As opiniões são unânimes. E para comprová-las basta observar o movimento de crianças pelas ruas na próxima sexta-feira, 27 de setembro. A tradição de distribuir doces no Dia de São Cosme e Damião diminuiu consideravelmente ao longo do tempo, e poucas pessoas ainda mantêm o hábito de rechear as sacolinhas com balas, bombons, pirulitos, merengues e doces diversos. Alguns fatores, como o crescimento de adeptos a outras religiões, dificuldades financeiras e, principalmente, as mudanças nos costumes da nova geração, são apontados como principais fatores para a redução do interesse por celebrar a data. A preocupação dos pais com a segurança dos filhos e a falta de valorização da cultura também foram lembrados pelos entrevistados por A VOZ DA SERRA.
Entretanto, a fé resiste diante deste cenário. As promessas feitas pelas pessoas aos santos, por motivos diversos, são capazes de manter viva a tradição, e aquecer o mercado nesta época do ano. O comerciante João Luiz da Silva, proprietário de uma loja especializada em doces no centro da cidade, confirma a queda na procura pelos produtos, mas garante que os investimentos compensam e espera um aumento nas vendas deste ano.
"Nas semanas que antecedem a data, pouca gente procura, e o movimento aumenta de fato na semana do dia 27. Na época da Páscoa esse fato também acontece. Reforçamos os nossos estoques para atender à demanda. O interesse diminuiu bastante, e a queda nas vendas foi bem acentuada, pois muitas pessoas terminam de fazer a promessa e param de distribuir, outras mudam de religião e não seguem mais a tradição. Ainda assim, acredito que esse ano será melhor do que o anterior para o comércio.”
De acordo com João Luiz, as vendas geralmente aumentam entre 10% e 15%. Os preços se mantiveram estáveis em relação ao ano passado, e apenas alguns produtos sofreram aumento. Desta forma, os pequenos reajustes não devem onerar os custos finais para o consumidor, que deverá gastar, em média, R$ 50 para confeccionar cem sacolinhas de doce.
O empresário João Luiz da Silva acredita em aumento nas vendas em comparação ao ano passado
A história de Cosme e Damião
Cosme e Damião nasceram na Arábia, por volta do século III. Os irmãos gêmeos — de nomes verdadeiros Acta e Passio — foram criados por uma família nobre de pais cristãos, e estudaram Medicina e Farmácia na Síria. Em Egeia, atuavam sem receber qualquer pagamento. Perseguidos pelo imperador romano Diocleciano, morreram por volta do ano 300 d.C.
O dia 27 de setembro lembra a trajetória dos jovens, também considerados os padroeiros dos farmacêuticos, médicos, das faculdades de medicina e protetores dos gêmeos e das crianças. Por isso, as pessoas criaram o costume de distribuir doces, como uma forma de homenagear os santos ou cumprir promessas feitas a eles.
"Durante a minha infância, observava uma quantidade muito maior de crianças em busca das sacolinhas de doces. A tradição se perdeu ao longo do tempo, e o aumento dos custos dos produtos contribuiu. Muita gente gosta de distribuir, mas às vezes não tem condições de comprar os produtos.” Lucia Martha, 51, dona de casa, São Geraldo
"Eu não costumo distribuir doces, mais minha família segue essa tradição. Entretanto, acho que as pessoas não se importam tanto quanto antigamente com esses costumes, mesmo aquelas que seguem o catolicismo. É uma geração diferente, criada de maneira distinta em comparação com as mais antigas, e a data agora é mais comercial. Acredito até mesmo que, daqui a um tempo, cairá no esquecimento.” Antônio Fonseca, 55, administrador de futebol, Centro
"Eu sou evangélica e não sigo esse costume, mas observo que até mesmo o interesse dos católicos por seguir a tradição diminuiu. Conheço muitas pessoas que perderam esse hábito ao longo do tempo, por diversos fatores. Na minha infância nós pegávamos doces, e lembro que era uma febre. Faltávamos até as aulas pra isso. Acho que hoje em dia as pessoas têm medo pela questão da segurança, e ficam receosas até mesmo de abrir a porta de casa para distribuir as sacolinhas. Os pais também ficam com medo de liberar as crianças para sair às ruas e pegar os doces.” Juliane Barroso, 35, comerciante, São Pedro da Serra
"Minha família nunca seguiu a tradição de fazer as sacolinhas, mas na infância eu sempre catei doces. Acho que hoje esse costume diminuiu bastante.” Anderson Caxias, 34, comerciante, Prado
"A tradição diminuiu bastante com o passar dos anos. Eu não costumo distribuir doces, mas percebo isso com o movimento menor nas ruas. Acho que o lado financeiro pesa bastante, mais do que a mudança de religião. Os próprios seguidores da religião católica perderam esse hábito.” Jane Flores da Silva, 48, auxiliar de serviços gerais, Braunes
"Fiz uma promessa pelo meu filho, e esse ano vou distribuir doces. Assim que ele nasceu, a médica diagnosticou que provavelmente teria problemas de audição. Fizemos outros exames, que constataram que não há nada que possa comprometê-lo. Como forma de agradecimento, eu farei as sacolinhas. É importante cultivar esse tipo de fé, embora a tradição tenha se perdido ao longo do tempo por vários motivos. É difícil ver as crianças correndo atrás de doces. Na minha época, os colégios nem tinham aula na data.” Lillian Sanchez Thurler, 31, comerciante, Conselheiro Paulino
"Eu quase não saía de casa para pegar doces, e mesmo assim, ganhava bastante. Aquele ânimo e empolgação pelo Dia de São Cosme e Damião diminuíram muito. Não observamos mais tantas crianças pelas ruas.”Yuri Souza, 25, comerciante, Olaria
"Certa vez, minha filha teve alguns problemas de respiração e eu fiz a promessa para São Cosme e Damião. Durante sete anos eu distribuí as sacolinhas, e nos três seguintes, cestas básicas para um orfanato. Eu acredito nessas tradições, e acho que as pessoas perderam um pouco da fé.” Josi Figueira, 50, comerciante, Conselheiro Paulino
"Desde criança, eu gosto da data. No entanto, o mundo mudou muito e se tornou materialista. As pessoas perderam a espiritualidade, o respeito, a cordialidade, o carinho e só pensam em ganhar dinheiro. As crianças são criadas de modo diferente, são acostumadas com videogame e computador. Acho que os costumes tradicionais deveriam ser resgatados, pois fazem parte da cultura do nosso país. Deveríamos valorizá-la, como fazem os americanos no Halloween, por exemplo. Isso deveria ser passado pelos pais e pelas escolas, pois estamos perdendo as nossas tradições.” Marco Orlando, 42, comerciante, Centro
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