ARTIGO - Meu amigo Rodolpho Abbud

segunda-feira, 02 de dezembro de 2013
por Jornal A Voz da Serra

Nilton Baptista (*)

A eloquência, o timbre e a qualidade de interpretação tornavam a voz de Rodolpho Abbud inconfundível. Quando ele falava, no microfone ou não, todos o reconheciam. Um dom maravilhoso, um privilégio. 

A Rádio Sociedade de Friburgo, hoje Rádio Nova Friburgo AM, revelou para o Brasil muitos locutores famosos no passado ou no presente: Hugo Rodolfo, Carlos Rosemberg, Edmo Zarife, Pedro Osmar, Fernando Bonin, Ernani Huguenin, Sergio Ferraz, Horizonte e tantos outros. Mas a trajetória de Rodolpho é peculiar, porque ele diversificou ao máximo sua atuação. Começou como locutor esportivo, transmitindo as partidas do campeonato friburguense da antiga Liga Friburguense de Desportos, na sua época de ouro. Transmitiu igualmente o Campeonato Estadual do Rio de Janeiro, o Campeonato de Basquete de Nova Friburgo e demais eventos esportivos.

Logo Rodolpho se revelou um incomparável mestre de cerimônias, sendo convocado para apresentar inúmeros eventos. Nesta época, trabalhava no escritório da Fábrica de Filó, onde era responsável pelo setor de vendas, mantendo excelentes relações com os alemães, seus patrões que depositavam nele toda confiança, bem como com seus companheiros de trabalho. Rodolpho sempre foi um conciliador. E a vida inteira teve que se desdobrar para dar conta de suas múltiplas atividades, com viagens frequentes e nas piores condições. No entanto, seu sorriso estava sempre aberto. E sua motivação era interminável, tornando-o uma pessoa determinada, para quem não existia o impossível. 

Rodolpho nos contava histórias sem fim, citando com precisão datas, lugares e nomes, dono que era de uma memória de causar inveja e admiração a todos que o conheciam. É, sem dúvida, a personalidade mais importante da vida esportiva, social e cultural de Nova Friburgo. Por uma simples razão: Rodolpho sabia tudo!

Ele fez parte de uma geração que almejava na vida a VIRTUDE, assim mesmo, em maiúsculas. Era um homem muito bem-sucedido. Sim, porque o homem bem-sucedido é honrado, honesto, sincero, verdadeiro, leal, bondoso, protetor, solidário, prestimoso, piedoso, amoroso, responsável, cumpridor dos seus deveres. E todos estes atributos Rodolpho possuía fartamente. Estava sempre de bem com a vida, amava a natureza, não cansava de louvar as belezas da nossa cidade, as flores, os pássaros, as montanhas, os amigos, com seu otimismo e bom humor. 

Em meio a tantas realizações, descobriu-se trovador. E foi muito além de escrever trovas e declamá-las com maestria. Tornou-se presidente da Seção de Nova Friburgo da União Brasileira de Trovadores (UBT). Foram muitos anos de pesados encargos na realização dos Jogos Florais (54 anos ininterruptos) e diante das dificuldades encontradas, especialmente as financeiras, nunca desanimou e ante o ceticismo de quem o auxiliava, replicava com um "não se preocupem, dará tudo certo”. E assim foi porque ele não transferia responsabilidades e se dedicava com mais motivação. 

Tudo o que tem acontecido nos Jogos Florais de Nova Friburgo — o transporte, alimentação e recepção aos participantes, os encontros, as solenidades, a premiação e a edição de livros, a emoção e a alegria, o clima cordial — tudo, enfim, que cerca os Jogos Florais é obra de Rodolpho Abbud. Ele era capaz de fazer tudo acontecer como mágica. Tudo era com ele, mesmo não sendo dominador ou centralizador. Sua pedra de toque era o carisma e a amizade. "Tenho amigos que ajudarão, calma...” E ele tinha muitos amigos, não é, Família Stam? Não é, Braulio Rezende? Não é, Dilva Moraes? Não é, Edmar Japiassu? Não é, Elizabeth Souza Cruz? Tinha, acima de tudo, a amizade, o amor e a colaboração de sua incansável esposa, Cyrléa Neves, encantadora forma de conviver. 

Para entender o nível da produção trovadoresca de Rodolpho Abbud basta saber que em sua casa há um porão repleto de troféus, superpremiado que foi em todas as modalidades dos Jogos Florais. "O pessoal lá de cima me sopra no ouvido e eu vou escrevendo, escrevendo...” Modéstia ou demonstração de fé espírita não vem ao caso, suas trovas são ótimas. 

E dizia: "Gosto tanto de viver que a última coisa que quero fazer é morrer”. É, agora quem está lá em cima é ele; como é que vai ser? Temos muitas decisões a tomar porque ano que vem os Jogos Florais têm que ter o estilo Rodolpho Abbud. 

* Nilton Baptista, fã incondicional de Rodolpho Abbud

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