Simplesmente imortal

quarta-feira, 31 de dezembro de 1969
por Jornal A Voz da Serra
Simplesmente imortal
Simplesmente imortal

Por Adriana Ventura

Foi  uma cerimônia com pompa e circunstância, como se diz. Afinal, estávamos na Academia Brasileira de Letras, um ambiente que prima pela austeridade em um prédio doado pelo governo francês, em 1923, uma réplica do Petit Trianon, de Versalhes. O evento para a posse de Zuenir Ventura teve início às 21h, com a presença maciça de jornalistas, escritores, políticos, intelectuais, artistas e autoridades representativas de todos os segmentos da sociedade. Foi uma  noite de gala, sem dúvida, em clima de descontração que imperou do começo ao fim. 

O salão era pequeno para tantos convidados, mas em dois espaços contíguos foram instalados telões para a transmissão da posse, ao vivo. Nenhum convidado teve dificuldades para acompanhar a posse e presenciar aquele momento único na vida do jornalista e escritor.

Zuenir, tímido e visivelmente emocionado, antes de ocupar oficialmente a cadeira de Ariano Suassuna, iniciou assim o seu discurso: "Posso anunciar com orgulho, mas sem insolência, que vou suceder, jamais substituir o insuperável Ariano Suassuna, na cadeira 32”.  

Como é típico de sua natureza, foi espirituoso e coloquial, trazendo leveza a um discurso que poderia perfeitamente ser marcado pela erudição condizente com o ambiente acadêmico e em cerimônias desse tipo.

E  mesmo quando um celular tocou, ele brincou: "Se for para mim, não estou”, acentuando ainda mais o clima reinante e a proximidade que pretende impor, bem ao seu estilo, no convívio de novo imortal com os pobres mortais.

 Zuenir Ventura foi recebido pela acadêmica Cleonice Berardinelli, sua professora no curso de Letras Neolatinas da antiga Faculdade Nacional de Filosofia. Aos 98 anos, em uma cadeira de rodas (em consequência de um tombo), Cleonice começou seu discurso pedindo licença para quebrar o protocolo. Sua fala teve um tom intimista, profundamente carinhoso, amoroso mesmo, e por instantes nos fez esquecer que estavámos no mesmo ambiente solene em que Machado de Assis um dia discursou.

Tivemos o privilégio de testemunhar o relato de uma professora que, com orgulho, dirigia-se ao seu querido aluno, relembrando seu primeiro encontro com o então jovem estudante e que, naquele momento, tinha o imenso prazer de receber na Academia Brasileira de Letras. E, demonstrando total cumplicidade cultivada ao longo de décadas de amizade e mútua admiração, dirigia ao aluno, vez em quando, discretas "piscadelas”.

O ofício de transmitir sabedoria e conhecimento se equipara ao cultivo do amor e respeito. Assistimos a um lindo e comovente encontro entre mestre e pupilo, agora registrado para sempre em nossa memória. A afinidade de ambos com a obra de Camões e Fernando Pessoa por certo marcou, de forma indelével, o profundo respeito e admiração que nutrem um pelo outro. E Cleonice Berardinelli finalizou: "Entre, Zuenir, você não precisa pedir licença”. 

Logo após, o presidente da ABL, acadêmico Geraldo Holanda Cavalcanti, convidou o decano e acadêmico Eduardo Portella para entregar a espada; ao acadêmico Merval Pereira coube fazer a aposição do colar; e o acadêmico Domício Proença Filho entregou o diploma. O presidente, então, declarou empossado o novo acadêmico. 

Segundo Geraldo Holanda Cavalcanti, aquele "era um momento de grande satisfação para a academia, que se enriquece com a presença de um observador arguto da contemporaneidade brasileira, e uma alegria para os acadêmicos que vão poder partilhar da companhia de uma pessoa unanimemente reconhecida pela convivência amena, generosa e aberta que tão bem caracteriza a personalidade de Zuenir”.

 Em seguida, Zuenir recebeu os cumprimentos e pacientemente posou para centenas de fotos com todos os presentes. Sentimentos de orgulho e admiração tomaram conta dos membros da família Ventura presentes ao evento.

 Apesar de sua posse ter sido veiculada em todos os jornais da capital, além de vários telejornais, nós fazemos questão de registrar também com fotos, em A VOZ DA SERRA, alguns desses momentos. Queremos eternizar a ocasião e registrar o quanto a família Ventura se sente honrada em ter um de seus membros na Academia Brasileira de Letras. E, para não fugir à regra do que seu pai, José Ventura, nosso tio Zezé, sempre  dizia: "Se não sair em A Voz da Serra, não é importante!”.  

 Zuenir Ventura, receba nossa humilde homenagem nesse dia tão importante para você. E como você pode comprovar, deu em A Voz da Serra. Parabéns!

 

O momento em que o acadêmico Arnaldo Niskier (à direita) conduziu Zuenir para a cerimônia de posse 

 

Já empossado, Zuenir é cumprimentado pelos familiares, a jornalista Dalva Ventura, seu marido

Dermeval Figueira, e os diretores de  A VOZ DA SERRA, Adriana e Gabriel Ventura 

 

Ainda em casa, o jornalista recebe o carinho da neta Alice, sempre lembrada em suas crônicas

 

O primo Fernando Ventura (esq.) e seu filho, Fernando Júnior, saúdam o novo imortal da ABL

 

Os filhos de Zuenir, Elisa e o jornalista e escritor Mauro Ventura

 

As primas Ana Maria Siqueira e Fernanda Ventura

 

 Na cerimônia de posse, presença também de Liana Ventura (à direita)


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