Jonas todo mundo sabe quem foi. Ou deveria saber. Se não sabe, eu informo que foi aquele sujeito que bobeou e terminou na barriga de uma baleia. Há quem diga que tudo isso não passa de balela e que ninguém poderia sobreviver a tal experiência. Os entendidos vão mais longe e explicam:
– Se o fato realmente aconteceu, Jonas não foi engolido por uma baleia, mas por um cachalote. E isto porque a baleia possui um pequeno esôfago, protegido por palhetas que o tornam ainda mais estreito.
Por essa razão, a baleia alimenta-se apenas de camarões e de outros pequenos animais, além de alguns quilos de plâncton (organismos que flutuam passivamente, sendo arrastados pelos movimentos das águas). O pobre Jonas, portanto, não desceria pela goela do grande cetáceo.
Acontece, porém, que a história registra um caso semelhante, este muito bem comprovado. Foi protagonista do mesmo um marinheiro, que também foi papado por uma baleia, saindo intacto de dentro dela.
O relatório encontra-se nos arquivos do Almirantado Britânico e fala num certo James Bartley e sua assombrosa história.
Com a fama de bom marinheiro, James tinha 2l anos de idade quando embarcou num baleeiro denominado Star of the East. Isto aconteceu no início do ano de 189l. Esta seria, para o nosso herói, sua primeira viagem num barco daquele tipo – destinado à caça da baleia – e, embora ele ainda não o soubesse, também a última.
Ao largo das Ilhas Malouines, no Atlântico, o vigia avistou uma baleia e deu o alarme. Imediatamente foi arriada uma chalupa, com sua tripulação, da qual fazia parte James Bartley. Ao chegarem perto do monstro marinho, conseguiram cravar-lhe um arpão e ele saiu nadando desesperado, esticando a corda ao máximo. Depois, mergulhou, tentando levar com ele a pequena barca, que balançava como louca nas águas revoltas.
Os tripulantes ficaram aguardando ansiosos a volta da baleia à tona, a fim de, remando vigorosamente, acompanharem a sua louca corrida mar afora. Verificou-se, porém, um fato inesperado. O corpulento cetáceo subiu bem por baixo da chalupa, reduzindo-a, com violenta rabanada, a um monte de pedaços de pau. Um outro barco, que fora colocado na água, recolheu os sobreviventes. Ao contarem os tripulantes da primeira chalupa, verificaram que faltavam dois deles. Um deles era James Bartley...
A bordo do Star of the East eles lamentaram a perda dos companheiros, mas ficaram na espreita, pois amigos, amigos, negócios à parte. A baleia arpoada, eles sabiam bem, não iria muito longe. E isso realmente aconteceu. Um pouco antes do pôr-do-sol, ela voltou à superfície, bem junto ao baleeiro. Estava morta!
Naquela época não havia possibilidade de içar-se o animal para bordo, como é feito hoje em dia, nos imensos barcos que executam esse triste serviço. Simplesmente encostavam-no ao casco do navio e começavam a sua tarefa, subindo em cima da própria baleia, que era feita em postas.
Esse trabalho era dos mais perigosos, pois os tubarões, atraídos pelo sangue do animal esquartejado, ficavam rondando por perto e ai daquele que caísse na água. Pouco antes da meia-noite, os cortadores, trabalhando à luz de archotes, haviam separado o estômago e o fígado da baleia, que foram içados a bordo. Foi quando, cheios de espanto, notaram que algo se mexia no interior do estômago do animal. Com bastante dificuldade cortaram a espessa membrana daquele órgão e viram surgir, do buraco aberto, um pé calçado.
Em alguns segundos, sem querer acreditar no que estava sucedendo, tinham retirado James Bartley de dentro do estômago da baleia. Ele estava inconsciente... mas vivo! O médico de bordo o estendeu no convés, lavando-o cuidadosamente com água salgada. Aos poucos o marinheiro foi voltando a si, embora parecendo ter ficado louco, pois se debatia como um insano. Ataram-no a um beliche, na cabine do capitão, onde James permaneceu por 15 dias em delírio, parecendo não escapar com vida. Por fim, foi ficando mais calmo, embora não pronunciasse uma só palavra. E assim levou um mês.
Para que não fossem tomados por mentirosos, o médico do Star of te East fez um relatório pormenorizado de tudo o que havia acontecido, pedindo ao capitão e aos marinheiros que o assinassem como testemunhas.
Finalmente, James Bartley voltou à normalidade. E pôde contar que, quando a chalupa foi arrebentada pela baleia, ele fora projetado no ar e, ao cair, vira a enorme garganta aberta a seus pés. Foi engolido e depois arrastado através de um tubo viscoso. Tinha lembrança de ter lutado bastante e da dificuldade que encontrara para respirar. Depois, desmaiara, só voltando a acordar um mês mais tarde, na cabine do capitão.
Na verdade, James Bartley vivera l5 horas no ventre de uma baleia. Quando saíra de dentro dela, não tinha mais nenhum pelo no corpo e sua pele havia adquirido uma cor esbranquiçada.
De volta à Inglaterra, o jovem marinheiro foi minuciosamente examinado por uma competente junta médica.
Terminou ficando quase cego, depois de abandonar a sua profissão e adquirir uma nova, a de sapateiro, em Gloucester, sua cidade natal.
James Bartley morreu l8 anos mais tarde e em seu túmulo pode-se ler a seguinte inscrição:
“Aqui repousa James Bartley, l870-l909, Jonas moderno, que viveu quase um dia no ventre de uma baleia”.
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