O aprendiz de feiticeiras

Mario Valdanini se rende ao inevitável poder feminino
sexta-feira, 01 de agosto de 2008
por Jornal A Voz da Serra
O aprendiz de feiticeiras
O aprendiz de feiticeiras

Um olhar que passeie pelas obras de Mario Valdanini encontrará sempre a presença de mulheres marcando momentos da sua existência humana e refletindo-se na sua trajetória artística.

Dona Isa, a senhora que cruzava ruas como a Augusto Spinelli e a Farinha Filho traçando arabescos imaginários no ar com sua vara de condão; Sileda, com sua bicicleta voadora e seus cães, fiéis como guardiões de castelo; e Sirley, andarilha entre os bairros Caledônia e Olaria, juntando coisas em seu carrinho mágico, já se transformaram em pinturas e gravuras que as mãos do artista não conseguiram evitar. Musas poderosas, à procura da sensibilidade que nelas achasse e recompusesse o sentido poético dissolvido.

Outras mulheres, no entanto, tão magas quanto aquelas, povoam a vida do artista. A companheira entregue ao ofício de amar e proteger os animais, a mãe hoje transfeita em avó com seus trabalhos manuais, a amiga e sua arte delicada de criar recriando, a professora que foi seu mais longínquo objeto de paixão e desejo, a ex-namorada a fazer o universo girar no compasso da sua dança, a parteira com um nome curioso que ele metamorfoseou como num conto de Kafka – todas seduzindo-o de modo especial, tornando a arte de Mario inescapável ao domínio de suas personalidades singulares.

Nada restou ao artista senão se render ao soberano apelo feminino a sua volta, e o resultado desta experiência, impressa sobre o papelão com pastel oleoso, poderá ser conhecido na mostra Mulheres que ensinam, de 6 a 28 de agosto, no Centro de Arte (Praça Getúlio Vargas 71, Centro). Lá estará o artista plástico de renome, dispensando apresentações; porém, muito mais estará o aprendiz, pronto a saber o que as mulheres do seu convívio têm a lhe dizer e ensinar. Feiticeiramente.

“Em todos os momentos de minha vida há uma mulher que me leva pela mão nas trevas de uma realidade que as mulheres conhecem melhor que os homens e nas quais se orientam melhor. Isso acabou por se transformar num sentimento que é quase uma superstição: sinto que nada de ruim pode me acontecer quando estou entre mulheres.”

Gabriel García Márquez (no verso do convite para a exposição)

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