o sabor original.

“Como você sabe, Mané, eu tenho uma casa em Caraguatatuba. Aqui na minha residência havia uma geladeira parada, que resolvi levar para lá. Acontece, porém, que, com a mudança, ela enguiçou. Esfriar, a bandida, esfriava, mas congelar, não. Levei dois técnicos a Caragua e eles não conseguiram consertá-la. Foi quando alguém me falou que, em Mogi das Cruzes, havia um mecânico que consertava qualquer tipo de geladeira, fosse qual fosse o defeito. Fui até Mogi e contei ao tal mecânico o que estava acontecendo. Ofereci-me para levá-lo até Caragua no meu carro, mas ele não quis fazer a viagem, alegando estar cheio de serviço. Além disso, ponderou, o conserto, com a viagem, ficaria muito dispendioso.”

– Eu tenho uma idéia melhor, disse ele.

“Quis saber qual era e o idoso técnico, falando seriamente, me informou : “O senhor volta pra Caraguatatuba, me telefona de lá e marcamos uma transmissão telepática. Através dela, fique certo, eu consertarei sua geladeira”. Pensei que ele estava me gozando e acabei até me aborrecendo. Como você sabe eu sou ateu e não acredito nessas coisas. Insisti para ele viajar comigo, mas o velho não quis e me esticou um cartão de visitas : “Aí está o meu telefone. Se aceitar minha proposta, basta me chamar. Eu conserto a sua geladeira e o senhor não vai precisar me pagar nada, basta me mandar um garrafão de vinho”.

“Passaram-se dois meses e a maldita geladeira, por mais mecânicos que eu chamasse, continuava sem congelar. Totalmente humilhado, e sem mais a quem apelar, resolvi experimentar o sobrenatural, ligando para o idoso mecânico de Mogi das Cruzes. Ele atendeu e me deu inusitadas instruções: “Hoje, sexta-feira, às 17 horas e 45 minutos em ponto, coloque um cobertor dobrado no meio da copa e deite a geladeira em cima dele. Depois, acenda duas velas: uma nos pés e outra em cima do refrigerador. Passados 15 minutos, reze três ave-marias e três padre-nossos. Findas as rezas, levante novamente a geladeira. Aí pode ligá-la, que ela voltará a funcionar normalmente. Mas lembre-se, pois isso é muito importante: 17 horas e 45 minutos em ponto, pois nessa mesma hora eu também estarei rezando aqui em Mogi das Cruzes”. Embora me sentindo o mais perfeito idiota, fiz exatamente como ele mandara. E quando liguei a geladeira, para meu total espanto, ela voltou a funcionar como antes.”

“Minha esposa deu-me uma espinafração: “Está vendo, seu descrente, como os espíritos superiores podem nos ajudar?!.” Comentei o fato com alguns amigos e eles me informaram que o aparente fenômeno já funcionara outras vezes.

Tempos depois, passando por Mogi das Cruzes, fui entregar o garrafão de vinho ao “milagroso” mecânico. E ele, rindo bastante, informou que tudo não passara de uma brincadeira, explicando tecnicamente o que acontecera: “Quase sempre dá certo. Acontece que as geladeiras como a sua trabalham com amoníaco. Quando elas ficam algum tempo desligadas, o amoníaco concentra-se na parte de baixo do refrigerador. Ao deitar a geladeira, o amoníaco se espalha e o aparelho volta a produzir gelo. Esse foi o “milagre”.

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