Neste dia 19, troque livros com desconhecidos

segunda-feira, 21 de outubro de 2013
por Jornal A Voz da Serra
Neste dia 19,  troque livros com desconhecidos
Neste dia 19, troque livros com desconhecidos

Texto e foto: Márcio Madeira

Que tal encontrar um livro inesperado e disponível num local público da cidade? E que tal proporcionar a um desconhecido a satisfação de ler um bom livro, que há muito virou objeto de decoração em um canto da casa?

De forma reduzida, é esta a proposta do "Ataque Literário”, movimento que surgiu há alguns anos nos Estados Unidos, vem ganhando força atualmente através das redes sociais — e que volta a ocorrer em diversas cidades do Brasil neste sábado, 19, data esta que vem sendo adotada anualmente para a troca dos livros.

Em Nova Friburgo o Ataque Literário vem sendo promovido pela jornalista Scheila Santiago. "Eu tenho um site de divulgação cultural (www.culturanf.com.br), e estou sempre buscando notícias de interesse para poder publicar”, explicou. "Então um dia eu me deparei no Facebook com uma postagem falando sobre esse movimento que vem sendo chamado de ‘Ataque Literário’. A ideia é que todo dia 19 de outubro as pessoas peguem um ou mais livros que estejam confinados em alguma prateleira de casa, e o deixem em local aberto e de comum acesso, como um ponto de ônibus ou um banco de praça, junto a uma pequena dedicatória que esclareça a situação e estimule a continuidade da corrente”, prosseguiu a jornalista.

"Em Nova Friburgo um movimento semelhante já aconteceu anteriormente. Algumas iniciativas isoladas, e também atividades propostas por Álvaro Ottoni, quando era secretário municipal Pró-Leitura. Agora, no entanto, a coisa parece estar crescendo naturalmente, com a ajuda da internet. As pessoas, inclusive, têm sugerido tirar uma foto com o livro e postar na rede, antes de deixá-lo em algum lugar da cidade”, continuou Scheila.

Em relação a locais e horários, não existe qualquer limitação. "Aqui em Friburgo algumas pessoas falaram sobre definir local e hora para as trocas, mas eu sou sempre a favor da liberdade total. A surpresa é parte importante dessa ideia, então nós esperamos que pessoas em todos os distritos ajudem a disseminar a leitura e a fazer com que esses livros possam circular por novos lares”, explicou.

A organização sugere ainda que os livros eventualmente encontrados sejam guardados após a leitura, para que possam voltar às ruas e contar suas histórias mais uma vez no ano que vem.

 

Mania de livros

João Baptista Herkenhoff

Todos nós temos o direito de ter manias. De minha parte cultivo a mania de livros. Nasci numa casa cercada de livros, numa cidade que ama livros (Cachoeiro de Itapemirim). Meu tio Augusto Emílio Estellita Lins, cuja residência é hoje a sede do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, era dono, provavelmente, da maior biblioteca particular do estado. Paulo, meu irmão mais velho, conseguiu organizar um admirável acervo de obras de autores capixabas.

 Minha mania de livros começa pela paixão de escrevê-los e publicá-los. Estreei nas letras numa edição mimeografada de péssima qualidade. A partir do segundo livro já me utilizei do invento de Gutenberg. Depois de três obras, editadas com recursos próprios, tive o primeiro livro publicado por uma editora. Mas as editoras não querem correr o risco do encalhe. Convocam o autor para suplementar a aventura adquirindo ele próprio seus livros, pelo menos quando se trata de obras de pouco trânsito comercial. Ter os exemplares acumulados dentro de casa incomoda. Destruir os livros constrange. O jeito é distribuí-los de graça.

No desempenho desta tarefa, começo mandando os livros para as bibliotecas públicas de todos os municípios do Espírito Santo. Mas essas doações não dão conta do estoque.

Tem início, então, uma nova etapa: mandar livros para bibliotecas públicas de todos os estados brasileiros.

Mas aí reflito: só vou oferecer meus próprios livros? Por que não distribuir livros de autores capixabas, que eu tenho em duplicata? E assim lá seguem títulos de Antônio de Pádua Gurgel, Athayr Cagnin, Gabriel Augusto de Mello Bittencourt, Geir Campos, Homero Mafra, Renato Pacheco, Rubem Braga.

Cumprida toda essa faina, verifico que ainda há livros que escrevi, prontos para viajar. Começo então o périplo internacional, fazendo ofertas não apenas para Portugal, onde brotou a "última flor do Lácio inculta e bela”, mas também para os países de Língua Portuguesa: Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Macau, Timor Leste.

Mas nem assim as prateleiras ficam vazias. Resolvo então ofertar livros para países onde não se fala português, mesmo aqueles cujo idioma está ao desabrigo da família linguística indo-europeia. Afixo em cada exemplar um release em idioma bastante conhecido — francês, inglês, espanhol, alemão ou italiano.

E assim, superados os obstáculos, os livros estão disponíveis em bibliotecas de todos os países do mundo, sem uma única exceção. Mantenho arquivadas as cartas que agradeceram a oferta.

 

João Baptista Herkenhoff é juiz de Direito aposentado e escritor. E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br 

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