Toda estação tem a sua poesia, seu valor e apreço, sua canção. Sua forma de ser vista e seu jeito de chamar a atenção. A primavera com as flores, o verão com o calor, o outono com as frutas e o inverno... Bem... E o inverno com... O frio.
Podem dizer o que quiserem, mas o inverno é lindo. Pode ser difícil levantar de manhã, mas pra fora dos quartos abarrotados de cobertores, há dias simplesmente magníficos. Talvez, por essa razão, os dias de inverno sejam os mais lindos do ano, afinal, precisamos de uma motivação extra pra vencer a preguiça. No alto, um sol reinando soberano, no imenso azul, sem nuvens intrometidas. Sol que brilha intenso sem castigar, pelo contrário, serve de refúgio para aquecer. Os fins de tarde são exuberantes. A transição entre os dois apaixonados é pra se imitar. O sol se despede e sem inveja dá lugar à lua. Antes, é claro, os dois tem seu pequeno momento de sair em público juntos, como o casal que se orgulha de seu par perfeito, mas que reconhece a impossibilidade de seu amor. O friozinho vai caindo sutilmente como o véu que escapa do sereno rosto da donzela que com requinte invejável toma seu lugar com esmero. E as noites... Estreladas. Dando à lua a oportunidade de se mostrar como a bela que tímida sai de casa para passear entre as luzes, seus pequenos refletores que agigantam a sua nobreza insuperável.
O inverno é romântico. É essa natureza escancarada que sem vergonha alguma chega para arrepiar e se mostrar abertamente nesse imenso palco, de preferência emoldurado pelas montanhas da serra. Mas acima de tudo, nos lembra que não estamos sozinhos e que não é possível viver só. Por mais que casacos e cobertores nos aqueçam, nada esquenta mais que o calor humano. Calor humano do amor dos enamorados, dos corpos entrelaçados, mas também do espírito de solidariedade para com os necessitados.
Se a moda faz as pessoas se vestirem com elegância ou a culinária serve na mesa deliciosos pratos próprios da estação, o inverno veste nossa alma de boa perturbação para não permitir que o frio seja mal para com nossos irmãos. O inverno alimenta nosso olhar para que na boca do outro não falte o pão. É a estação mais humanitária de todas. Por isso, linda também.
Cinza? Não! O inverno é rosa. Fria? Não! O inverno é quente. Preguiçosa? Sim! Afinal, a beleza dos dias lá fora pode ser vista da janela. Mas não desanime. Fique em casa, sim, vendo programa de receitas ou sessão da tarde, lendo livros, mas não deixe de sair. Se espreguiçar na calçada, correr pelas trilhas, prestigiar essa beleza que não cabe em si. Contar estrelas, e não há época melhor para isso. Soltar fumacinha pela boca e criar mil competições. Ter o nariz gelado, mas respirar com a alma aquecida por presenciar dias que acabam quando termina a estação, mas que abrem caminho para o colorido da primavera, o brilho do verão, o resplendor do outono... A poesia, o valor e apreço, a canção de cada nova temporada, de cada nova estação.
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