ARTIGO - A opressão dos bancos

terça-feira, 26 de novembro de 2013
por Jornal A Voz da Serra

Cláudio Verbicário

No dia 12 de janeiro de 2011 a região serrana do Estado do Rio de Janeiro foi assolada pela maior catástrofe natural até então ocorrida em território nacional. Em poucas horas as chuvas ceifaram a vida de pelo menos 905 pessoas, deixando aproximadamente 30 mil desalojados e desabrigados (embora, sabemos de fato, que esse número foi bem mais elevado). Mas logo no período seguinte à devastação, diversas medidas foram tomadas por parte do governo federal, estadual e municipal de modo a atenuar a situação dramática a que se encontrava a região. No dia 17 foi decretado o estado de calamidade pública em Nova Friburgo, contado a partir do dia 12 daquele mês, e que possibilitou diversos benefícios à população como a prorrogação do pagamento de tributos federais por seis meses e a antecipação do FGTS e dos benefícios do INSS. Contudo, todo esse sofrimento pareceu distante e irrisório para os dirigentes dos bancos que nada fizeram para ajudar à população serrana naquele momento crítico. Será que realmente não entenderam a gravidade da situação socioeconômica da região ou preferiram, figurativamente falando, "lucrar com a venda de lenços enquanto a população chorava”? Pois todos os bancos, inclusive os públicos, decidiram cobrar juros em cima das contas que venceram no período em que as agências estavam fechadas. Isso é um absurdo! 

Na época, a Firjan fez uma pesquisa com 129 empresas friburguenses, publicada em diversos veículos de comunicação da cidade, apontando que 79,8% delas sofreram algum tipo de impacto, 83,2% ficaram sem energia elétrica, as linhas telefônicas caíram em 73,4% dos casos, 67,6% das empresas trabalharam com quadro funcional reduzido, 38,2% enfrentaram alagamentos no entorno da empresa e 21,4% alagamentos dentro da própria empresa, dessas, foi constatada uma perda média de 70,3% do estoque de matéria-prima e 62,2% dos produtos já acabados. Esse quadro fez com que 65,3% das empresas tivessem problemas com a capacidade de produção, 62,4% tiveram dificuldades no escoamento dos bens e 59,5% não receberam matéria-prima adequadamente. Com essas informações já seria possível vislumbrar os danos provocados pela catástrofe, mas se o motivo para o descaso dos bancos foi a falta de interesse ou reconhecimento quanto a capacidade econômica da região, é então cabível salientar que até o período da tragédia o valor adicionado pelo setor agropecuário nestas cidades — Areal, Bom Jardim, Nova Friburgo, Petrópolis, Teresópolis, Sumidouro e São José do Vale do Rio Preto — era de R$ 268 milhões, com a indústria gerando R$ 2,1 bilhões e o setor de serviços R$ 7 bilhões. 

Ora, por que esses mesmos bancos que atendem tão prontamente aos interesses de grandes conglomerados são tão displicentes quanto às necessidades das micro e pequenas empresas? Tão insensíveis perante o drama do indivíduo? E nesta reflexão também estão inclusos os bancos públicos que se comportam com a mesma lógica de funcionamento dos privados e visam à obtenção de lucro em detrimento a sua real finalidade, que é a de promover um atendimento de qualidade à população ao tempo em que oferecem crédito a setores e clientes que não conseguem acesso no mercado privado. Novamente, não foi isso o que vimos durante a tragédia de 12 de janeiro de 2011 — alguns clientes pareceram ser mais importantes do que outros. Por quê? 

Por que até a alguns anos atrás, não havia nem banheiros públicos na maioria das agências? Por que os carros-fortes têm o direito de estacionar em fila dupla, atrapalhando o trânsito, a qualquer horário do dia? Por que, ao realizarmos uma transação bancária, recebemos um comprovante, um papelzinho, que praticamente se dissolve com a luz solar e aos bancos é garantida toda a segurança operacional? Por que são oferecidas tantas vantagens para essas instituições que não produzem nada, que não operam com recursos próprios e que são praticamente obrigatórias em nossa sociedade? Pois, afinal, é praticamente impossível sobreviver ao atual sistema capitalista sem vincular-se a algum desses bancos. E é através da dívida e dos juros que eles prendem seus clientes. Através de taxas exorbitantes como a do cheque especial, que atinge, em média, patamares de 150,46% ao ano, tendo como taxa mínima (!) a da Caixa, com 65% ao ano (fonte: Procon - 07/2013). Isso parece piada! Quem consegue quitar isso? 

Os lucros exorbitantes dos quatro maiores bancos, nos últimos anos, independem dos mandatários vigentes do executivo e da real situação de crescimento da nossa economia. Os próprios sindicatos dos bancários apontaram que no 1º semestre desse ano os dois maiores privados e os dois maiores públicos geraram a cifra aproximada de R$ 26 bilhões. Com tão notável quantia, podemos facilmente questionar: existe uma real necessidade de se cobrar os juros de 9,5% ao mês pelo cheque especial das micro e pequenas empresas? Existe tanta inadimplência nesse país para que isso seja aplicável? E indo além, indago — se há inadimplência, ela é causada pelos juros altos ou são os juros altos que causam a inadimplência? Seja como for, lamento pela nossa economia que, pelo visto, já se encontra tal como as ribanceiras da serra fluminense — a ponto de desmoronar. 

Não deveríamos ser um país dos banqueiros, mas aparentemente é isso! Como já foi dito por um dos mais proeminentes banqueiros da história mundial, Mayer Amschel Rothschild: "Deixe-me emitir e controlar o dinheiro de uma nação e não me importarei com quem redige as leis”. Essa lógica predatória e irresponsável já assola todos os países do mundo que se deixaram ficar à mercê dessas oligarquias financistas. E hoje, no Brasil, todos os veículos de comunicação e partidos políticos sofrem uma influência contumaz e irremissível desses grupos. A quem devemos recorrer? 

Enquanto essa e outras perguntas aguardam resposta, a população da região serrana ainda aguarda o ressarcimento do dinheiro que lhes foi indevidamente tomado. 

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