Dalva Ventura
Como tantos negros, Rafanelli Braz, o Rafa, tem o maior orgulho de sua cor. Fez questão de deixar o cabelo crescer para afirmar sua negritude e ser reconhecido como cidadão. O que, verdade seja dita, ainda estamos longe de conseguir. Neste Dia da Consciência Negra, seu depoimento representa um libelo contra o preconceito de cor ainda vigente no país.
Os negros hoje ainda são considerados por muita gente como sendo cidadãos de segunda classe e sofrem, de forma velada ou às claras, todo tipo de discriminação. Rafa nasceu em Itaocara, numa família humilde, mas que nunca deixou que ele e seus irmãos passassem necessidades. Ele se mudou para Nova Friburgo em busca de oportunidades de crescer profissionalmente. Seu sonho é ser ator e se prepara com afinco para brilhar na profissão, fazendo cursos e se apresentando em grupos amadores da cidade.
Hoje, com 21 anos, mora sozinho e trabalha numa butique da cidade enquanto se prepara e espera uma oportunidade de mudar-se para o Rio e participar de algum grupo de teatro. Rafa conta que hoje é bem resolvido com relação ao preconceito de cor, mas já sofreu muito por causa dele. "É uma coisa cruel, principalmente porque quando somos crianças e não sabemos nos defender é que somos mais agredidos”, conta.
Sim, há pais que não deixam seus filhos brincarem com "crianças de cor”. Na escola os negros são tratados de forma diferente pelos colegas e até por alguns professores. "Com 11, 12 anos, a coisa começa a piorar. Quando a gente anda na rua, percebe que as pessoas atravessam ou andam mais depressa quando dão de cara com um negro, com medo de serem assaltadas”, diz. Em sua opinião, este é um dos motivos que leva muitos meninos a se revoltar, tornando-se marginais. "Imagina o que representa para uma criança ser tratada como assaltante só porque é preta? Se ela não tiver uma base familiar legal e fé em Deus, isto pode vir a acontecer mesmo”, disse.
Rafa passou por isso tudo e, felizmente, se safou. Ficava danado da vida. Alguns anos depois, veio o choque pior. Envolveu-se com uma menina branca e os pais dela proibiram o namoro. Por um simples motivo: sua cor. "Eles me disseram na cara. Preferiam vê-la morta do que namorando um preto.”
Ainda bem que nesta fase, diz, "nós já aprendemos a lidar com o preconceito de uma forma, digamos, menos dolorida”. O que não impede uma pitada de sofrimento ao contar que muita gente prefere não subir no elevador com ele ou ainda ser atendida por outro vendedor na loja onde trabalha.
Uma das formas foi se reafirmar como negro, adotando um visual bem estiloso e o cabelo black power, que é o símbolo da sua raça. Alto e bonito, Rafa se impõe aonde chega. "Falo a verdade para você. Gosto de ser preto. Agradeço a Deus por ter nascido preto”.
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