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Família de atleta revelação do Inec mostra que aptidões esportivas vêm de berço
sexta-feira, 13 de junho de 2008
por Jornal A Voz da Serra

Gabriela da Silva Mota, de 7 anos, é uma aluna que tem se destacado no Instituto de Esportes e Cultura de Nova Friburgo (Inec). Há um ano e meio fazendo aulas no instituto, ela já está sendo considerada pela coordenadora do Inec, Silvana Schwartz Noel, um talento nato. Tanto que a menina, que teria dificuldades para se manter no projeto pagando pelas aulas, recebeu bolsa integral para continuar treinando. “Ela não paga nada e faz aulas todos os dias. Eu a considero um talento descoberto e revelado pelo Inec”, declara Silvana sobre Gabriela, que, apesar da pouca idade, já está na equipe principal da Equipe Silvana Gym.

Fundada como uma organização não-governamental (Ong), o Inec tem como objetivo atender a crianças, adolescentes e jovens carentes, dando-lhes uma nova perspectiva de vida, além de promover a inclusão social e descobrir novos talentos no esporte. Para isso, o instituto atua com diversas atividades em todas as modalidades de ginástica, como a artística, a geral, a acrobática, a aeróbica e a olímpica, além de balé, capoeira, folclore e dança, conhecimentos que são usados como aprimoramento técnico.

Além disso, a escolinha de ginástica é a base da Equipe Silvana Gym, grupo conhecido e respeitado no Brasil e exterior. Silvana Gym representou o país quando participou dos shows de abertura e encerramento da final do último mundial de ginástica artística, em dezembro do ano passado, na Áustria. A equipe também é freqüentemente convidada pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) para se apresentar na abertura e intervalos técnicos dos jogos da seleção masculina de vôlei.

Segundo a padeira Maria Inêz da Silva, mãe de Gabriela, a filha melhorou muito o comportamento depois que passou a treinar no Inec. “Ela aprendeu a ter compromisso e, principalmente, ganhou segurança. Era uma criança muito problemática, chegou a ter depressão infantil, devido a uma perda que tivemos na família, mas agora é outra criança. Desde pequena ela sempre gostou de ficar virando cambalhotas, então fiquei sabendo do trabalho realizado pela Ong e resolvi inscrevê-la. Conversei com a Silvana, preenchi todas as fichas necessárias, pedi a isenção da mensalidade, pois senão ela não poderia treinar, e graças a Deus eles aprovaram minha filha”, conta.

A mãe de Gabriela estava mais do que certa quando a inscreveu no Inec. Afinal, ela tem um outro filho atleta. “Meu filho Dionattan da Silva Medeiros, de 16 anos, também é outro destaque, só que no futebol. Já passou pela escolinha juvenil do Friburguense, do Fluminense, do Vasco e agora está no Clube de Futebol do Zico, CFZ. Com isso, gasto muito com ele. Invisto boa parte do que ganho para arcar com as despesas de pousada e passagens dele. Como crio as crianças sozinha, se não fosse a bolsa que minha filha recebe, não conseguiria manter os dois praticando os esportes que tanto gostam”, diz, orgulhosa dos rebentos. Dionattan já é federado na categoria juvenil pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

O único medo que Maria Inêz confessa ter é dos filhos terem que ir para longe dela. “Sei que a tendência é eles cuidarem da vida e pode ser que quanto mais eles cresçam no esporte, mais tenham que ir para longe. Isso me preocupa, mas meu orgulho é maior que o meu medo. E se minha filha for para alguma equipe fora de Friburgo, vou atrás dela”, revela a padeira, que todos os dias busca Gabriela no Inec. “Ela ainda é muito nova, não dá para deixá-la voltar sozinha. Às segundas e quartas, por exemplo, ela treina até as 21h”, revela a zelosa mãe, que mora e trabalha em Cascatinha, enquanto a sede do Inec fica em Olaria. “É uma verdadeira jogada que faço. Às vezes, pego mais cedo no trabalho para sair a tempo de buscá-la; outras vezes, saio para buscá-la e volto para o trabalho depois de apanhá-la, para terminar de cumprir minha carga horária, enfim, me sacrifico para investir no talento da minha filha. Acho que vale a pena, pois o que mais quero é vê-la feliz e realizada, mostrando todo o talento que tem”, conclui Maria Inêz.

Inec incentiva adoção e apadrinhamento para manter o sonho de crianças carentes

Para se inscrever no Inec, os pais ou responsáveis – no caso de ser criança ou adolescente – ou os maiores de 18 anos devem preencher uma ficha de cadastro e comparecer para um teste de avaliação na data marcada pelo instituto. Pessoas que não tenham condições de pagar a mensalidade precisam passar por uma avaliação socioeconômica feita pela direção do instituto. Para conseguir a bolsa, o resultado da avaliação das habilidades físicas também conta. O Inec tem 15 turmas e cada uma possui no máximo 15 alunos. Não existe limite de idade e hoje o instituto tem alunos de até 30 anos.

Segundo Silvana, no Brasil ainda existe resistência dos meninos para a prática de ginástica, mas esta barreira está caindo. “Graças a exemplos como Diego Hipólito, os garotos também estão sendo incentivados a ingressar na prática de ginástica. Por isso tivemos até que abrir turmas masculinas só para treiná-los, pois, além do treinamento ser diferente, eles também se sentem mais à vontade. Mesmo assim, ainda existem turmas mistas no Inec”, esclarece a coordenadora.

O instituto tem parceria com uma universidade da cidade que cede três bolsas integrais para a Ong todos os semestres. Com isso, o Inec investe na formação dos funcionários repassando essas bolsas para eles. Além de órgãos de apoio ao desenvolvimento do esporte, uma sociedade filantrópica e empresas friburguenses apóiam e contribuem financeiramente para a continuidade do trabalho do Inec. Além deles, são fundamentais para o trabalho do instituto as pessoas que adotam ou apadrinham crianças e ajudam com o pagamento das mensalidades.

Na Ong são aceitas crianças a partir de três anos. No universo de 255 alunos do Inec, 195 são bolsistas (sendo 105 integrais e 90 parciais) e 60 contribuintes, mas pagando um valor bem abaixo das academias convencionais de ginástica. Na escolinha de ginástica artística crianças a partir de 3 anos têm aulas duas vezes por semana. Já as turmas intermediárias têm quatro aulas semanais. A equipe principal treina 17 horas por semana, de segunda a sábado. O Inec tem aulas de segunda a sexta, das 8h às 21h; e no sábado, das 8h às 14h.

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