UM BOM TRABALHO dos repórteres Karine Knust e Lucas Vieira, publicado em A VOZ DA SERRA no último fim de semana, expôs a realidade do trabalho infantil, da gravidez de menores e do êxodo escolar em Nova Friburgo. Com muita competência, retrataram o drama de muitos jovens que deveriam estar em outro lugar — na escola, protegido das vicissitudes da vida.
ALÉM DE COLOCAR em questionamento as dificuldades de jovens friburguenses, tais situações podem, no curto prazo, dirigir para outro caminho mais perigoso — a violência e todas as suas graves consequências. Alijadas da formação educacional, os jovens podem conviver com a realidade marginal que também preocupa muito as autoridades e é a porta de entrada para a criminalidade. São eles, em última instância, vítimas das desigualdades sociais.
NO MOMENTO que os adultos discutem a segurança pública, ou a falta dela, apesar das declarações polêmicas do secretário Beltrame sobre a violência no Rio, levantamento realizado em ocorrências no Estado de São Paulo mostra que sete em cada 10 detidos por porte ilegal de arma são solteiros, e que a metade tem menos de 24 anos e não completou o primeiro grau. O perfil paulista também reflete a realidade das demais cidades brasileiras, das quais Nova Friburgo não se exclui.
TAIS NÚMEROS, segundo especialistas em segurança pública, evidenciam uma inadequação das campanhas sobre a violência, cujos apelos se dirigem ao público adulto e falham por não atingir os jovens, faixa mais envolvida nos crimes. Enquanto os adultos opinam entre a garantia constitucional, a maioridade penal ou as sombrias estatísticas que apontam 1 brasileiro assassinado por arma de fogo a cada 15 minutos, 100 pessoas por dia, 36 mil todos os anos, as crianças assistem a tudo sem nada compreender e os jovens ficam fora do debate.
NASCIDA SOB O DOMÍNIO da mídia eletrônica, a juventude cresce assistindo aos mais diferentes tipos de violência, do desenho animado à realidade dos telejornais, acostumando-se com a banalização da vida praticada hoje mundo afora. E, sem a devida formação, admite mesmo armar-se para se defender. É notório o envolvimento da juventude neste tema e, infelizmente, valoriza-se mais a morte que a vida, oferecendo ao jovem uma realidade bem diferente da qual deveria viver.
COMO DETENTOR do uso legal da força, cabe ao governo propor políticas sérias e consistentes de combate à criminalidade, preenchendo, também, lacunas sociais históricas como a educação, a saúde, moradia e emprego. As crianças precisam enxergar um futuro melhor e os governantes não podem frustrar estas expectativas. É preciso investir muito mais do que hoje se gasta, para diminuir tantas diferenças e, se possível, a violência.
MAIS UMA VEZ batemos na mesma tecla — a educação parece ser a solução de alguns dos problemas mais graves da atualidade, entre eles a violência. Somente pela educação, em sentido amplo, pelo combate à ignorância, é que poderemos criar condições de implantar nas mentes de todos a ideia de paz e de respeito aos direitos humanos e à natureza.
NESTES TEMPOS de intolerância e agressividade, a educação é a alternativa, não para fazer milagres, mas para formar cidadãos em condições de enfrentar a crise em um mundo de incertezas e perplexidades. E os problemas podem começar a ser solucionados pela sua compreensão. Assim, é pela formação voltada para a valorização dos direitos humanos que se criarão novas perspectivas de vida e de convivência.
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