Gilberto e Elizabeth Paim produzem cerâmica que é pura arte

segunda-feira, 21 de outubro de 2013
por Jornal A Voz da Serra
Gilberto e Elizabeth Paim produzem cerâmica que é pura arte
Gilberto e Elizabeth Paim produzem cerâmica que é pura arte

Dalva Ventura

Na sala não tem mais lugar para os objetos de cerâmica que saem das mãos dos artistas Gilberto Paim e Elizabeth. Enquanto dezembro não vem acabam tomando conta de toda a casa. Já ocuparam os corredores e a sala de jantar. Tudo por causa das encomendas da sofisticada loja Interni, sua representante no Rio e em São Paulo, da SCA, aqui em Nova Friburgo e, principalmente, da próxima exposição do casal, no Centro Cultural dos Correios, no centro do Rio, um espaço nobre destinado apenas a artistas do mais alto nível. A mostra será inaugurada no dia 2 de dezembro e permanecerá aberta a visitação durante todo o mês. 

Pergunto: como conseguirão preencher aquele espaço grandioso do Centro Cultural dos Correios, com 180 metros com um pé direito de sete metros de altura com suas peças? A resposta vem na hora, mas eles precisaram quebrar a cabeça para chegar a uma conclusão. No final, tenham certeza, vai dar certo. Utilizando suportes e o auxílio de um superiluminador para destacar os delicados objetos criados por eles.  

A mostra em um centro cultural tão importante como o dos Correios não chega a surpreender quem conhece o trabalho deste casal de cariocas que há mais de 30 anos escolheu Nova Friburgo para viver e cujo trabalho é reconhecido internacionalmente. As cerâmicas que saem de suas mãos já foram expostas nas mais renomadas galerias do mundo, como a alemã Marianne Heller e a Beaux Arts Barth, no Reino Unido, ganharam as páginas da Elle Decoration (francesa) e faz parte do acervo da Galeria Espasso, nos EUA. Aqui no Brasil, já estiveram no Paço Imperial (RJ), no Museu de Arte Moderna (RJ) e na Fundação Armando Álvares Penteado (SP), só para citar algumas. 

No entanto, muitos friburguenses desconhecem que artistas deste porte vivem aqui bem pertinho da gente. Arriscaria dizer que eles são mais conhecidos lá fora do que na própria cidade. Paim e Beth só expuseram duas vezes em Nova Friburgo, uma no Country e outra numa pequena galeria que havia no Willisau, em tempos idos. Hoje, o pessoal da terra, quem sabe, talvez sequer prestigiasse exposições de suas obras, que pena. Não sabem o que estão perdendo. 

Enquanto isso, a dupla fica lá recolhida, no silêncio do ateliê, localizado nos fundos de uma aconchegante casa no Cônego, compartilhando ideias, experiências e produzindo obras para o cobiçado mercado internacional.  Todo o processo de execução — da modelagem à pintura das peças até a queima no forno e a embalagem — é feito pelos dois. "É um trabalho muito absorvente”, diz Elizabeth. Em determinados períodos, como agora, às vésperas da próxima exposição, acordam às 5h e dormem cada vez mais cedo.  

 

  

A cerâmica exige muita concentração durante todo o processo de criação


Sensibilidade e perfeição, suas marcas registradas   

Cada peça leva a assinatura de Paim ou de Elizabeth. Muitas delas, porém, são criadas a quatro mãos. Todas são lindas, aliás, muito mais que lindas, eu diria, perfeitas. Gilberto e Elizabeth não se contentam com menos. Estão sempre em busca da perfeição e isso fica nítido em cada um de seus trabalhos. Os estilos, conceitos, formas, texturas, cores e grafismos que saem de seu ateliê são muito estudados, cuidados. Para tanto, não param de pesquisar novos óxidos, tempo de queima e cores. O resultado é nada menos que esplêndido. 

Não à toa o casal conseguiu se destacar no cenário da arte contemporânea brasileira fazendo cerâmica, segmento que muitas vezes sequer é tratado como arte por aqui, ficando a meio caminho do artesanato e do industrializado. As peças criadas por eles são apreciadas por designers de interiores e arquitetos que buscam cerâmicas de alto nível técnico e estético para compor seus ambientes.

De certa forma, podemos dizer que Paim e Beth são autodidatas. Tiveram algumas aulas com bons professores de cerâmica, mas tiveram que batalhar muito por conta própria, pois no Brasil não existe assim uma escola, como nos Estados Unidos e na Europa. "Não há dúvidas de que do começo da carreira até agora, nosso trabalho vem se aprimorando”, afirma o artista. "Tornou-se muito mais suave: as curvas, a espessura, os sulcos e tramas, tudo”, complementa Beth. 

O processo de criação é lento e, de certa forma, penoso. As delicadas mãos de Elizabeth sofrem. O casal leva mais ou menos um mês para concluir as peças, entre o preparo da argila, o início da modelagem, a pintura e os retoques finais. As cores são aplicadas com a peça ainda úmida. As obras vão ao forno duas vezes — a primeira queima, a 800 graus, antes do acabamento e a outra, a 1.250 graus, depois que o esmalte é aplicado. 

A queima em alta temperatura é, aliás, a grande diferença do trabalho de Paim e Beth das que são encontradas normalmente no mercado. Eles explicam que até existem cerâmicas coloridas e artísticas, mas poucas utilizam esta tecnologia. "A gente queima muito alto, então elas são extremamente finas, mas não frágeis. Até quebram, mas isso não acontece com tanta facilidade como as queimadas em fornos de baixa temperatura”, diz Beth. "Tenho peças na cozinha que já caíram no chão, quicaram e não quebraram”, continua.  O que é surpreendente, pois as porcelanas que saem de suas mãos parecem quebrar à toa de tão finas. 

O que, aliás, pouco ou nada importa. A beleza inigualável das cerâmicas criadas por este casal é reconhecida por críticos e pelo mercado de arte. Em poucos ceramistas contemporâneos encontramos tamanha sensibilidade na modelagem das formas e o cuidado obsessivo com as peças que produzem. É um privilégio contar com artistas deste porte vivendo tão perto da gente. Nova Friburgo deveria providenciar uma mostra abrangente destas obras de arte. O mais breve possível. 

 

As tramas que mais parecem um tecido sobreposto à cerâmica são uma marca registrada de Gilberto e Elizabeth

O mercado de arte e design aposta em peças maiores e cores suaves



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