EDITORIAL - “Filho feio ninguém quer”

quarta-feira, 22 de outubro de 2014
por Jornal A Voz da Serra

DENÚNCIA feita por um leitor motivou a redação de A VOZ DA SERRA a fazer um check-up da Biblioteca Municipal com vistas à série de dificuldades estruturais relatadas. E além dos problemas materiais, como inadequação de sanitários, falta de bebedouros, número insuficiente de computadores, conforme reportagem publicada ontem, um dado mais preocupante diz respeito à vontade política de restaurar aquela instituição culturalmente importante na vida friburguense.

SUCESSIVOS governos trataram de "canibalizar” o serviço prestado pela biblioteca, deixando a mesma morrer de inanição. O acervo está desatualizado, funcionários não estão capacitados, não está sendo utilizada toda a tecnologia disponível. A biblioteca ainda utiliza obsoletas máquinas de escrever e o controle do acervo não foi automatizado.

DECLARAÇÕES do secretário municipal de Cultura explica mas não justifica a precariedade da biblioteca. Transformada em Secretaria de Leitura no governo Heródoto, a mesma foi incorporada à Secretaria de Educação nos governos seguintes de Sergio Xavier e Dermeval Moreira, mas até hoje não se conseguiu um posicionamento adequado no organograma da Prefeitura. É mais um estorvo que ponto de orgulho da administração pública.

HÁ MAIS DE dez anos repousa na inércia da administração municipal laudo técnico da Fundação Instituto Oswaldo Cruz acerca do ar ambiente da Biblioteca Municipal de Nova Friburgo. Naquela época, técnicos já advertiam quanto à má qualidade do ar e os riscos à saúde de funcionários e de usuários daquela única biblioteca da cidade.

AVALIAÇÕES concluíram que aquele espaço deveria receber atenção especial prevenindo os riscos para a saúde humana e a salvaguarda do acervo dos mais de 35 mil livros e periódicos lá existentes. Pois bem, mais de uma década depois nada foi feito eliminando os fungos que assolam os livros e climatizando aquela repartição. Os riscos ainda persistem, provavelmente agora em maior grau de periculosidade e insalubridade.

A PREOCUPAÇÃO dos que amam os livros e aquela instituição sexagenária é visível e é compartilhada por milhares de frequentadores acerca das condições estruturais da biblioteca.  Ela passa por momentos de dificuldades para a manutenção de seu importante acervo, colocando em risco o patrimônio tão bem guardado ao longo dos anos, e objeto de permanente consulta por parte de estudantes e leitores em geral.

MAS NÃO adianta agora chorar pelo leite derramado. Existe uma luz no fim do túnel que pode reverter esta situação. Está em estudo pela Comissão de Assuntos Exteriores, Cidades Irmanadas, Países Colonizadores, História e Patrimônio da Câmara Municipal o projeto "Biblioteca Machado de Assis”, que poderá dar um impulso qualitativo, oferecendo a estrutura necessária para aparelhar o município em consonância com os padrões internacionais adotados para esta finalidade, revitalizando a biblioteca.

O PATRIMÔNIO cultural de Nova Friburgo é um bem que não pode ficar sem o apoio das autoridades do município, do estado e do governo federal. É dever do Estado e de todos os cidadãos que precisam ter acesso aos livros. Além disso, devido à sua abrangência educacional, tornou-se referência para diversos municípios realizarem trabalho semelhante. Tais virtudes, por conseguinte, não podem prescindir de uma infraestrutura compatível com o material que conserva, em recursos humanos e bens materiais.

O ESFORÇO do governo municipal em criar a primeira Secretaria Municipal de Leitura do país não está sendo suficiente para "zerar” o déficit cultural do município com a formação de seus cidadãos. Por uma série de razões a cultura foi, para muitos governantes, o "patinho feio” da administração.  É preciso, portanto, reverter esta imagem negativa, oferecendo estrutura adequada para que todos tenham acesso aos livros, num ambiente devidamente protegido e saudável. 

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