Cláudio Verbicário: “O plano de mobilidade em Nova Friburgo está começando errado”

segunda-feira, 09 de dezembro de 2013
por Jornal A Voz da Serra
Cláudio Verbicário:  “O plano de mobilidade em Nova Friburgo está começando errado”
Cláudio Verbicário: “O plano de mobilidade em Nova Friburgo está começando errado”

Henrique Amorim

O engenheiro civil Cláudio Verbicário, 67 anos, orgulha-se por ser o presidente com mais tempo à frente do cargo na Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Nova Friburgo (Acianf), entidade definida por ele como de vanguarda e que completa 96 anos de atividades no próximo dia 16. Ao fim de sua gestão — já que devido a uma mudança no estatuto por sua própria iniciativa a reeleição não será permitida —, Verbicário destaca a modernidade da Acianf, que reúne hoje aproximadamente quatro mil associados, mesclando autônomos, empreendedores, micro, pequenos e até grandes empresários. A Acianf, tida ainda como grande madrinha de tantas outras entidades de classe que surgiram através dela, tem ainda a característica de aglutinar representantes de diversos setores e participar ativamente da discussão dos mais variados temas locais. A Acianf, na verdade, promove sempre um grande debate e, nesta entrevista, Verbicário, microempresário do ramo de materiais de construção e engenharia, discute alguns temas que mexem com o cotidiano friburguense e também do pessoal do ramo que amarga o pagamento de 5% do faturamento em impostos. "Se a Petrobras tivesse que pagar esse percentual do faturamento dela, certamente quebraria. Então, os micro e pequenos empresários são ou não são uma grande força nesse país?”, indaga Verbicário. 


A VOZ DA SERRA: Recentemente a Prefeitura lançou o projeto do Condomínio Empresarial para atrair empresas à região de Conquista. Como a Acianf entende esta proposta? 

CLÁUDIO VERBICÁRIO: Ainda no ano passado, a Acianf e um grupo de empresários intermediados pelo Codenf (Conselho de Desenvolvimento de Nova Friburgo) reuniram-se com o governador Sérgio Cabral, seu vice, Luiz Fernando Pezão, e o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Júlio Bueno, para argumentar a necessidade de o condomínio empresarial de Nova Friburgo surgir com incentivos fiscais. Eles, na época, disseram que isso seria possível com um incentivo diferenciado e próprio para as empresas que se instalassem nesse condomínio. Além dos benefícios fiscais, as empresas que forem para lá poderão gozar de uma logística integrada, podendo compartilhar gestão de pessoal e de transporte em conjunto, talvez. É um novo conceito que visa desafogar o eixo urbano do município. Espero que o Estado cumpra o que prometeu, pois Nova Friburgo não pode continuar perdendo empresas que optam por cidades vizinhas atraídas por menos impostos. Tem que ser algo atraente e com solidez. Não pode ser um desconto nos impostos a título precário, pois as empresas fecham contratos com clientes a longo prazo e não podem ter que se mudar a qualquer momento. Qual cliente vai querer fechar negócio com a iminência de um risco desses?


AVS - Em sua opinião, para funcionar a contento, o condomínio deve ser composto por empresas de Nova Friburgo que devem migrar para o 3º distrito ou atrair empresas de fora? 

VERBICÁRIO: Entendo que prioritariamente o condomínio deva atender a empresas de Nova Friburgo, ainda mais devido a nossa logística urbana complicada, com trânsito ruim que dificulta o escoamento da produção e a dificuldade de expansão. No condomínio, essas empresas locais, além do incentivo fiscal, teriam toda uma infraestrutura conjugada. Muitas empresas estão em locais ruins, ou de risco (de chuvas) ou apertados que dificultam suas operacionalidades. Alguns desses locais, depois da tragédia, tornaram-se valorizados e há especulação imobiliária. As empresas, saindo desses locais, podem abrir espaço para novos empreendimentos. A Sinimbu mesmo é um exemplo. Tem dificuldades para se expandir fisicamente e está numa área que pode ser mais valorizada residencialmente. 


AVS - E as empresas de fora, se tiverem benefícios fiscais, não teriam interesse em vir para Nova Friburgo? Não seria mais uma opção para aquecermos a economia?

VERBICÁRIO: As empresas de fora podem ser bem-vindas no condomínio, mas em um segundo momento e desde que não concorram diretamente com as empresas locais, senão as daqui quebram. Não pode haver concorrência desleal. Temos sim é que priorizar as micro e pequenas empresas, que são a grande força desse país. Temos neste momento que sermos bairristas sim. O condomínio empresarial é uma discussão de mais de 20 anos e tem que ser de Nova Friburgo, tem que atender a Nova Friburgo e não funcionar com um contexto regional ou estadual. Se as empresas de fora não prejudicarem as daqui serão bem-vindas e, quem sabe, em um futuro, figurarem até como um porto seco em plena serra. Afinal, o condomínio fica próximo a uma rodovia federal (a BR-116 — Rio-Bahia). E olha que temos grandes indústrias em Nova Friburgo que poderiam se beneficiar. O condomínio de Conquista tem características próprias e é genuinamente local. Temos que estar unidos na defesa dos interesses de Nova Friburgo. 


AVS - Muito se fala atualmente em mobilidade e Nova Friburgo já começa a discutir o seu plano de mobilidade urbana. Qual a posição da Acianf sobre a tão prometida e discutida Estrada do Contorno? 

VERBICÁRIO: Sou favorável, embora reconheça que essa estrada, com traçado de 44 quilômetros ligando Mury ao trevo de Duas Barras, não irá resolver o problema do trânsito em Nova Friburgo por completo. Mas, com certeza, vai ajudar. Só em retirar daqui do nosso eixo rodoviário os caminhões e carros que vêm do Rio para as cidades vizinhas do Centro-Norte ou vice-versa, já vai ajudar. Não queremos no nosso eixo rodoviário os "carros de passagem”, que não contribuem em nada com a cidade, nem com a nossa economia. Todos esses motoristas querem logo é sair daqui e acabam ocupando espaço. Esses "carros de passagem” deverão desviar pela região de Vargem Alta. Lá sim eles serão bem-vindos, pois poderão parar para um cafezinho, um lanche, com calma, sem dificuldade para estacionar e, a reboque disso, incrementando a economia de lá. 


AVS - Mas a maioria dos caminhões de entrega vem descarregar em Nova Friburgo. Neste caso, a Estrada do Contorno não perderia um pouco o seu sentido?

VERBICÁRIO: Ao tirarmos os "carros de passagem” daqui traremos o problema do trânsito para cá, para discutirmos localmente. Os caminhões de entrega, sim, têm que entrar na cidade. Aí o problema será exclusivamente nosso, de Nova Friburgo. É aí que entra, na prática, o plano de mobilidade urbana propriamente dito, com a construção de vias prioritárias, corredores exclusivos para ônibus, veículos de serviços e táxis. 


AVS: Qual sua sugestão para contribuir na melhoria do trânsito agora, enquanto o plano de mobilidade não sai do papel? 

VERBICÁRIO: Uma solução simples. Limitar a velocidade máxima dos veículos em todas as vias do território friburguense. Que seja 30, 40 ou 50 quilômetros por hora. Mas com fiscalização. Garanto que, pelo menos, o número gritante de mortes por acidentes iria cair consideravelmente, pois num acidente com carro a 50 quilômetros por hora dificilmente haverá gravidade das vítimas. Não sei por que ainda não se fez isso aqui. Basta sinalizar com placas, instalar radares. Se for por falta de placa, a Acianf pode até custeá-las. Não dá para entender por que nossas autoridades não atentaram para isso ainda. Tem que frear a velocidade. 


AVS: E por falar em trânsito, uma polêmica recente na cidade é a redução no horário da carga e descarga. Qual sua avaliação sobre isso? 

VERBICÁRIO: O horário da carga e descarga foi a primeira medida do plano de mobilidade, e esse plano, a meu ver, começou errado. Em Niterói, cidade maior que Nova Friburgo, a carga e descarga ocorre durante todo o dia, facilitando o comércio e o trabalho dos entregadores também. Acredito que aqui deveria ser assim também. É preferível ter um caminhão estacionado descarregando durante o dia, do que a população pagar esse ônus, pois temos atacadistas locais que enfrentam essa dificuldade para descarregar e, obviamente, os custos extras disso acabam sendo repassados para as mercadorias. O que não pode é o caminhão vir de fora, chegar aqui e não poder descarregar, ou ficar parado ocupando vagas de outros. As grandes redes que vieram para cá têm depósitos no Grande Rio e pagam seus impostos lá. Elas não se prejudicam tanto com a carga e descarga reduzida aqui, mas também seus impostos não vêm para cá. Acredito que temos que ordenar melhor. Os lojistas não podem ter que arcar com custos de horas extras para receber mercadorias às 6h quando o comércio está fechado. E os carros fortes que param em qualquer lugar, de qualquer maneira, com seguranças ostentando armas na rua. Isso não prejudica? Isso não afugenta os clientes do comércio? 


AVS - A Acianf já está em clima de parabéns pra você por conta dos seus 96 anos. Como o senhor avalia a participação da entidade no dia a dia de Nova Friburgo?

VERBICÁRIO: Somos uma entidade de vanguarda e temos a característica de participar de todos os setores da cidade, debatendo, contribuindo, se integrando. Engana-se quem pensa que a Acianf lida só com os comerciantes. Participamos de discussões sobre o meio ambiente, trânsito, enfim, sobre o cotidiano. Somos, de verdade, aglutinadores, e com uma peculiaridade: tratamos todo mundo da mesma forma, desde o autônomo ao grande empresário. Oferecemos benefícios e nos orgulhamos por várias outras entidades terem surgido a partir da Acianf. Aqui somos Nova Friburgo e defendemos Nova Friburgo. Outras entidades são regionais e aí nossa cidade pode sair perdendo. Posso garantir que os interesses da Acianf se confundem com os interesses de Nova Friburgo. 


AVS - E a Nova Friburgo do futuro, como será? 

VERBICÁRIO: Espero e torço para que seja bem melhor. Temos que nos unir e defender os interesses de Nova Friburgo. Pensar grande, mas coletivamente. Nova Friburgo não é uma exceção no Brasil e depende muito da força dos pequenos empreendedores, que fazem mesmo a diferença neste país. Empregam, geram renda e desenvolvimento, mesmo sendo penalizados por uma carga tributária avassaladora. Eu sou um empresário pequeno cadastrado no Simples nacional e pago de 5% a 6% do meu faturamento em impostos. Pode isso? Os tributos excessivos inviabilizam o desenvolvimento. Mas, o povo brasileiro deve atentar para a necessidade de se valorizar o amor a Deus e aos seres humanos. Fomos criados para viver junto com os demais semelhantes e para isso temos que amá-los. Assim construiremos não só uma cidade, mas um mundo bem melhor. 

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