Agnes Lutterbach
Os olhos são atraídos para peças que transmitem emoção e fazem o observador ficar com o coração pleno de felicidade. O mais impressionante é como elas foram trabalhadas: geradas do caos, são transformadas em obras belíssimas, enriquecidas pelas mãos de um artista friburguense que morou 14 anos fora do país e que voltou às origens em 2006. Durante esse período fora começou a trabalhar com madeira em Portugal. Foi uma nova descoberta. Mario Moreira busca a história da madeira, observa as cicatrizes e se existe queimaduras, partes podres ou rachadas; mas não descarta o que encontra: na verdade, isso é o que desperta seu interesse. Uma das peças da nova exposição foi originada na época da tragédia de 2011. "Fiquei constrangido em ver beleza no meio do caos. Uma amiga encontrou um pedaço de madeira no meio da estrada e pediu que eu fosse ver. Depois de muitas tentativas, conseguimos pegá-la”, afirma. Ela foi trabalhada com tinta e teve suas curvas realçadas.
A exposição conta com 12 obras. Quatro delas estão ao ar livre. Mario Moreira afirma não ter momentos específicos de inspiração. "É todo dia, o olhar trabalha o tempo todo. Como não sou figurativo, o contato com a madeira é que faz isso”, explica. A madeira mostra possibilidades infinitas, surpresas proporcionadas a todo tempo: já foi um ser vivo e mesmo morta possibilita aprendizado. O artista diz que sua finalidade não é ambiental. "Não é um trabalho com intuito ecológico e nem de reciclagem, mas sim de encontrar beleza onde acredita-se não existir.”
Alguns trabalhos foram desenvolvidos com os eucaliptos cortados da Praça Getúlio Vargas. "Essa madeira é de um eucalipto de 130 anos, foi tratada como lixo. Quem a vê percebe a beleza. Um patrimônio de Nova Friburgo que deve ser respeitado e não deixado cair na cabeça de quem passeia pela praça”, expõe. É preciso possuir um olhar sensível e capaz de enxergar beleza no que foi jogado fora, tornado lixo por estar sujo de lama ou barro, abandonado de qualquer maneira. Contar a história de Nova Friburgo através das peças, prestar atenção no que a natureza oferece, inventar solução de problemas, ter criatividade para tornar o caos um atrativo turístico. Isso é o que Mario Moreira faz. "Como artista eu presto atenção naquilo que me cabe. Vejo arte onde ela pode existir”, diz.
É preciso interagir com as esculturas: não só vê-las, mas tocá-las. Compreender que um artista divide sua alma com aquilo que esculpe, a peça trabalhada, os minuciosos detalhes que requerem atenção. É necessário que o observador permita ser invadido pelo que existe de grandioso no ser humano: a sensibilidade.
A exposição vai até dia 31, de terça a sexta, das 8h às 17h, sábados e domingos, das 9h às 18h. No dia 16 haverá bate-papo com o artista. Com entrada franca, vale uma esticada à galeria do Sesc, que fica na Avenida Presidente Costa e Silva 231, Duas Pedras. LIVRE
Deixe o seu comentário