Palavreando - Num próximo papel

Por Wanderson Nogueira
sexta-feira, 08 de agosto de 2008
por Jornal A Voz da Serra

Sinceramente, eu não sei o que está acontecendo comigo. Tudo parece tão estranho. Tudo está tão vazio. Sem sentido. Não perdi o rumo. O rumo é que paralisou sobre os meus pés. Não sou feliz, nem triste. Apenas estou indiferente a mim mesmo e a tudo. E já disse antes: não há nada mais letal do que a indiferença.

Estou cansado. E me dói dizer que férias não vão me curar. Fugir não dá. Por mais longe que eu vá, ainda assim me acompanharia um coração perturbado, dramático, silenciosamente apertado.

A luz que serviria para me iluminar não me deixa ver. A voz que me guiaria a algum lugar pede para que eu pare por este instante. Não estou acostumado a parar. Minha hiperatividade não permite. Livre, me prendo. Solto, me sufoco. Automutilação. Réu, me entrego e dispenso o direito da defesa.

O papel, sempre ele, meu bom ouvinte. Despejo nele meus segredos mais íntimos. Meu psicólogo, meu refúgio. Calado, aceita tudo que nele jogo. Nada cospe. Nada julga. Mas nada também aconselha. Às vezes, gostaria que ele dissesse algo... Mas o papel sabe o quanto eu vivo o momento ao extremo. Ou sou quente ou sou frio, nunca morno. “O seu problema é que você é sempre 8 ou 80”, me diz um amigo meu que não é o papel, portanto, fala, aconselha. E assim, na multidão me sinto só. E odeio ficar sozinho.

Quem nunca parou para pensar e chegou à conclusão que talvez estivesse errado? Esse é o tal momento crucial de uma vida. Você vê sua história, vê as coisas e as pessoas ao seu redor. Não compreende por incompreendido ser. Mesmo que no seu âmago, na confissão de suas entranhas entenda que age com correção, ainda assim parece estar errado.

Quando amar parece ser um erro, eu não sei... eu que estou errado ou o amor é que é uma catástrofe? Se amar é sofrimento, não sei se amar é bom. Mas amar sempre faz bem a quem ama, mais do que a quem se ama. Até o ponto em que amar vira castigo, dar murro em ponta de faca. Há quem olhe só para o seu próprio umbigo.

Mas recuso-me a ser individualista. Destrói-me ter que seguir os outros... esses que só olham para o seu próprio umbigo. Não posso. Não quero. Mas o mundo assim quer e contra o mundo eu luto! Não entendem. “Tende piedade deles. Eles não sabem o que fazem!” Nunca a frase de Cristo foi tão atual! Será que sei o que faço?

Ainda assim, tenho esperança. Se não, louco estaria! Incrédulo, partiria. Idealista, sonho! Mas mudar as pessoas, não posso e não consigo. É... talvez não me permita. Posso abrir caminhos, mas só quem quer caminha. Tem gente que não sabe ser amada. Tem gente que não ama. Não sei se esse mundo nasceu para o amor. Talvez eu precise redescobrir a minha paixão ingênua e infantil. Quem sabe ela não ressurja para mim daqui a alguns minutos, num próximo papel abarrotado com minhas confissões exageradas, sangradas, ainda que poéticas. Num outro papel, num próximo papel... Menos estranho, menos torturado, mais doce e mais otimista. Quem sabe? Num próximo papel...

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