Vinicius Gastin
Em busca do tetracampeonato do carnaval friburguense, a Unidos da Saudade investe para não deixar escapar a oportunidade inédita. A roxo e branco do Bairro Ypu, inclusive, abriu mão de algumas melhorias na quadra para conquistar o objetivo. Uma das novidades da escola para 2014 vai ficar em cima do carro de som, com a responsabilidade de cantar o samba-hino da escola e empolgar o público na avenida.
Anderson Fernandes da Silva, o Anderson Paz, 41 anos, iniciou a carreira na Lins Imperial e o sucesso resultou no Prêmio Samba-Net de melhor cantor do grupo B. Em 2001, foi contratado pela São Clemente, tendo integrado o Grupo Especial por duas vezes, até 2004. No ano seguinte, desfilou pela Acadêmicos da Rocinha, para onde retornou em 2008, após breve experiência na Estácio de Sá. Quatro anos depois, teve o grande salto na trajetória de músico ao ser escolhido como o intérprete oficial do Império Serrano. Anderson passou por mais algumas agremiações do Rio de Janeiro e de São Paulo e vai cantar, este ano, pela Porto da Pedra. Paralelo à carreira de intérprete, está próximo de lançar o novo CD de sambas, intitulado "Referência”, com seis músicas de sua autoria. "Em breve vamos lançar o disco e espero que seja em Nova Friburgo”, revela.
Contudo, esta não será a principal novidade deste ano para o cantor. No dia seguinte ao desfile na Marquês de Sapucaí, Anderson estará na Avenida Alberto Braune para conduzir o desfile da Unidos da Saudade, a segunda escola a se apresentar no domingo de carnaval.
O músico abre nesta edição a série de entrevistas com os intérpretes das escolas de samba da cidade, fazendo um comparativo entre os carnavais de Nova Friburgo e do Rio de Janeiro. Ele fala também sobre a expectativa de comandar o carro de som de uma escola de samba friburguense pela primeira vez.
Currículo de Anderson Paz:
2000: Lins Imperial
2001-2004: São Clemente
2005-2006: Rocinha
2007: Estácio
2008-2009: Rocinha
2010: Paraíso do Tuiuti
2011-2012: Rocinha
2012: Peruche e Mocidade Louca
2014: Porto da Pedra
A VOZ DA SERRA: Como surgiu o convite para ser o intérprete da Unidos da Saudade?
ANDERSON PAZ: O convite surgiu de um grande amigo meu, o Riec, que trabalha com carnaval no Rio de Janeiro. Foi uma indicação do Daniel da Ilha e desta forma eu fui convidado pela escola. Cheguei na Saudade e logo me senti em casa. A comunidade é muito acolhedora.
O que você conhece do carnaval friburguense? Como ele repercute na capital?
Já fiz show aqui e sabia da grandiosidade das alegorias e da plástica das fantasias. As escolas daqui não deixam a desejar. A dedicação é grande e elas trazem as alegorias e profissionais da capital para se aprimorarem. Nós servimos de inspiração para os profissionais daqui, e isso é muito bom. O carnaval de Nova Friburgo tem uma repercussão maravilhosa no Rio de Janeiro. Muito se fala da dedicação e do interesse pela arte, cultura e samba. É muito difícil fazer carnaval no interior. É uma pena que o dia do desfile bata com o do Rio de Janeiro.
Quais as principais diferenças que você destaca, principalmente no que diz respeito à questão estrutural?
As diferenças são muito grandes, enormes, mas o ambiente de estrutura é o daqui, e a gente tem que encarar. O músico brasileiro tem que estar preparado para tudo.
Como você analisa essa relação de troca entre os carnavais carioca e friburguense? Positiva?
Positiva, muito boa. As pessoas saem de lá para desfilar aqui e vice-versa. Profissionais vêm para cá e muitos estão indo pra lá também. Nova Friburgo já exporta talentos e não é de hoje. As autoridades municipais deveriam ter um olhar mais carinhoso com a arte, a cultura e o carnaval.
O carnaval deveria ter uma atenção maior por parte do poder público? Ou os gastos com a folia já são elevados para a realidade do país?
As autoridades municipais devem entender que a folia gera empregos. Para fazer uma alegoria, é preciso ter um ferreiro, um marceneiro, um eletricista e um soldador. Para fazer uma fantasia, tem que ter a costureira e a bordadeira. As escolas de samba atraem as pessoas, movimentam os restaurantes, cantinas e hotéis. Isso tudo faz girar dinheiro na cidade. Carnaval não é despesa e para crescer, a verba do governo destinada às escolas de samba deveria ser de, pelo menos, 20% da oferecida no Rio de janeiro. Se o governo tem dúvidas na aplicação dos recursos, fiscalize e seja rigoroso nas prestações de contas.
No Rio, as escolas de samba realizam projetos sociais. Acha que Nova Friburgo poderia seguir o mesmo caminho?
Sem dúvida. O presidente Fábio Montibello, da Porto da Pedra, criou um ateliê próprio, onde tudo é feito com a participação da comunidade. Nova Friburgo deveria seguir o mesmo caminho. Hoje, o carnaval é feito de parcerias. A Petrobras, por exemplo, é parceira dos projetos sociais de escolas de samba do Rio de Janeiro.
Na sua visão, o carnaval ainda é uma festa popular ou a concorrência pelo título interfere na essência da folia?
É uma festa popular, que agrega todas as culturas e etnias sem distinção. Seja rico ou pobre, todo mundo quer participar. A disputa pelo título sempre existiu, desde que o samba é samba. E sempre vai existir. Faz parte e tudo termina na avenida. Fora dela, todas são parceiras.
Pelo menos aqui, a dificuldade para a renovação dos componentes é grande. Como acontece na capital? O que você aconselharia para Nova Friburgo?
No Rio, não há essa dificuldade porque há projetos. No caso dos mestres-salas e porta-bandeiras, existe o projeto do mestre Manoel Dionísio, uma escola que trabalha a pessoa da infância até a idade adulta. O projeto também educa, pois o aluno não pode cursar as aulas se não estiver bem no colégio. Tenho a intenção de lançar o projeto "Intérprete do Futuro” e, para isso, já estamos em busca de parcerias. O foco são as crianças e adolescentes, e o objetivo é dar a elas noção de como se vestir, presença de palco, comportamento e oferecer uma escola de instrumentos musicais. As escolas de samba daqui deveriam criar os próprios projetos.
E a expectativa para o desfile da Unidos da Saudade em busca do inédito tetracampeonato?
A expectativa é de vitória e não poderia ser outra. A escola está concentrada na busca por esse título e está montando uma grande estrutura. O enredo é bom, com certeza vai trazer o tetracampeonato para a Saudade.
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