E o Gama canta Noel...

Grupo promove espetáculo para relembrar as composições marcantes do músico carioca
segunda-feira, 19 de maio de 2014
por Vinicius Gastin
E o Gama canta Noel...
E o Gama canta Noel...

As letras de Noel Rosa, repletas de desejos e decepções, retratavam um cotidiano com a mais pura simplicidade, em contraste com os pensamentos complexos do compositor. Ao adaptar alguns dos mais de 200 versos para a contemporaneidade, o Grupo de Arte, Movimento e Ação (Gama) idealizou o espetáculo "O Gama canta Noel Rosa”, em cartaz nos dias 22 e 23 de maio, às 20h, no Teatro Municipal Laercio Rangel Ventura. Os ingressos estão à venda na Superpão e na Gráfica Atlas (Rua Dante Laginestra, Centro)

"Essa é mais uma manifestação nesses 48 anos de Gama. Procuramos sempre respeitar as pessoas que gostam de um bom trabalho, abraçando todos os aficionados com muita harmonia, melodia e ritmo”, destaca Jaburu, fundador do Gama e um dos produtores do evento.

A apresentação será composta por canções marcantes da carreira de Noel Rosa, em uma viagem a partir do clássico "Palpite infeliz”. Para dar suporte a toda a poesia e encanto das letras do Poeta da Vila, o aparato estrutural será detalhadamente preparado. Os organizadores prometem um espetáculo de efeitos especiais e arranjos capazes de emocionar o público durante uma hora e 15 minutos de espetáculo.

"Tudo está sendo montado nos mínimos detalhes. A Lokasom será responsável pela sonorização, o Sopinha e o Ricardo pela iluminação e o José Tadeu dará uma assistência geral. O Chico Figueiredo cuida da maquiagem e figurinos e eu faço a parte da produção. Contamos com os apoios do Frigodário, Wermar, Gemini e Pedrinco Art. Toda essa equipe é fundamental para a realização do evento”, explica Jaburu.

A julgar pelos espetáculos anteriores, a atração entrará para a galeria de grandes produções do Gama. O grupo idealizou espetáculos do nível de "Gama canta Vinicius de Moraes”, "Por que não falar de amor?”, "Canto de amor a Nova Friburgo” — que integrou a programação do 5º Festival de Inverno da cidade —, "Saltimbancos”, "Em busca da água prometida”, "Tempo de delicadeza”, dentre outros.

"Nós já produzimos vários musicais e tenho a certeza de que esse também será um sucesso pela qualidade musical e letras escolhidas. Além disso, vamos dar a oportunidade para quem aprecia o Noel poder relembrar, e para quem não o acompanhou, passar a conhecer a obra do compositor. Queremos mostrar os verdadeiros novos valores musicais para a cidade, e o Thiago Guzzo é um deles. Tanto ele quanto os componentes da banda são músicos de alto nível”, garante o fundador do Gama.

Líder do conjunto formado por Daellon Gomes (bateria), Ozias Gonçalves (baixo), Duduca Lopes (percussão) e Danilo Klem (flauta transversa), o jovem Thiago Guzzo será o responsável por interpretar as composições de Noel Rosa. Formado pela UniRio, Guzzo despertou a atenção dos professores da faculdade, que enxergaram no músico friburguense um talento diferenciado e o escolheram para um período de seis meses na Suécia, onde pôde aperfeiçoar os conhecimentos e dotes musicais. "Já o conheço há mais de seis anos, através de um trabalho em estúdio que foi produzido. A partir de então, ele passou a fazer parte dos nossos trabalhos. Tê-lo em nosso conjunto é uma honra, pois o Thiago não é uma promessa, e sim, uma realidade da música. Precisamos aprender a reconhecer esses valores da nossa cidade.” 

O apelo de Jaburu vai ao encontro do que considera ser um momento cultural especial vivido por Nova Friburgo. A variedade e qualidade das inúmeras apresentações, exposições e movimentos revelam o surgimento de uma nova geração de artistas no município.

"Precisamos estar atentos a essa questão. Nova Friburgo vive um momento fantástico no meio artístico e nós temos realizações de alto nível na cidade. Tivemos o lançamento do livro ‘Descompasso’, do Irapuã Guimarães, e mais de 300 exemplares fora vendidos. O Gama está com duas exposições no Hotel Bucsky e outra ação no Centro de Turismo, junto com a Euterpe Friburguense, contando com os apoios da EBMA e da Prefeitura. São 40 mil prospectos enaltecendo os garis do município, com um poema de Irapuã Guimarães. Temos que citar o Bernardo Dugin e o seu musical ‘Despertar da Primavera’ e o concerto que a Euterpe vai realizar no dia 25, ainda temos as exposições no Sesc. A cidade precisa acompanhar e prestigiar esses trabalhos.”

Membro do Gama, o professor José Tadeu compartilha da mesma ideia de Jaburu e ressalta a importância de os jovens aderirem às manifestações e apresentações culturais. "Sempre acompanhei o Gama e as suas manifestações, desde antes de fazer parte do grupo. Sou fã do Noel, apesar de ser de uma geração relativamente distante. Eu o admiro por vários motivos, principalmente pelo pouco tempo que teve para produzir tantas obras marcantes. É importante que os jovens conheçam esse trabalho. Pode parecer uma surpresa, mas alguns alunos mais novos se interessam por ele. Eles reconhecem o que tem qualidade.”

Compositor teve passagem por Nova Friburgo, onde teria escrito canção

Noel de Medeiros Rosa precisou de apenas 26 anos para marcar o nome na história da música popular brasileira. As mais de 200 composições feitas pelo carioca, nascido em 11 de dezembro de 1910, retratam o cotidiano e aproximam o "morro” e o asfalto, em uma espécie de ponte entre a classe média do Rio de Janeiro e as comunidades. Desta forma, utilizou as letras de suas canções para descrever situações do dia a dia de forma crítica e frequentemente bem-humorada. 

A música sempre fez parte da vida de Noel, e inclusive o levou a desistir do curso de Medicina. De fato, a saúde não era uma das maiores preocupações do compositor: a vida de boêmio apenas contribuiu para o agravamento do aspecto franzino e debilitado que apresentava desde novo. O desleixo foi tanto ao ponto de a mãe esconder todas as suas roupas certa noite, ao saber que Noel sairia com amigos. Eis a inspiração para o primeiro grande sucesso, "Com que roupa?”, gravado em 1931. Cerca de 15.000 discos foram vendidos.

Inspirado pelas próprias aventuras, Noel Rosa não mediu as consequências da vida desregrada e foi vítima de uma tuberculose. Ao ser diagnosticado com a doença, sem cura à época, mudou-se para Nova Friburgo, devido à salubridade do clima. Entretanto, os bons hotéis da cidade já não aceitavam hospedar pessoas doentes de tuberculose. A cidade recebia muitos tísicos, o que poderia espantar os veranistas e prejudicar o movimento. A recepção desses tuberculosos ficava a cargo das pensões.

Segundo historiadores, Noel Rosa alugou uma casa e morou por seis anos no município, entre 1930 e 1936. Neste período, teria composto "O Orvalho Vem Caindo”, em homenagem exatamente a esta passagem de sua vida. Não existe a comprovação da estadia do Poeta da Vila na cidade, mas alguns moradores da época relatam que o compositor carioca frequentava constantemente a Praça Getúlio Vargas. Em 4 de maio de 1937, aos 26 anos, morreu no Rio de Janeiro. A tuberculose venceu o poeta, mas Noel Rosa está eternizado pelo talento perceptível em cada uma das centenas de músicas.

Thiago Guzzo: além de uma promessa uma realidade musical

Arranjador, violonista, vocalista e líder do conjunto de músicos que homenageará Noel Rosa, Thiago Guzzo, 28 anos, começou a demonstrar interesse pela música ainda pequeno e por influência de seus parentes. "A música sempre esteve dentro da minha casa. Meus familiares eram músicos amadores e por isso sempre convivi com instrumentos. O estímulo começou daí, naturalmente e sem aulas convencionais.” E foi por essa paixão que Thiago resolveu cursar bacharelado em música popular brasileira na UniRio, receber aulas de Nelson Faria — arranjador de João Bosco e outros grandes músicos — e estudar composição numa universidade na Suécia. Atualmente, o músico é professor de um centro cultural que leva seu nome — Centro Cultural Thiago Guzzo — e trabalha com eventos, produções artísticas, workshops e oficinas. "Há uns quatro anos, propus um espetáculo sobre Chico Buarque ao fundador do Gama, Jaburu. Logo após este espetáculo, o grupo me propôs fazer esse mesmo trabalho, só que, desta vez, com Noel. Noel Rosa é um precursor dos artistas atuais como Chico Buarque e compositores de samba. Ele viveu 26 anos e compôs mais de 200 canções e teve uma única fase, que foi a de compor sambas. Não é difícil lidar com o repertório de Noel, porque muitos compositores atuais trabalham com suas canções. E apesar de ele ter morrido em 1937, é um músico atual e referência para muitos que, até hoje, regravam suas canções”, diz Guzzo. A formação do grupo que relembrará sucessos de Noel neste espetáculo não é tradicional, ou seja, com bandolim, cavaquinho, pandeiro e flauta. A proposta do grupo é utilizar uma nova formação, com contrabaixo, bateria, percussão, flauta e violão. "Estamos preparando um grande espetáculo musical. Todos estão convidados a ir e serão muito bem recebidos!”, conclui o jovem músico. 

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TAGS: Música | Jaburu | GAMA
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