CNSD: 120 anos de histórias para contar

quarta-feira, 04 de setembro de 2013
por Dalva Ventura
CNSD: 120 anos de histórias para contar
CNSD: 120 anos de histórias para contar

Antigamente era conhecido como "Colégio das Irmãs”. Hoje, 120 anos depois, alunos, pais e até mesmo os professores passaram a chamá-lo simplesmente de "Dores”.  Naquele tempo o Colégio Nossa Senhora das Dores era um educandário de padrões educacionais e morais bastante rígidos, onde só estudavam meninas, sob a supervisão direta das "madres”. De lá para cá o mundo mudou e o colégio acompanhou esta evolução. Passou a ser misto, substituiu os antigos uniformes de saias compridas pregueadas por calças compridas. Modernizou-se, enfim.

As irmãs doroteias chegaram a Nova Friburgo em meio ao rigoroso inverno de 1893. Alojaram-se numa casa alugada na antiga Praça XV de novembro, atual Getúlio Vargas. No dia 10 de julho o Colégio Nossa Senhora das Dores abria suas portas para as primeiras sete alunas. Dez anos depois já eram 50. O projeto foi conquistando o povo friburguense e as populações dos municípios vizinhos. 

O número de alunas crescia e, em agosto de 1897, o educandário se tornou o maior colégio feminino da região, tendo então que se transferir para um imóvel maior, o antigo Hotel Central, que foi ampliado e remodelado para esta finalidade. Começava aí a história de um colégio que vem marcando com alegria e orgulho muitas gerações.

Jamais perdeu suas características básicas, que consistem em oferecer uma educação de qualidade associada a uma sólida formação de valores. Sua filosofia se baseia na busca do desenvolvimento acadêmico dos estudantes, sem deixar de lado, porém, o interesse pela arte e pelos esportes. Aberto às exigências de uma época em veloz e constante mutação, o CNSD faz questão de se manter antenado com as novas experiências pedagógicas, investindo na formação dos docentes e equipe pedagógica.

Atualmente o CNSD mantém turmas de educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, com cerca de 900 alunos matriculados. Conta com modernas salas de aula e laboratórios muito bem equipados. Durante o recreio os estudantes passeiam pelos belos jardins e alameda de bambus da escola, como já fizeram suas mães e avós. Nas modernas quadras e no ginásio do colégio, praticam os mais diversos esportes. E ainda contam com um auditório dotado de todos os recursos técnicos exigidos para apresentações artísticas. Tudo isso sem deixar de lado o foco principal do colégio, que é a educação. 

Para comemorar tantas vitórias, o Colégio Nossa Senhora das Dores está promovendo o seminário "Questões para a agenda da escola contemporânea”, no Teatro Sânia Cosmelli, desta quinta, 5, a sábado, 7 (confira a programação no quadro), com participação de grandes nomes da educação e da psicologia no país, entre elas as friburguenses Eliana Yunes e Anna Carolina Lo Bianco. O ponto alto, porém, é a mostra de fotos antigas do acervo do colégio, que foram recuperadas pela fotógrafa Regina Lo Bianco e estarão expostas no foyer do teatro. 

As primeiras sete alunas

Maria Lima, filha de Antonio e Laudiceria Torres de Lima

Rosa Lima, filha de Antonio e Laudiceria Torres de Lima

Clara Emilia Araujo, filha de Hypolito e Emilia de Araujo

Estella Borell, filha de Francisco e Esther Borell 

Margarida Heggendorm, filha de José Maria de Carvalho e Maria Heggendorm

Maria Heggendorm, filha de José Maria de Carvalho e Maria Heggendorm

Francisca Laper, filha de João e Anna Laper

Questões para a agenda da escola contemporânea

Quinta, 5

17h30 - A escola diante das culturas da infância e da juventude

(Paulo Cesar Carrano, professor da UFF - Observatório Jovem)

Sexta, 6

8h30 – Palestra: O papel das narrativas na formação da personalidade e do imaginário infantil

(Eliana Yunes, professora da PUC-Rio e cátedra Unesco de leitura)

10h30 - Oficinas 

A linguagem da arte na educação (Maria Cláudia Leão)

Práticas de ensino de Língua e Literatura (Anabelle Loivos Sangenis)

A matemática da Educação Infantil ao 5º ano: reflexões e tendências (Maria Fávia Lopes Coelho)

O corpo na educação (Bibiana de Sá)

Musicalização para educadores (Larissa Goretkin Abrantes)

Jogos e atividades lúdicas como elemento de estimulação cognitiva (Equipe do método Supera)

13h30 – Palestra: Avanços da avaliação no século 21 (Thereza Penna Firme, da PUC-Rio, UFRJ e Cesgranrio)

15h30 – Oficinas

Círculos de construção de paz (Maria Cristina Pereira Batista)

O sentido de ser família (Rogener Almeida Santos Costa)

Contação de histórias (Eliana Yunes)

Gestão escolar em tempos de mudança (Zuleica Reis Ávila)

Linguagem oral e suas contribuições para a leitura e a escrita (Tania Alonso Chaves) 

Jogos e atividades lúdicas como elementos de educação cognitiva (equipe do método Supera) 

17h20 – Mesa-redonda: Questões para a agenda da escola contemporânea, com Ana Maria Loureiro, do Colégio Santo Inácio/RJ, Vera Lúcia Teixeira da Silva, da Uerj e SEE/RJ, e Anna Carolina Lo Bianco Clementino, da UFRJ) 

Sábado, 7 

9h – Palestra: O papel da Orientação Educacional e da Orientação Pedagógica na escola católica contemporânea (Hamilton Werneck)

O Colégio das Irmãs

Teté Bertão 

Nas décadas dos anos 40 e 50, quando chegava a hora de entrar para o grande Colégio das Irmãs de Nova Friburgo, as mocinhas friburguenses ficavam na maior expectativa. Chegava a dar uma dorzinha na barriga, um misto de susto agradável com espera nervosa. Parecia com a que sentiam quando se esperava o namorado antes da matinê de domingo na calçada do Cine Eldorado. 

Uma coisa nova. Iriam largar para trás os passeios de bicicleta na Praça 15, a patinação no ringue do Friburgo e o footing com sorvete de coco na calçada da Única. Nesse tempo eu fui testemunha ocular do talvez mais belo espetáculo oferecido aos forasteiros que frequentavam a cidade. 

Ali, na calçada da Única, sentados em confortáveis cadeiras de vime, eu e meu inseparável amigo daquela época, J.G. de Araújo Jorge, o poeta das normalistas e dos Jogos Florais, sempre por volta das 11h, assistíamos ao desfile, isto é, a saída das alunas do Colégio das Irmãs.

Eram centenas de mocinhas lindas, em grupos alegres, transformando a praça num pomar de mulheres em flor. O azul das saias, o branco das blusas e ao alto, o verde dos eucaliptos. Ao redor das meninas, a policromia das azaleias, amarílis e lírios. Um espetáculo inesquecível, mas que acabava muito de repente. 

Ainda tenho na minha mente colorida a imagem daquela cena, do frenesi dos eucaliptos filtrando os raios de sol em tiras sobre as meninas. E foi nesse cenário de palco aberto que conheci dona Ana Iris Mastrangelo, aluna de blusa branca e saia azul escuro. Será possível que já se passaram 45 anos desde que a vi pela primeira vez?

Todos que viveram essa época em Nova Friburgo se recordam desse espetáculo repetido todos os dias às onze horas da manhã. Quer queiramos, quer não, onde quer que formos, essa visão irá conosco, porque nada poderá apagar de nossas almas as lembranças que nelas deixou gravadas o querido colégio das irmãs doroteias e suas alunas. (18 de maio de 1993. Texto inédito do livro "Viagem no Tempo”, com crônicas publicadas em A VOZ DA SERRA, a ser lançado em breve.)

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