Texto: Agnes Lutterbach / Foto: Marcio Madeira
Uma mulher com um brilho nos olhos intenso, repleta de garra e determinação, apaixonada pela vida e que vive para ver o filho feliz. O livro "Julio – Quando o Amor Supera a Dor” conta uma história real, mostrando a dedicação de uma mãe para que o filho consiga tudo o que tem direito —o menino não é como as outras crianças, é um adolescente especial.
Julio Cesar tinha a expectativa de vida de 4 anos e no dia 3 de agosto completou 18 graças à batalha de Marcia. Ela sempre teve vontade de escrever esta trajetória e em 2012 concluiu o livro contando o que vivenciou em 17 anos de amor, luta e força de vontade. O título do livro mostra um sentimento real: "Não é a dor de ter um filho especial, mas a dor do preconceito, da falta de informação das pessoas. Muitas olhavam meu filho e faziam cara feia, se afastavam. Ele não é anormal, ele é especial”, afirma a autora.
Marcia teve que buscar e aprender a lidar com o filho sozinha, não recebeu orientação sobre como lidar com a doença. E nem os médicos sabiam o que era a doença. "Levei 11 anos para descobrir o diagnóstico. Ele nasceu perfeito. Quando bebê teve uma otite e devido à febre alta teve a primeira convulsão”, conta. Os exames eram sempre normais, desconfiavam que era doença degenerativa progressiva. Fez tratamento com neurologista, as crises sumiam e reapareciam em maior número. "Em Nova Friburgo não havia recurso, ele foi encaminhado para o Rio de Janeiro, tentar o diagnóstico, mas foi em vão. Mesmo com os medicamentos, chegou a ter 120 convulsões diárias”, conta.
Julio Cesar ama a vida e persiste com toda garra
Devido às convulsões, o menino parou de andar, falar, desenvolveu atrofia dos membros, refluxo (tudo que comia, vomitava) e para se alimentar era difícil. "Eu tratava meu filho com conta-gotas, era assim que ele conseguia comer”, conta a mãe. Tomou reforço de uma vacina e a reação foi uma alta febre, que gerou uma convulsão muito forte e ele não voltou. "Isso poderia ter causado uma paralisia cerebral, mas Deus salvou a vida do meu filho”, revela.
Durante a internação do filho, Marcia conheceu um médico que acompanhava um paciente de Nova Friburgo com o mesmo histórico do Julio. Foi quando conseguiu o endereço de um médico em São Paulo, que deu o diagnóstico: Lennox Gaustaut (crises convulsivas de difícil controle medicamentoso, estágio mais grave da epilepsia). Para chegar a São Paulo a mãe lançou em 1998 "SOS Julinho - Campanha Viva e Deixe Viver”, vendendo rifa e chaveirinho, e com apoio da imprensa local conseguiu seu intento.
O neurologista infantil com pós-doutorado em erros inatos de metabolismo Fernando Kok foi quem diagnosticou Julio, passando um medicamento novo, que conseguiu controlar as convulsões. Conseguiu recuperar parte da motricidade bruta, mas devido a um bloqueio não voltou a falar, a motricidade fina e o equilíbrio não foram recuperados; de apático, tornou-se hiperativo. A doença traz um retardamento no desenvolvimento físico e um comportamento autista. Hoje tem dificuldade com o lado esquerdo do corpo, dificuldade para caminhar, não come sozinho, usa fraldas e só presta atenção nas coisas inanimadas. "Ele tem a mente de um bebê de 1 ano e meio”, explica Marcia.
É uma síndrome rara, ainda desconhecida da medicina. Cada um responde de uma maneira diferente, não tem cura "Julio não tem lesões cerebrais e sim um mau funcionamento do cérebro”, conta a mãe.
As visitas ao médico paulista são anuais e mesmo tomando remédio ele ainda tem alguns espasmos. "Ele não pode sentir frio, calor, dor ou emoção forte, porque geram convulsões. Ele pode passar tempos sem ter”, explica Marcia.
Respeito mútuo e amor ao próximo
O grande aprendizado de Marcia Curty é o amor incondicional. "Ser mãe de criança especial é você se colocar no papel inverso, você não ensina, mas aprende. Vive cada dia como se fosse o único, é uma vitória ou uma derrota”, mostra. Aprende a amar o filho como ele é, e não como gostaria que ele fosse. "Julio só me pede amor, carinho, atenção 24h por dia. Tenho orgulho do meu filho e faço tudo por ele”, argumenta.
O livro quer despertar o respeito mútuo, o amor ao próximo. "Fui vítima de preconceito, as pessoas achavam que a síndrome pegava no toque. Tento mostrar que não é assim. A maior doença da humanidade é a falta de informação”, esclarece. Julio se supera a cada ano, tem um amor grande pela vida e se orgulha de estar vivo.
Na tragédia de 2011, 90 convulsões de Julio
O desastre climático ocorrido em Nova Friburgo no 12 de janeiro de 2011 trouxe não só perda material, mas envolveu a saúde de Julio. "Perdemos nossa casa e ele sofreu muito com a mudança. A reação dele foi voltar a ter convulsões, chegavam a 90, diariamente”, esclarece. E para que fosse controlado, já que o remédio não fazia tanto efeito, foi preciso encontrar uma residência que parecesse com a antiga. "Tive que alugar uma casa que tivesse espaço devido à locomoção na cadeira de rodas e fosse parecida com a que ele tinha. Ele nasceu naquela casa, se habituou e infelizmente a chuva tirou dele”, emociona-se Marcia.
Mãe e filho moraram de favor, receberam ajuda dos amigos, aluguel social, ajuda da Cruz Vermelha e felizmente superaram. Hoje aguardam a indenização do imóvel. "Preciso de uma casa adaptada para o Julio, pois ele não é mais um bebê. Ele tem a minha altura. Quero oferecer a ele uma condição digna, meu objetivo maior é o bem-estar do meu filho”, aponta.
Lançamento do livro será no dia 31: "Julio – quando o amor supera a dor”
No próximo dia 31, às 20h, no Centro Espírita Eternidade (Rua Melita Melhado 24/ fundos, Prado) será realizado o lançamento do livro "Julio – quando o amor supera a dor”. O exemplar custa R$ 25 e pode ser adquirido através do telefone (22) 8844-9212, com Marcia Curty. Parte do valor, 15%, será doado para caridade.
Enxergar que a sua dedicação valeu a pena, o esforço se convertendo em uma vitória, é de fato uma dádiva! Uma mãe que recebeu a notícia que o filho não conseguiria viver e que, graças a ela, ele tem hoje 18 anos. Porque o amor supera a dor e mostra que, quando se é mãe, se é guerreira.
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