Num tempo bem distante do atual, onde as avenidas e grandes centros urbanos guardam arranha-céus, cada qual maior que o outro e arquitetonicamente mais ousado, resistem, ainda em grande quantidade, as casas de pau-a-pique. Inicialmente armadas em madeira, com paus roliços ou taquara jatevoca e ripas, as casinhas eram amarradas com cipós. Depois, toda manual, surgiu à semelhança de uma grande gaiola. E se colocavam não só as mãos na massa, como também os pés, pois o preparo do barro misturado com outros produtos, tais como sangue e o estrume de gado, fibras vegetais e água eram socados com os pés ou pilão, até se obter uma firme compactação. Depois da massa pronta eram necessárias duas pessoas para construir a casa; em lados opostos, ambas atiravam o barro ao mesmo tempo contra a estrutura de madeira e, assim, manualmente, iam se formando as paredes da casa. Este processo também ficou muito conhecido como sopapo.
Para proteger do sol, da chuva e do vento o telhado era formado por uma palha retirada de uma árvore denominada sapê. Conta a história que toda esta arquitetura foi iniciada pelos mineiros no período do Ciclo do Ouro, no século 18.
Conforme os anos se passaram, o barro foi se desgastando e logo surgiram buracos pelas paredes da casa, que passavam a servir de janelas, por onde se podia espiar quem se aproximava. O fogão a lenha era parte peculiar nestas singelas residências e servia ainda como lareira, para aquecer o ambiente, espantando a friagem que adentrava pelas frestas onde o barro desabara. Luxo não havia e os moradores dessas simples casinhas viviam humildemente, colhendo o que plantavam pelo terreiro e se alimentando de porquinhos e dos ovos das próprias galinhas.
Hoje em dia encontrar uma casa de pau-a-pique é quase como buscar um tesouro perdido, pois a modernidade abriu as portas e trouxe consigo o consumo desenfreado e inquestionável que comanda grande parte da população, que costuma descartar sem pensar tudo o que é antigo. Em Nova Friburgo ainda é possível encontrar essas arquiteturas artesanais, mesmo que as casinhas já estejam desabitadas ou sirvam apenas para guardar utensílios. Mesmo sendo uma região com pacatas características de interior, é preciso se deslocar até áreas menos urbanizadas, como Lumiar, São Pedro da Serra, Vargem Alta, entre outras, para localizar casas de pau-a-pique.
Talvez o leitor mais novo nunca tenha notado um casebre desses por aí, mas, certamente, seus ascendentes devem ter visto muitos deles na juventude e quem sabe até tenham residido numa pequena e acolhedora casinha de barro, no tempo em que a tranqüilidade habitava os pensamentos, a natureza se fazia abundante em qualquer direção, o rádio de válvula era artigo inseparável, com a luz de lamparina iluminando a noite e marias-fumaças apitando pelos trilhos que cortavam os montes...
Parece história de ficção? Pois não é!
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