Henrique Amorim
Única mulher na atual legislatura da Câmara de Vereadores de Nova Friburgo, a ex-lavradora ("com muita honra e orgulho”, como ela faz questão de frisar) e líder comunitária no distrito de Campo do Coelho, Vanderléia Pereira Lima, a "Vanderléia abrace essa ideia” (PRP), é uma explosão de carinho com aqueles que gosta e os que busca cativar, fazendo jus ao slogan que a tornou conhecida na política friburguense. Foi depois de muita resistência que a atual vereadora e presidente da Comissão da Mulher na Câmara percebeu que através da política poderia ajudar mais aos que precisam. E é com essa filosofia que admite pautar seu primeiro mandato, afiançado por 1.365 eleitores que confiaram em seu potencial após outras duas tentativas de eleição. Mas ela quer beneficiar muito mais a população. Toda de rosa, usando batom e com unhas pintadas no mesmo tom, hábitos até então incomuns para uma mulher rural, Vanderléia abriu o verbo e o coração para A VOZ DA SERRA. Confira.
A VOZ DA SERRA: Além do desafio de um primeiro mandato, você é a representante natural das mulheres no Legislativo. Como assim querer se tornar inesquecível em pleno início da carreira política?
VANDERLÉIA: Acho que pelo fato de vir de um berço pobre, sempre convivi com dificuldades e tiro lições disso. Com meu jeito alegre e sorridente cativei as pessoas e quando fui trabalhar na loja de materiais de construção com meu marido, Campo do Coelho era muito pequeno e na loja ficava uma das quatro ou cinco linhas de telefone que existiam por lá. Todo mundo dava e deixava recados ali. Era do telefone da loja que eram solicitados socorros para quem precisava ser levado ao hospital. Assim fui me tornando super conhecida. Nunca deixei de ajudar os outros e tenho o prazer de fazer algo pelas pessoas. Hoje, mesmo sem tempo devido à família e ao trabalho, sempre que posso acompanho alguém ao médico e levo a hospitais. Isso me faz bem. Quero por isso ter o orgulho de daqui a algum tempo ser lembrada não por fama, mas pelo fato de ter ajudado as pessoas, principalmente as que mais precisam. Quero ser marcada por ter promovido o bem.
A VOZ DA SERRA: Essa vontade de ajudar os outros, então, a fez enveredar pela política...
VANDERLÉIA: Desde a época que atuava como líder comunitária não faltavam convites para ser candidata a vereadora e eu sempre os recusei em voz alta. Jamais queria entrar na política, até que uma cunhada que foi mesária numa eleição me disse que uma eleitora, indignada com os políticos, lhe disse que aquela era a última eleição que ela participava. A tal mulher garantiu que só voltaria a uma eleição se fosse para votar em mim. Aí me deu o estalo. Eu, que me indignava tanto em ver injustiças e me sentia às vezes impedida de auxiliar alguém, decidi me candidatar. E mereci ter perdido as duas primeiras eleições. Não estava preparada.
A VOZ DA SERRA: Mas usar a política para ajudar as pessoas é para alguns um ato caracterizado como assistencialismo. Como você avalia esse conceito?
VANDERLÉIA: Já fui criticada na Câmara por isso, mas todo ser humano tem o direito de ajudar o próximo. Se isso é assistencialismo, serei uma assistencialista, fazendo projetos e elaborando leis para beneficiar toda a população. Quero fazer a diferença. Tento ser flexível, mas sei que para tudo é preciso ser forte. E firmeza e determinação eu tenho.
A VOZ DA SERRA: A sua simpatia é inegável e você realmente gosta de abraçar as pessoas. Como surgiu seu slogan de campanha?
VANDERLÉIA: O abraço faz bem, fortifica. Adoro abraçar os outros! Abraço mesmo todo mundo com força, com carinho e aconchego. Outro dia vi na TV que uma criança foi salva de um acidente graças ao abraço de outra pessoa que a manteve viva com seu calor corporal até o socorro chegar. Olha aí o poder do abraço! O abraço salva! Antes de colocar a campanha na rua, um senhor do Campo do Coelho me disse que político bom tem que ter um bordão e me sugeriu: "Mude essa ideia”, em alusão a candidatos da época. Não gostei. Ele veio então com o "Abrace essa ideia” devido à minha fama de abraçar todo mundo. Aí pegou.
A VOZ DA SERRA: No plenário há embates e você já participou de algum deles. Há frustrações?
VANDERLÉIA: O que me chateia mais é a dificuldade em fazer muita gente do povo entender qual é o real papel de um vereador. O pessoal acha que eu tenho o poder de fazer lei, de fiscalizar e fazer cumprir as leis nas ruas. Luto para esclarecer que o vereador é apenas um canal com o Executivo, que fiscaliza os atos do prefeito e sugere leis. Sou campeã em pedidos. Peço mesmo, indico, proponho, luto. Busco sempre fazer parceria com a Prefeitura naquilo que for bom para o povo. Critico aqueles que votam sempre contra tudo só por ser oposição. Assim o político não se posiciona contra o prefeito, ele fica contra o povo. Felizmente o prefeito (Rogério Cabral) se dispõe a vir à Câmara esclarecer dúvidas sobre seus projetos. Não podemos votar por votar sem conhecer a fundo o que pode mudar a vida das pessoas. Assim fizemos com o IPTU 2014. Discutimos, mudamos e no final o povo saiu beneficiado, caso contrário, o imposto ano que vem iria disparar.
A VOZ DA SERRA: Nesses nove meses de gestão você apresentou poucos projetos e indicações. É uma questão de priorizar qualidade à quantidade?
VANDERLÉIA: Não adianta elaborar muitos projetos e não conseguir emplacá-los. Todos os de minha autoria já foram aprovados em primeira discussão. Seguindo o município do Rio de Janeiro e depois uma lei estadual, propus multa a quem jogar lixo nas ruas. Me choquei ao ver na TV que uma criança se machucou ao cair numa escada rolante e por isso fiz um projeto para que os estabelecimentos de Nova Friburgo que têm essas escadas alertem o público sobre seus perigos. Muitos acidentes podem ser evitados assim. O mesmo fiz em relação às vans e ônibus escolares, com um projeto que prevê a fixação dos telefones dos órgãos de fiscalização daquele serviço. Muita gente quer reclamar e não sabe onde.
A VOZ DA SERRA: Uma de suas polêmicas na Câmara foi com o projeto que cria colônias de férias municipais. O pessoal das creches bradou. Como você se posiciona hoje sendo vereadora e mulher que sentiu na carne a dificuldade de criar filhos tendo que trabalhar?
VANDERLÉIA: Como mãe sei muito bem como é difícil ter que trabalhar e não ter com quem deixar os filhos. As trabalhadoras não têm férias fixas nos períodos das férias escolares, mas sei também que as merendeiras, auxiliares de creche e professoras têm direito por lei ao descanso, a férias. Fui criticada, pressionada. Posso até perder votos, mas não retiro nem mudo esse projeto. Sou da roça e sei do risco que é levar crianças para lavoura, expondo-as aos agrotóxicos. As colônias de férias que propus é algo à parte, que pode gerar novas contratações específicas para o pessoal da educação ou favorecer dobras ou horas extras para os que já estão na ativa. A ideia é incentivar atividades de recreação nas creches durante as férias de julho e de verão. Temos que evitar que as crianças fiquem ociosas, indo para as ruas.
A VOZ DA SERRA: E o programa de sua autoria que visa tornar a educação no trânsito um projeto de aula nas escolas municipais. O que a levou a propô-lo?
VANDERLÉIA: Quero conscientizar agora os motoristas de amanhã estimulando a educação, a gentileza nas ruas. Não é melhor dar sempre a preferência do que forçar ultrapassagens? As crianças absorvem bem esses ensinamentos. Espero que o prefeito concorde e sancione já.
A VOZ DA SERRA: Qual o projeto que você sonha em propor e ver transformado em lei?
VANDERLÉIA: Quero revitalizar o parquinho da Praça Getúlio Vargas, que está deixando muito a desejar. Quero vê-lo igual ou melhor que o de Olaria. Não que o de lá seja melhor, mas em Olaria o parquinho fica ao lado de uma cabine da PM. Estou estudando e em breve quero apresentar um projeto que contemple o parquinho da praça (Getúlio Vargas) com novos brinquedos e adaptados para crianças com deficiência física.
A VOZ DA SERRA: Daqui a cinco anos Nova Friburgo estará com 200 anos. Como você espera que a cidade esteja nesta ocasião?
VANDERLÉIA: Espero que Nova Friburgo esteja muito melhor com o Hospital do Câncer funcionando, o Hospital Raul Sertã bem melhor, com mais médicos e bem estruturado. A tendência até lá é só de crescimento, com o Condomínio Empresarial alavancando o grande potencial do distrito de Campo do Coelho, gerando renda, emprego e turismo. Quero uma cidade melhor e sustentável. Afinal, foi aqui o lugar que escolhi para viver com minha família. Quero ter o orgulho de poder ter feito alguma coisa para o bem-estar de todos. Tenho e espero sempre ter muito a agradecer a Deus.
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