palavreando - 01-11-08

sexta-feira, 31 de outubro de 2008
por Jornal A Voz da Serra

Um adeus definitivo

O melhor abraço que recebi foi no sonho em que você voltava de não sei onde pra me dizer que as pessoas se abraçam para falar umas as outras que se amam. Foi o abraço de despedida de um adeus definitivo... Talvez, por isso tão significativo, por ser o último e eu ter consciência de que aquele era também o último “eu te amo”!

A vida é muito pouco explorada por todos nós. A vida é um oceano de possibilidades, mas evitamos nos aprofundar além do espelho d água. Acreditamos ter nas mãos o sentido de tudo, mas na verdade evitamos sentir além do que podemos entender ou suportar. A jornada não é para ser entendida ou explicada, apenas aproveitada. Mas o “apenas” é execrado de nosso vocabulário diário. Tentando teorizar a tudo e a todos perdemos muito tempo e quando percebemos a jornada acabou... Aquele abraço se foi... O belo sorriso de um rosto tão querido se esfacelou...

Amigos, eu trago a triste notícia, não tão nova como as da capa do jornal de amanhã: a vida passa, o tempo voa, pessoas vão e um dia também iremos. Um conselho: só não espere o último sopro vir para descobrir, só não espere um adeus definitivo chegar para abraçar a quem se ama e em outras palavras dizer sem nada falar “eu te amo”!

Eu não sei o final da história até porque nem sei quando acaba a história, mas nesse mundo que dividimos agora, nascemos, crescemos e morremos. É assim para todos os habitantes desse lugar. A maior dádiva e crueldade dessa linha que podemos intitular de tempo é que nascer e crescer é fácil de estipular, mas nunca se pode apontar quando partimos até propriamente partir. Não há hora marcada, nem jeito de prolongar, há apenas esperança de ficar um pouquinho mais. Mas também não é fácil ficar.

Ao longo da luta, nos tornamos guerreiros cada vez mais sozinhos e menos armados. Caem os escudos e armaduras, fica a saudade que a cada instante entorpece mais. Saudade de companheiros de batalhas e trincheiras. Saudade de quem muito cedo partiu e também de quem muito tempo ficou. Vontade de ir junto, às vezes indignado, com o choro engasgado, mas sábio sabendo esperar o tempo, a missão, a ordem natural e a fúria dessa loucura que é ter que dizer adeus, mesmo que quem parta talvez jamais possa de fato escutar.

erder alguém não é como perder o emprego, a carteira ou o trem. Sempre sobra a espera e a esperança. Perder alguém é definitivo. É saber que você entrará na sala e aquele espaço estará vazio. É subir as escadas e perceber que nunca mais ouvirá aquela voz. É procurar na multidão e entre tantas faces não poder mais encontrar aquele rosto nem hoje, nem amanhã, nem depois de amanhã... É abrir a janela e entender que o sol retorna sempre horas após a lua, mas aqueles passos não retornarão nunca mais. A história acaba, o livro fecha e não há chance de um novo capítulo. Não há como escrever um final desejado, somos personagens e raramente assumimos a função de escritor, afinal geralmente nos esquivamos de acumular funções. Ficam então as fotografias, as lembranças e também a dor de não ter tido a chance de dizer últimas palavras. A gente nunca tem certeza de quais serão as últimas palavras. Se soubéssemos, certamente escolheríamos melhor, escolheríamos com o cuidado de um poeta, com a habilidade de um pintor ou simplesmente com o coração de um amigo.

Mas no sonho que tive – você voltou. Você me disse: “as pessoas se abraçam para dizer umas as outras que se amam”. Mesmo que eu não tenha te dado um último abraço. O adeus definitivo já tinha vindo. Guardei na minha caixinha de tesouros seu último sorriso, a última imagem fotografada por meu coração. Aprendi no desejo de ter uma nova chance que não se pode despedir das pessoas que se ama sem um abraço. Pode ser o último “eu te amo”! O adeus definitivo virá. Mas nunca se sabe quando...

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