Em entrevista exclusiva para A VOZ DA SERRA, Mateus Solano fala das férias que passava em Friburgo e de sua carreira
Ele pode ser Ronaldo Bôscoli e até seu próprio irmão gêmeo. Pode ser um cientista ou mesmo Mundinho Falcão. Mas, recentemente, ele foi amado e odiado na pele de Felix Khoury, na novela Amor à Vida. O ator Mateus Solano, em entrevista exclusiva para A VOZ DA SERRA, fala sobre sua carreira, seus personagens e também do espetáculo "Do Tamanho do Mundo”, que ele traz para o Teatro Municipal Laercio Rangel Ventura, nos 29, 30 e 31 de agosto.
A VOZ DA SERRA - Mateus, como surgiu o desejo de ser ator e o início de sua carreira?
Mateus Solano: Eu estudei na Escola Parque muitos anos e lá tinha teatro como matéria curricular, ou seja, eu percebi que o teatro era uma coisa séria, porque eu poderia repetir ano na escola se não passasse em teatro. As pessoas falavam que eu levava jeito e isso despertou em mim a vontade de fazer um curso extracurricular na escola e fiz minha primeira peça, "A Aurora da Minha Vida”, em 1996. Depois disso, tudo caminhou para o teatro. Eu fui assistir a uma aula do Fernando Caruso no Tablado e passei a frequentar o curso. Só fiz seis meses de aula, mas participava de várias peças do Tablado. Eu sou cria de lá junto com Marcelo Adnet, Gregório Duvivier, Fernando Caruso e outros queridos. Sempre tive o apoio da minha família e fui então fazer para faculdade de teatro na UniRio. A partir daí fiz muito outros trabalhos no teatro e na TV.
Apesar das maldades, Félix, seu último personagem na TV, caiu nas graças do público. A que você atribui esse fascínio que o personagem causou?
O Walcyr Carrasco escreveu o Félix para ser um sucesso. Claro que foi surpreendente o quanto deu certo. Mas o Walcyr é esperto e não deixa de pensar no telespectador. O Félix tinha traumas, ambição, era mau e homossexual. Se ele não tivesse o humor, se ficasse apenas sombrio e trancado no armário, creio que o público não gostaria da mesma forma.
Do que trata a peça "Do Tamanho do Mundo”, que é escrita pela sua esposa e também atriz Paula Braun?
A peça conta a história de Arnaldo, que um dia acorda e não se recorda como caminha. De repente, no alto de sua maturidade, se vê como quem vê uma folha de papel em branco, desaprendido, perdido dentro de sua própria liberdade. Um homem que esqueceu como viver em uma sociedade. Junto de sua mulher, começa a questionar se as escolhas que tomou até então são suas ou foram impostas pelo destino, e se o destino existe ou foi inventado para que possam caminhar dentro de padrões sociais. A intenção é fazer o espectador repensar suas próprias escolhas. Que escolhas são essas? Quantas escolhas nos foram impostas e quantas são genuinamente nossas? Até onde vivemos a vida que realmente escolhemos viver? O que podemos fazer para viver um pouco mais livres?
E como foi este processo?
Foi ótimo. Tentamos não levar pra casa, por mais difícil que isso fosse. Às vezes a gente discutia e conversava sobre a peça em casa, mas foi um processo colaborativo não só entre mim e Paula. Foi entre nós, o diretor Jefferson Miranda e todos os outros atores. A Paula começou escrevendo o texto, a gente foi improvisando em cima do que ela tinha escrito e ela ia escrevendo em cima do que assistia a gente improvisar. Mas foi importante pra gente também ter que lidar numa relação de trabalho. Porque tanto no trabalho quanto na vida pessoal, uma relação é você aprender a se impor por um lado e a ceder de outro. Então foi muito bacana neste sentido para os dois.
Quanto tempo durou a turnê? Por onde passou?
A gente fez algumas viagens. Não estamos chamando de turnê. Fizemos nossa temporada no Rio de Janeiro, depois três ou quatro viagens por algumas cidades do Brasil, entre elas, Vitória, Campinas, Belo Horizonte. Depois ficamos dois meses e duas semanas em São Paulo, o que foi um barato. Agora estamos fazendo as quatro últimas viagens com a peça. Primeiro Curitiba, Goiânia, Brasília e fechamos com chave de ouro em Nova Friburgo.
Qual a sua avaliação deste trabalho?
A melhor possível, porque é minha primeira realização. Então acho que, para a primeira realização, fui bem mesmo. Consegui chamar pessoas que eu gosto, atores que eu já tinha trabalhado ou com quem eu gostaria de trabalhar. Chamei o diretor que é um dos que mais me ensinaram na minha carreira e um grande amigo para a produção também. Então acho que isso já valeu a pena. E o próprio processo também foi muito construtivo — como eu não deixei a peça em nenhum momento morrer, no sentido de se cristalizar, virar uma coisa que a gente simplesmente repetia, até porque isso também fazia parte da direção do Jefferson. Fazer uma coisa que estivesse em constante "presente”, digamos assim, como se estivéssemos realmente contando aquela história pela primeira vez. Eu também não desisti das partes que me incomodavam e fomos mexendo até a temporada de São Paulo, então — só então — eu fiquei inteiramente satisfeito. Foi uma peça que o processo continuou durante a temporada e isso foi muito importante também para a vida do espetáculo.
Qual a sua ligação com Nova Friburgo?
Friburgo é muito importante pra mim. Desde criança tenho um sítio aí, que foi muito importante na minha formação como pessoa. Sempre morei no Rio de Janeiro e, por mais natureza que tenha lá, não deixa de ser uma cidade grande. Eu morava em um prédio, então pra mim sempre foi muito importante ir para o sítio em Friburgo e estar em contato com a natureza, banho de rio, bichos, espaço, enfim. E a própria cidade... A gente, eu e meus primos, sempre fomos ao fliperama que existia ali na praça principal, assisti à inauguração do Willisau, fui muito ao teleférico, e fiquei muito tocado durante as enchentes em Friburgo. E um dos meus grandes amigos, se não o maior, é Lincoln Vargas (o produtor local da peça), o cara de Friburgo (risos).
Levando em consideração que as apresentações da peça em Nova Friburgo serão as últimas, como se sente e quais as expectativas?
O fato de ser a última apresentação é mais forte que o lugar onde vamos nos apresentar, certamente. Mas é um prazer poder levar para esta cidade — que foi tão importante pra minha construção como pessoa — uma peça que também foi muito importante na minha construção como artista, inclusive por que foi a minha primeira realização teatral.
E hoje? Quais são os projetos futuros ? Em que está trabalhando? TV e teatro...
Temos o "Selfie”, peça que estou fazendo com o Miguel Thiré, com quem já tenho um trabalho de comédia que vem de outros dois projetos anteriores. Com a direção do Marcus Caruso e com Daniela Ocampo no texto. Vai estrear em novembro, no teatro Miguel Falabella, no Rio, e fica até janeiro de 2015. Fora isso, ainda estou definindo. Teria um filme para fazer em março e abril e, a partir do meio do ano que vem, eu estaria interessado em fazer televisão, mas não existe nenhum convite, nem nada definido ou acertado.
Mateus, gostaríamos de agradecer em nome de A VOZ DA SERRA esta entrevista exclusiva e pedir para que deixe suas considerações finais.
Então é isso: estou muito feliz em levar pra Friburgo o "Do Tamanho do Mundo” e espero que o povo também se divirta. E como sempre diz o diretor do espetáculo, Jefferson Miranda, o mais importante na peça não é causar isso ou aquilo, ou fazer as pessoas pensarem e refletirem sobre isso ou sobre aquilo, especificamente. Mas mostrar o "encontro”, uma coisa que é cada vez mais rara hoje em dia. O encontro, ao vivo e a cores, do espectador com a gente e com a história que estamos contando. Então fica a nossa responsabilidade de tentar contar essa história como se fosse a primeira vez e ao espectador cabe sentar, relaxar e participar desse encontro que temos tido pelo Brasil e que tem sido muito agradável.
O texto e produção de "Do Tamanho do Mundo” é de Paula Braun e a direção de Jefferson Miranda. Além de
Mateus Solano, o elenco é composto por Alcemar Vieira, Isabel Cavalcanti e Karine Telles (Guga Melgar)
Foto: Amanda Tinoco
Amigo de Mateus Solano, o ator, músico, professor e diretor teatral Lincoln Vargas está tendo um prazer especial em ser o produtor local da peça "Do Tamanho do Mundo”. Nascido em Niterói, ele considera Nova Friburgo sua cidade, já que veio para cá com apenas um ano, tendo estudado e se criado aqui. "A minha família — Azambuja — mora aqui, tenho uma ligação forte com a cidade e estou muito feliz por trazer o Mateus (Solano) aqui”, diz ele.
Multitalentoso, Lincoln conta que a veia artística despontou em Friburgo, quando passou a tocar teclado com vários músicos locais. "Em 1997 fui para o Rio estudar em O Tablado (curso de formação de atores). Hoje sou professor de lá. Mas faço muitas outras coisas. Trabalhei muito com Domingos de Oliveira, já atuei em algumas pegadinha do Lata Velha, do Luciano Hulk, mas o que tenho curtido muito é o meu trabalho nos festivais de esquetes, como as Mostra de Esquetes O Tablado, que já está na seu 19ª edição.”
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