Comércio procura candidatos para preencher vagas

"Atenção! Há vagas!” Essa é a realidade do comércio de Nova Friburgo. Na Avenida Alberto Braune, a principal da cidade, são pelo menos dez lojas com cartazes pedindo currículos e anunciando vagas. A procura chega a ser grande, mas na soma de perfil, qualificação e experiência, o resultado não costuma ser bom e as oportunidades seguem sem ser aproveitadas. Muitos candidatos também acabam não se interessando pelo que é oferecido pelos estabelecimentos ou não se adaptam à rotina incessante do comércio local.

As chances variam. Vão desde lojas de sapatos até aos estabelecimentos de eletrodomésticos, passando pelo setor de vestuário. Os salários também oscilam por conta das comissões, que servem para estimular os funcionários, mas acabam sendo vistas como desafios pelos candidatos. Neto Juliace é gerente de uma loja de roupas e possui vinte funcionários. Ele recebe até dez currículos por semana e ainda há três vagas em aberto. Entretanto, a dificuldade para seleção é imensa, segundo ele. "O problema está na pouca experiência dos candidatos e até na qualidade dos currículos que a gente recebe.” Ele resume em duas características o perfil dos futuros funcionários que está procurando: "Tem que ser simpático e ter vontade de trabalhar. Já é um bom começo”, diz.

A situação é semelhante em outros estabelecimentos ao longo da Avenida Alberto Braune. Rebeca Mastrângelo, gerente de uma loja de calçados, também encontra dificuldades na hora de contratar. São duas funcionárias e uma vaga em aberto para atendente. Neste caso, o conteúdo do currículo tem pesado na hora de bater o martelo para a contratação. "A experiência e a disponibilidade da pessoa têm sido minhas maiores dificuldades na hora de contratar, e isso tudo a gente percebe e avalia logo no primeiro contato, ou ao avaliar o currículo.” Outro empresário, que não quis se identificar, apontou o extenso horário do comércio e o funcionamento aos sábados, domingos e feriados como fatores que afastam os profissionais do setor, que oferece em média o piso de R$ 803, mais benefícios. 

Carina Machado, 22 anos, trabalha em uma loja da Avenida Alberto Braune há pouco mais de um ano. A jovem se sente satisfeita, mas reconhece as dificuldades vividas pelos profissionais do setor. "Eu, sinceramente, gosto muito do comércio, gosto de trabalhar com público. Mas a maior dificuldade é o salário, que ainda é pouco, pois a gente não para, ganha mal e não tem benefício. Acho ruim porque não tem como viajar, sair...”, enumera.

Ainda que com tantas dificuldades, Larissa Silva, 21 anos, semana passada foi até o balcão de empregos da Secretaria Municipal de Assistência, Desenvolvimento Social e Trabalho em busca de uma oportunidade no comércio. Assim como ela, cerca de 50 pessoas por dia realizam cadastro no local e só através do Sistema Nacional de Emprego (Sine). Onze vagas foram preenchidas na última semana no setor. A jovem tem certa experiência no segmento e quer se reinserir no mercado de trabalho por meio do comércio. "Já trabalhei, tenho experiência nisso. Eu deixo currículos há um mês em vários locais, mas eles dizem para esperar, que vão ligar... Mas nunca ligam. Está bem difícil”, ressaltou.

 

O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho (Caged) apontou resultado negativo na relação entre contratações e demissões no primeiro trimestre de 2014 em Nova Friburgo. Segundo o levantamento, foram 1.820 contratações e 1.904 demissões. Um negativo de 84 vagas. Considerando apenas o comércio varejista, o número é ainda mais negativo: 114. De acordo com o economista Carlos Alberto Serrão, a junção de uma série de fatores resultou no número negativo.

 "Após o fim do ano, em que são feitas muitas contratações para suprir a demanda, a virada de ano faz com que aqueles funcionários, que eram temporários, sejam dispensados. Essa é uma tendência. A migração dos profissionais do comércio para a construção civil, por exemplo, também facilitou este número”, observa Serrão. No diagnóstico do economista, nos próximos meses esses números podem mudar, em favor do comércio e dos candidatos a uma vaga. 

"A atividade econômica deve começar a esquentar só no início do próximo semestre, mas alguns eventos sazonais, como o Dia das Mães e a própria Copa do Mundo, podem mudar este cenário. A demanda comercial do Dia das Mães é maior, e na Copa do Mundo muitas pessoas vão suprir as necessidades do evento e, com isso, serão abertas vagas no comércio naturalmente”, continua ele. 

Uma pesquisa recente feita por um instituto de Nova Friburgo apontou que 21% das pessoas entrevistadas acreditam que a maior deficiência do comércio na cidade é a falta de qualidade no atendimento. Essa realidade atinge lojas de pequeno e de grande porte. Neto Juliace tenta a contramão desse processo e quer aperfeiçoar o atendimento no estabelecimento, com muito treinamento. "Além da entrevista individual, realizamos um treinamento intensivo de três dias, que é próprio de franquia. Temos também uma prova para nossos candidatos. Nós prezamos a qualidade no atendimento, muitos funcionários chegam aqui com vícios de outras lojas, que a gente tem que eliminar”, resumiu.

Uma alternativa para a qualificação é o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, o Pronatec. Criada em 2011, a iniciativa tem o objetivo de ampliar a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica. Em Nova Friburgo, dentre diversas oportunidades de aprendizado estão os cursos de vendedor e recursos humanos, que são úteis para o comércio. A expectativa é que as inscrições sejam abertas ao longo do mês de maio. Os cursos têm carga horária de 260 horas e os alunos recebem material didático gratuito, auxílio-transporte e auxílio-lanche. Para mais informações ou se inscrever, basta ir até o Balcão de Empregos de Nova Friburgo, que fica na Avenida Alberto Braune 223, na antiga Rodoviária Leopoldina. O telefone para contato é o 2525-9205.