EDITORIAL - Só não vê quem não quer

terça-feira, 09 de setembro de 2014
por Jornal A Voz da Serra

A GRANDE imprensa vem batendo na tecla com insistência mas os candidatos parece que não enxergam a gravidade do problema nem estão interessados em colocar o assunto na pauta de governo. Saneamento básico é um tabu para a maioria dos políticos brasileiros. 

TODOS sabem: obras de melhorias na coleta e tratamento de esgotos e na canalização de água potável ficam debaixo da terra, o eleitor não vê. Simplesmente não rende votos e custa caro. Então, pela lógica dos homens públicos, não vale a pena perder tempo com isso. A consequência: em pleno século 21, a maioria das grandes cidades brasileiras continua na lama, para não xingar um palavrão, com todos os seus efeitos colaterais.

O RANKING doSaneamento 2014, preparado pelo Instituto Trata Brasil, organização não governamental especializada na questão, já diagnosticou. Cem maiores municípios foram analisados tomando-se como base os dados de 2012 do Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento (SNIS) do Ministério das Cidades. Foram investigados não somente a coleta e o tratamento de esgotos nas cidades com mais de 250 mil habitantes, como também a expansão da rede de abastecimento de água e as perdas provocadas por tubulações velhas e ligações clandestinas.

DE INÍCIO, algumas constatações gritantes: as duas cidades mais ricas e populosas do país — São Paulo e Rio de Janeiro — tratam apenas a metade de seus esgotos (São Paulo, 52,15%; e Rio, 50,2%). Curitiba é a capital com os melhores serviços de abastecimento de água. A despeito desse bom desempenho, duas capitais — Porto Velho e Cuiabá — vergonhosamente não contam com nem um por cento de tratamento de esgotos. 

DE TODOS os municípios brasileiros avaliados, 55 tratam só 40% dos esgotos. E 34 deles não têm seus Planos Municipais de Saneamento Básico (PMSB) definidos. Imagina-se a situação das cidades menores, Nova Friburgo incluída. Determinado por uma lei federal de 2007, o Plano Municipal de Saneamento Básico tem como premissa universalizar os serviços de saneamento básico no país. Entretanto, o objetivo não será atingido nos próximos vinte anos, como estava previsto.

RESUMO DA ÓPERA: diariamente o Brasil despeja no meio ambiente 2.959 piscinas de esgotos sem qualquer tratamento. Cada piscina tem capacidade para 2,5 milhões de litros. É muito. Além de contaminar os nossos recursos hídricos, esse monte de lama fétida pode ser responsável por casos de doenças como verminoses, hepatite A, dermatites e diarreias que entopem os hospitais.

O RANKING conclui que os avanços nos serviços de água e esgotos, assim como na redução das perdas de água nas 100 maiores cidades, continuam lentos e que, a se manterem os mesmos níveis de avanços encontrados de 2008 a 2012, não ocorrerá a tão sonhada universalização dos serviços em 20 anos. Os resultados mostram a necessidade de haver um maior comprometimento dos governos federal, estaduais e municipais se quisermos universalizar o saneamento em duas décadas. Um recado que deve ser lembrado nas urnas de outubro.

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