Acessibilidade - Uma inclusão que precisa chegar ao mercado de trabalho

segunda-feira, 28 de abril de 2014
por Karine Knust
Acessibilidade - Uma inclusão que precisa chegar ao mercado de trabalho
Acessibilidade - Uma inclusão que precisa chegar ao mercado de trabalho
A inclusão de deficientes físicos no mercado de trabalho tem crescido nos últimos anos, graças à Lei nº 8.213/91, art. 93. Conhecida como Lei de Cotas, ela estipula que empresas com cem ou mais funcionários devem preencher um percentual de suas vagas para portadores de deficiência física. 

O preconceito só será eliminado da sociedade quando estivermos em igualdade de condições
De acordo com dados do último censo divulgado pelo IBGE, em 2010, cerca de nove milhões de pessoas que apresentam alguma deficiência estão trabalhando e dois milhões delas têm carteira assinada. Porém, também de acordo com o censo, aproximadamente 16 milhões de pessoas com deficiência ainda não estão inseridas no mercado de trabalho. 

Em Nova Friburgo, a inserção de deficientes também tem crescido, mas muitos ainda sentem dificuldades para encontrar o seu espaço dentro das empresas. Alguns tipos de deficiência física, por exemplo, precisam de mais atenção no que diz respeito à acessibilidade. Elevadores, rampas de acesso e mobília adequada às necessidades são indispensáveis para que o deficiente possa ter acesso ao ambiente de trabalho. 

Rodrigo Varol, 32 anos, por exemplo, nasceu com uma doença degenerativa e precisa de cadeira de rodas para locomoção e auxílio para exercer certas atividades. Em busca de inserção no mercado de trabalho, ele terminou o ensino médio, mas trocou a universidade por cursos técnicos e hoje trabalha como autônomo: "As dificuldades no transporte público e a falta de apoio das empresas à pessoa com deficiência me fizeram optar por cursos técnicos e me inserir no mercado de trabalho de forma autônoma, realizando meus serviços em casa”. Ex-candidato a vereador, Rodrigo acredita que um dos caminhos para inserção de deficientes é através de políticas públicas de inclusão: "Levei projetos ao governo municipal com intenção de termos uma política inclusiva, onde o governo — em um convênio com instituições especializadas ao atendimento de deficientes — pudesse incentivar ainda mais a qualificação e, aí sim, levar ao mercado de trabalho a pessoa com deficiência. Acredito que esse é o caminho, mas, infelizmente, até hoje não tive resposta. O preconceito só será eliminado da sociedade quando estivermos em igualdade de condições. E para essa igualdade acontecer, precisamos de uma política de inclusão que, em Nova Friburgo, ainda não existe”.

De casa para o trabalho

Paula Celles, 24 anos, sofreu um acidente ao mergulhar em uma piscina quando tinha apenas 12 anos e, desde então, precisa do auxílio de cadeira de rodas para se locomover. Rômulo Blaudt, também de 24 anos, teve a vida mudada há cinco anos, quando desviou de um caminhão e acabou perdendo o controle de sua moto e, a partir disso, também passou a precisar de cadeira de rodas. As histórias seriam pouco semelhantes se os dois também não fossem colegas de trabalho. Funcionários de uma farmácia no centro da cidade, Paula é farmacêutica e trabalha na empresa desde 2012; Rômulo é auxiliar administrativo há um ano e oito meses. 

Formada pela primeira turma de Farmácia de uma universidade particular de Nova Friburgo, Paula já tinha a vaga de farmacêutica garantida antes mesmo de terminar o curso. "Um dos meus colegas de classe era gerente da empresa e me convidou para participar da equipe quando ainda estudávamos juntos. E a farmácia foi construída pensando nos deficientes físicos, desde o acesso ao segundo andar — que é feito por elevador — até a entrada da loja, que é praticamente no mesmo nível da calçada — coisa que quase ninguém repara ao entrar”, conta ela. Quando perguntada sobre o preconceito, ela afirma: "Não sinto muito preconceito por parte da sociedade, não sei se porque sempre tive uma vida normal de estudos e agora de trabalho, o que faz com que as pessoas me olhem como alguém capaz, como qualquer outra pessoa. Quando você está numa situação diferente, você tem que fazer tudo o que os outros fazem e ainda mais um pouquinho. Acho que é por causa desse ‘mais um pouquinho’ que sempre procuro fazer que não me sinto deslocada”. 

Rômulo não se preocupava em trabalhar até ter descoberto a vaga oferecida pela empresa. "O dinheiro que recebia da aposentadoria supria as minhas necessidades e achava que não precisava de nada mais, mas depois que fiquei sabendo da vaga resolvi arriscar. Agora não consigo mais ficar sem trabalhar. Os dias de feriado já foram suficientes para que eu sentisse falta de estar aqui. A gente acaba se acostumando com o ambiente e sente falta dos colegas de trabalho. Afinal, a gente acaba passando mais tempo aqui do que em casa”, conta ele. Cursando ensino médio, ele diz que não pretende parar por aí: "Ainda estou estudando e pretendo fazer faculdade no próximo ano. Não sei qual curso vou escolher ainda, mas já estou me organizando para começar ano que vem.” 

E quando o assunto é a receptividade da empresa, eles são só elogios. "Estou na empresa desde janeiro de 2012 e fui super bem recebida. Aqui não há discriminação nenhuma. Qualquer um é bem recebido, desde os colaboradores até os clientes”, conta Paula. "A equipe é muito boa e a recepção foi ótima. Nunca fiz nenhum curso na área. Tudo que faço hoje aprendi aqui na empresa”, diz Rômulo.

Muito além da lei

Rosimeri Régly foi acometida por poliomielite quando tinha apenas um ano de idade. Passou por diversas cirurgias na perna e precisa do auxílio de uma bengala. Mas, antes mesmo de a Lei de Cotas entrar em vigor, Rosi já havia conseguido seu espaço no mercado de trabalho. Atuou como telefonista e assistente de marketing durante 31 anos numa grande indústria da cidade. "Era necessário apenas ter o ensino médio e não tinham exigências especiais para deficientes. Então, fiz uma prova, passei e consegui a vaga”, conta ela. Ciente das necessidades de Rosi, a empresa se preocupou em se adequar, tanto em relação ao acesso à sala quanto ao tipo de cadeira a ser utilizada por ela. E, por ser uma pessoa extremamente extrovertida, Rosimeri não teve dificuldade em se adaptar e fazer amigos dentro do ambiente de trabalho: "As pessoas me respeitavam e tive muitos amigos. Procurava fazer o melhor sem me prevalecer de ter uma deficiência”. 

Por ter passado por diversas cirurgias, Rosi tem cicatrizes na perna que, segundo ela, chamam a atenção de alguns curiosos: "Não tenho problemas quanto ao preconceito, sempre fui uma pessoa muito bem resolvida. Mas é claro que ainda passamos por isso. O mundo não está preparado para lidar com a deficiência, seja ela qual for. As pessoas ainda têm curiosidade quanto ao diferente. Eu, por exemplo, tenho várias cicatrizes na perna e quando estou de short chamo atenção, mas não me incomoda tanto agora”. Atualmente, aposentada por tempo de trabalho, Rosi se mostra ser uma pessoa independente: dirije, sai para dançar, viaja muito e afirma: "Hoje moro em Cabo Frio e sou uma pessoa muito feliz. Sou guerreira. Faço tudo o que eu posso”.

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TAGS: acessibilidade | Mercado de trabalho | trabalho | Emprego | Deficientes físicos
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