Princesas, sapos e bruxas como pesquisa dentro da psicanálise

quarta-feira, 07 de agosto de 2013
por Jornal A Voz da Serra
Princesas, sapos e bruxas como pesquisa dentro da psicanálise
Princesas, sapos e bruxas como pesquisa dentro da psicanálise

Agnes Lutterbach

Símbolo da literatura infantil, os contos de fada marcam a infância e são objeto de estudo da psicóloga Ana Cândida Scheer Foch-Arigony, que atualmente faz formação em psicanálise. 

Ana optou pelo curso de Psicologia ainda no pré-vestibular. "Eu gostava mesmo da medicina, mas sou contra a medicalização desenfreada. Existem tratamentos que podem ser usados além dos medicamentos”, diz. Quando estava na faculdade, Ana descobriu sua paixão pela psicanálise: "Foi amor à primeira vista. Sou freudiana e tenho grande admiração pela autora e psicanalista Melanie Klein”, afirma.

Fazendo formação psicanalista no Rio de Janeiro, Ana Scheer estudou e atende uma vez por semana em Nova Friburgo, tendo como público-alvo na cidade as crianças. Seu primeiro artigo, "Análise do Conto de Fadas O Rei Sapo”, partiu da ideia de fazer algo inovador, já que desconhecia autores brasileiros que falassem sobre o assunto. "Sempre gostei dos contos de fadas e das historinhas da Disney”, fala. Pesquisou "Chapeuzinho Vermelho”, "Alice no País das Maravilhas”, "A Bela e a Fera”, "Branca de Neve”, "A Bela Adormecida” e muitos outros. Chegou a alguns não muito conhecidos e optou por "O Rei Sapo”. A decisão veio por ser uma história simples com vários temas de interesse da psicanálise. "Há três ensaios sobre a teoria da sexualidade, onde o terceiro foi trabalhado mais a fundo: as transformações da puberdade”. Outros temas também se destacam: o complexo de Édipo, da castração, a escolha de parceiros amorosos, narcisismo e autoerotismo. "Refere-se à primeira infância, na qual a criança tem o prazer no próprio corpo. Tem a ver com as fases do desenvolvimento psicossexual de todo ser humano. Um exemplo é a criança que chupa dedo”, define Ana. 

Ana Scheer tem muita admiração pelo pai da psicanálise e afirma que queria escrever sobre a teoria da sexualidade, mas teve "que pensar numa maneira de não se tornar um resumo do livro do Freud”. Abordando os contos de fada, o mais difícil para ela foi encontrar autores que falassem sobre o assunto — até descobrir o livro "A Psicanálise dos Contos de Fadas”, de Bruno Bettelheim. 

No tratamento de pacientes em Nova Friburgo, Ana Scheer usa a técnica psicanalítica da associação livre. "Trabalho com o que o paciente me traz. A criança está livre para apresentar e trazer o que quiser.” Isso inclui brinquedos, papéis, lápis de cor, massinha, livros e diversas coisas que as crianças possam manusear de maneira lúdica. "Tive um paciente que me trouxe fábulas, um livro com várias. Líamos e desenvolvemos uma história a partir do que foi lido. A brincadeira tem que ser sugerida e brincada como a criança traz e sugere”, argumenta. 

Ana Scheer quer continuar nesta linha de pesquisa, pois, afirma ela, lhe proporcionou muito conhecimento. "Uma coisa que me chamou muito a atenção foi que os contos de fadas têm uma ligação direta com o psiquismo da criança, no sentido de que ela se identifica com as personagens. Isso possibilita um alívio para que possa se dar conta da grande intensidade que é ser criança”, revela. A criança lida com uma grande turbulência de sentimentos, e começa a se enxergar através do olhar dos pais. É muito comum escolher um dos genitores para se identificar e outro para amar, no sentido do amor romântico, simbólico. "Toda relação de amor é uma relação de ódio. A criança possui dificuldade de entender isso e tem que conviver com o sentimento de culpa e tentar dar conta. Entender que por mais que ela deseje mal aos pais, isso não vai acontecer. O psicanalista serve para ela ter essa consciência”, explica. 

O universo infantil gira em torno do mundo mágico, em que histórias que envolvem princesas, reis, bruxas, fadas e sapos têm a ver com todos os sentimentos que estão dentro da criança. Quando pequenos, sonham em casar com príncipes e têm medo do lobo mau. Não querem comer a maça envenenada, e querem um sapatinho de cristal. Viajam como Peter Pan e criam a ilusão de que é possível conhecer os castelos, onde o pó de pirlimpimpim mudaria toda a sua vida, fazendo-as viajar pelo faz de conta.         


CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS:
Publicidade