Palavreando - Refúgio

Por Wanderson Nogueira
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
por Jornal A Voz da Serra

O que eu mais queria agora é o colo de minha mãe. Sem dizer nada, nenhuma palavra, ela me entenderia.

Mas esta noite está vazia, repleta de mentiras. Quando confiamos em alguém, entregamos a nossa alma. Não choro porque minha alma foi lesada, mas choro porque minha confiança foi traída.

Hoje, pelo menos nessa noite, quero ficar sozinho. Eu e as sombras das paredes do meu quarto com meu velho toca-fitas cuspindo músicas tristes. Nunca minhas sombras foram tão gigantescas. Nunca compreendi tanto como nesse momento as músicas tristes... a dor escondida em cada nota entrelaçada a solos de esperança. Pois, a esperança se evidencia na dor ao almejar manhãs menos infelizes.

Sombrias minhas sombras me engolem. Tristes minhas músicas me atropelam. Ferida minha alma sangra e clama por verdade. Não quero os "achismos", procuro a sinceridade. Tal sinceridade que me dou e revelo a mim mesmo. Mas se nesse rodo cotidiano a sinceridade me escapole, foge, se esconde ou simplesmente não existe, fico sozinho comigo mesmo abraçado a verdade que tenho certeza que reside nessa relação tão solitária, ainda que doída. Eu queria o mundo! Mas agora o mundo é ficar sozinho?

Eu, logo eu, que amo estar entre as pessoas e abomino ficar só, quero agora ficar sozinho. Todos nós precisamos de um instante de conversa consigo mesmo. E o silêncio é o melhor papo nessas horas de melancolia. É desafiador descobrir-se. Pode ser assustador encontrar-se consigo mesmo.

Não admito a infidelidade e nada me fere mais que a mentira.

Então, já não prendo o choro. Ele quer sair, como as espinhas que saltam do rosto do adolescente. Sem vergonha, o meu choro não quer estancar, ele quer vir a público, gritando, lamentando, eclodindo... Queria poder fugir, mas sem refúgio tento imaginar um lugar diferente sob este cinzento lar.

Magoado, envelheço 10 anos em 1 segundo. Não há nada mais arrebatador do que a mágoa de um dramático. Não há nada mais doloroso do que a derrota de um exagerado.

Perco a fé e o chão some debaixo de meus pés. Com os sonhos consumidos, sem asas não posso voar. Tento reencontrá-las, mas sem a verdade que em outros olhos se ocultam, elas não saem e de joelhos caio na imensidão vazia, repleta de cacos de mentiras que me cortam em minúsculos pedaços que jamais se juntarão.

Até uma criança sabe: a ferida pode ser curada, mas a cicatriz fica para sempre.

Para sobreviver, na multidão intrépida, busco um pouco de verdade. Dia-a-dia, caço a mesma fidelidade que dôo. Um dia, nela esbarro e quem sabe de novo possa acreditar. Minha alma só não quer sangrar novamente. Eu não suportaria... Geralmente, os que amam não suportam, apesar de serem os que mais conhecem a dor. As mães entendem. Elas sempre emprestam refúgio.

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