Notas de um moleque desocupado - 12 de julho

Por Daniel Frazão
sexta-feira, 11 de julho de 2008
por Jornal A Voz da Serra

Não gosto de esportes. Nunca gostei. Não gosto de praticar, nem de assistir, nem de torcer. Só não sou sedentário porque caminho muito. Mas não falo dessas caminhadas ecológicas e dominicais que chamam de “atividade física”. Caminho no dia-a-dia, andando pra lá e pra cá. Quando vou ao centro da cidade, volta e meia vou e volto a pé. Algumas vezes, para economizar dinheiro. Na maioria das vezes, só de onda. Isso faz com que eu tenha uma boa constituição física. Mas esporte mesmo, acho um porre. Assisto a um jogo ou outro na Copa do Mundo e olhe lá. Só para ter o que falar. Só para ter o que escrever no caso de me dar um branco. Quanto aos outros esportes, pouco tenho a dizer.

Futebol nunca fez parte dos meus pensamentos. Nunca teve espaço no meu coração. E em nenhum outro lugar. Nas poucas vezes em que joguei, foi de pura palhaçada, jamais levei a sério. Não sou desses que acompanham tabelas e que se prostram diante da tevê para assistir a esses campeonatos intermináveis. Parece que sempre é temporada de alguma coisa. Nesse ponto, divergimos. Você provavelmente gosta de um joguinho aos domingos. Na verdade, não gosto de nada aos domingos. É um dia que não merece comentários.

Pode parecer radicalismo, mas não consigo me identificar com esses jogadores multimilionários que no máximo fazem gols. Neguinho se orgulha como se esses caras fossem eles próprios. E quando algum jogador faz alguma merda por aí, as pessoas se desesperam e tentam justificar o sujeito de todas as maneiras, como se fossem elas que precisassem se explicar. Não vejo sentido nisso.

E não pense que me identifico dessa maneira voyeur com as pessoas que admiro. Você deve estar falando “tá, mas se for com algum dos seus escritores queridinhos, você também vai tentar justificá-lo”. Não é assim. Hemingway estourou os miolos. Se você vier com esse papo pra cima de mim, o que digo é que Hemingway estourou os miolos; e aí, quer que eu faça o quê? No fim da vida Elvis estava gordo e cheio de barbitúricos e sanduíches de pasta de amendoim. E onde entro nessa história?

É mais fácil se ocupar com a vida alheia que com sua própria vida. E o esporte é a maneira mais fácil de fazer isso. Mas não vamos entrar nesse mérito porque não tenho nada contra o esporte como conceito geral; apenas não gosto, particularmente falando.

Mas uma coisa é certa: que o esporte é utilizado como uma tremenda anestesia social, isso é. Pra que educação? Pra que ler, instruir-se, pensar por si mesmo, descobrir coisas novas, ter vivências e cultivar opiniões próprias quando se têm campeonatos intermináveis na tevê todos os domingos? Pra que pagar um bom salário ao professor? O que é a construção cultural e educacional comparada a um gol de fim de semana? Paguemos salários, não bons, mas astronômicos, aos times de futebol. Assim, tudo permanece assim. Afinal, futebol é a alegria do povo. E quer coisa melhor que manter o povo alegrinho, alegrinho?

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