Empresários dos ramos de transporte de carga e distribuição de mercadorias se queixam do horário para carga e descarga no centro da cidade que entrou em vigor em 1º de outubro. Segundo eles, o período das 6h às 10h, instituído pelo decreto municipal nº 153/2013, é curto para as operações e causa prejuízos de toda ordem às empresas que, mesmo aumentando o número de caminhões nas ruas, passaram a lidar diariamente com a devolução de produtos aos depósitos. Em reunião com o prefeito Rogério Cabral no fim de setembro, um grupo de empresários do comércio e do transporte de carga sugeriu que o horário fosse estendido pelo menos até 11h no eixo principal — formado pela Rua Moisés Amélio, Avenida Alberto Braune e praças Dermeval Barbosa Moreira e Getúlio Vargas — e até 13h nas ruas transversais, onde a Prefeitura, para atender à demanda, precisaria criar novas vagas e ampliar as baias já existentes. Entidades do comércio varejista alertam para o risco de desabastecimento na cidade.
O gerente da Vitória Log, transportadora de bebidas que atua para a Ambev em Nova Friburgo e região, Anderson Ceschine de Oliveira, comenta que, embora tenha mudado para 5h30 o horário de chegada de seus funcionários ao trabalho e colocado mais carros nas ruas, não conclui as entregas das mercadorias por falta de tempo hábil. Da média de 30 a 40 notas, de cerca de 120 produtos, mais de 20 voltam diariamente, gerando aumento de custos para a empresa e insatisfação nos clientes. Ele procura reprogramar o serviço, mas no dia seguinte esbarra nas mesmas limitações: prazo curto, estabelecimentos fechados antes das 9h e carga acumulada.
"Disponho de veículos pequenos, adaptados às ruas centrais das cidades, e nem com eles posso circular aqui, por causa da legislação municipal. Não encontro essas restrições em nenhum outro local. Não sei o que fazer, principalmente no fim do ano, com o acréscimo sazonal de vendas. Será que vamos ter que inundar as ruas de caminhões?”, questiona Anderson.
Responsável pelo transporte dos produtos da Coca-Cola na área que abrange os municípios de Cachoeiras de Macacu a Trajano de Moraes, Edson Mussi revela que dobrou — de três para seis — o número de veículos de sua empresa que vão para as ruas de Nova Friburgo de manhã e, ainda assim, o retorno de produtos subiu em 40%. Além do horário reduzido, Edson aponta a insuficiência de vagas como complicador da situação de carga e descarga na cidade.
"No Rio, como é lógico, as entregas podem ser feitas das 10h às 17h, dentro do horário comercial. Em Nova Friburgo, os bares abrem às 9h30 e, às 10h, se encerra a descarga de mercadorias. Não podemos nos esquecer de que o trabalho com bebidas envolve o recolhimento de garrafas. Esses problemas estão influindo no meu relacionamento com a fábrica, que sempre foi bom. Tenho recebido cobranças por e-mail e torpedo”, lamenta ele.
José Henrique Silva da Fonseca afirma que na sua empresa, Galera — que distribui refrigerantes, água mineral e biscoitos, entre outros produtos —, o índice de retorno saltou de 3%, que ele considera aceitável, para 20% em média, já tendo alcançado 22%. O empresário salienta que seus caminhões chegam a fazer quatro viagens do depósito, em Conselheiro Paulino, ao Centro, na tentativa de entregar mercadorias.
"Um dia, um carro foi três vezes a uma empresa e não encontrou vaga para estacionar. Ao contrário do que andam falando, o trânsito piorou com mais caminhões nas ruas. Estou enfrentando uma dificuldade enorme e fico bastante preocupado com o Natal”, sublinha Henrique.
Luiz Felippe Lisboa de Moraes Filho, da LF Neto, distribuidora de alimentos e bebidas, assegura que o custo fixo das empresas cresceu significativamente neste mês, com a necessidade de enviar mais carros e mais funcionários para as ruas. Como transtornos decorrentes do horário estreito de carga e descarga, ele cita a devolução de produtos, o cancelamento de notas, o adiamento dos serviços e a insatisfação dos clientes.
"Tinha dois veículos no Centro, neste momento tenho quatro e não consigo fazer com que as mercadorias alcancem seu destino. As entregas de 24 horas viraram de 48, e podem demorar mais, porque vão se acumulando”, destaca.
À frente da Ramos e Veiga, que entrega alimentos e laticínios no Centro, Emerson Pereira Veiga acha que um pouco de tolerância com quem já está descarregando ajudaria as distribuidoras a cumprirem suas tarefas.
"Eu mandava dois caminhões para o Centro, agora são três ou quatro, para adiantar. Nem sempre adianta, porque parte das vagas amanhece ocupada por caminhões de fora”, ressalta. O vice-presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de Nova Friburgo (Setcanf), Evaristo Monteiro, lembra que as primeiras reclamações surgiram entre os distribuidores de bebidas, mas que posteriormente todos os setores relataram dificuldades com a descarga de mercadorias. Ele reitera que, em função de as baias serem poucas e pequenas, muitos caminhões não podem estacionar e voltam com os produtos para os depósitos.
"Às vezes, acontece também que o veículo começa a descarregar, os guardas pressionam e os motoristas, com medo de ganharem pontos na carteira, interrompem a entrega. Outra coisa que a Prefeitura não levou em conta foi a Semana Inglesa: as lojas abrem mais tarde nas segundas-feiras, e o dia fica perdido para as transportadoras”, observa.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e do Sindicato do Comércio Varejista (Sincomércio) de Nova Friburgo, Braulio Rezende, chama atenção para a possibilidade de desabastecimento nas lojas da cidade. Juntamente com representantes das empresas de transporte de carga, Braulio solicitou ao prefeito que mantivesse o horário anterior das operações, até 13h (conforme decreto de 2012), e depois apresentou proposta alternativa, visando fechar um acordo que não atrapalhasse o projeto de revitalização das ruas do Centro. O governo municipal, porém, insistiu no período das 6h às 10h.
"Queremos uma cidade bonita e organizada, mas não podemos concordar com uma decisão que inviabiliza o recebimento de mercadorias pelas lojas. Com a proximidade do Natal, vislumbramos grandes aborrecimentos para o comércio se o governo não voltar atrás na questão de carga e descarga. Estamos à disposição do prefeito para sentar de novo à mesa e negociar”, assinala Braulio Rezende.
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