Esta conta fato heróico, acontecido durante a Guerra do Paraguai.
Há vários dias aquele soldado brasileiro, cansado, faminto e perdido vinha sendo perseguido por uma patrulha inimiga. Já conseguira livrar-se de outras patrulhas, mas esta, que agora estava no seu encalço, parecia prestes a capturá-lo. Foi quando deu com um rio à sua frente. Se pudesse atravessá-lo e alcançar a margem oposta, talvez conseguisse despistar os paraguaios.
Mas, mesmo que soubesse nadar – o que não era o seu caso –, estava muito fraco para fazê-lo. Foi quando deu com um velho, sentado junto a uma árvore. De início temeu que fosse um paraguaio, pois estava bem próximo da fronteira. Mas o ancião, falando em português, explicou que era lavrador e morava ali perto.
O soldado, mais calmo, informou-lhe que precisava alcançar um certo batalhão brasileiro, para o qual levava importante mensagem. Antes, entretanto, teria que livrar-se daqueles que o perseguiam e estavam bem próximos.
– Eu sei que existem tropas brasileiras do outro lado do rio – informou o velho. – E não estão muito distantes.
– Mas eu não sei nadar, senhor... – queixou-se o soldado.
Vendo o desespero do rapaz, o velho acalmou-o:
– Não importa. Este rio, se você atravessá-lo em linha reta, tomando esta árvore como rumo, dá pé até o lado de lá. Pode ir sossegado, e que Deus o acompanhe. Eu conheço estas águas como a palma da minha mão, pois cresci entre as suas margens.
O soldado acreditou nas palavras do lavrador e, antes de entrar na água, aconselhou-o:
– Acho bom o senhor esconder-se. Os paraguaios vêm aí atrás e poderão castigá-lo, se souberem que me ajudou.
– Não se preocupe comigo, meu rapaz, que eu sei me cuidar.
O soldado meteu-se rio adentro e foi caminhando, nos lugares mais fundos com água pelos ombros, mas alcançou a outra margem, de onde acenou agradecido para o velho compatriota.
E o ancião já ia se afastando do local, quando a patrulha paraguaia apareceu. O oficial que vinha no comando foi logo perguntando:
– Escute aqui, velhote, você viu passar um soldado brasileiro por aqui? Vamos, responda, antes que eu mande lhe dar algumas chibatadas!
O velho não se abalou, pois já estava preparado para uma situação como aquela. E respondeu calmamente:
– Ah! Vi, sim. Ele ficou com medo de atravessar o rio a nado e fugiu pela margem, naquela direção...
O oficial paraguaio, porém, não se conformou com essa resposta e, achando que o lavrador estava mentindo, apontou-lhe a garrucha e fez uma ameaça:
– Se estiver protegendo seu compatriota, vou estourar-lhe os miolos! Você garante que o soldado brasileiro não atravessou o rio?
– Garanto – respondeu o ancião, pois eu o informei que o rio é muito profundo e suas águas bem traiçoeiras. Alguns já morreram afogados por aqui. Eu conheço este rio muito bem...
– Quer dizer, velho, que ele não dá pé?
– Isso mesmo.
Foi quando o oficial paraguaio resolveu verificar, de uma vez por todas, se o velho estava dizendo a verdade:
– Pois eu acho que você está mentindo. E quer saber como vou provar isso? Entre na água, velhote, e vá caminhando para a outra margem até onde puder!
O lavrador olhou o oficial paraguaio com firmeza e, de cabeça altiva, entrou no rio. E os soldados inimigos viram-no ir afundando aos poucos, até desaparecer completamente na metade do rio, seu corpo sendo levado pela correnteza.
O valente deixara-se afogar, para dar tempo ao soldado brasileiro de alcançar suas tropas. E tornara-se mais um herói anônimo da Guerra do Paraguai, por muito poucos conhecido...
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