"Uma verdadeira caixa-d’água”. Assim Sérgio Poyares, chefe de fiscalização, se refere a todo o Parque Estadual dos Três Picos. A sede fica em Boca do Mato, Cachoeiras de Macacu, município com maior área dentro do parque, mas em breve uma subsede será construída junto à formação rochosa que dá nome ao parque, em Salinas, Nova Friburgo. São hectares e mais hectares de mata nativa preservada pelo governo estadual, que empossou 109 guarda-parques recentemente, dos quais nove trabalham em Nova Friburgo. Mas Sérgio adverte: não basta só o governo estadual atuar, é preciso que cada um faça a sua parte na preservação do meio ambiente.
A Voz da Serra – Neste dia 5 de junho, Dia do Meio Ambiente, o que os friburguenses podem esperar em termos de preservação ambiental com o Parque Estadual dos Três Picos?
Sérgio Poyares – O parque vem desenvolvendo nos cinco municípios que ele abrange, entre eles Nova Friburgo, várias ações de fiscalização e educação ambiental. A gente tem um projeto chamado "Brincando com Gaiolas”, que é a transformação das gaiolas apreendidas pela fiscalização em brinquedos. Esse projeto é itinerante e vai às escolas.
AVS – Há alguma atividade prevista especificamente para a Dia do Meio Ambiente?
Sérgio – A gente vai desenvolver uma série de atividades na nossa sede. Inclusive todas as pessoas dos municípios abrangidos estão convidados. Quem é de Nova Friburgo é só descer um pouquinho a serra neste dia 5 que em meia hora vai participar de uma festa do meio ambiente. Inclusive é dia de aniversário do parque, que foi criado no dia 5 de junho de 2002.
AVS – O que vai rolar nessa festa?
Sérgio – Vários conceitos vão ser transmitidos, vai haver uma visita guiada ao jequitibá, uma árvore milenar; e vamos fazer também uma atividade no posto ao pé dos Três Picos, como caminhadas e orientações para sensibilizar as novas gerações em termos de preservação do meio ambiente.
AVS – O governo estadual fez e faz a parte dele com a criação e manutenção do parque. Mas qual a contribuição que cada cidadão pode dar?
Sérgio – O governo do estado do Rio de Janeiro, de 2007 para cá, praticamente dobrou o número de parques de proteção integral (unidades de conservação de proteção integral) e ampliou algumas outras. Ele está fazendo o papel dele, criando o maior número possível de unidades de proteção integral. Agora, o que a população pode fazer é o básico que a gente procura passar numa cartilha de proteção ambiental. Principalmente os que têm filhos devem educar as crianças, porque a gente espera que a geração futura contribua muito mais e tenha uma consciência maior em termos de preservação ambiental; além de algumas medidas como procurar economizar água em casa, corrigir os vazamentos e não consumir desenfreadamente. Existe um incentivo ao consumo, que é interessante em termos financeiros, mas gera um volume muito grande de lixo, que gera um problema ambiental; a prática de pegar menos sacolinhas plásticas no supermercado, proteger os animais, enfim, medidas educacionais básicas, que no fundo se vai somando e se faz uma grande diferença.
AVS – Preservar principalmente a água é muito importante...
Sérgio – Na verdade o principal fator da criação do Parque Estadual dos Três Picos há 11 anos, além de proteger a beleza cênica, estimular a visitação e melhorar a fiscalização, foi a proteção dos mananciais hídricos, as nascentes. Praticamente toda a água de Itaboraí, São Gonçalo e região nasce nos Três Picos e corre pelos rios Macacu, Macaé, São João, Guapimirim e Guapiaçu, e o Grande, que nasce do lado de cá.
AVS – A APA de Macaé de Cima está incluída no Parque dos Três Picos?
Sérgio – A APA de Macaé de Cima é uma unidade de conservação estadual também e de uma característica um pouco diferente dos Três Picos, mas é vizinha direta, inclusive uma parte dela se sobrepõe aos Três Picos, é um administração conjunta que a gente faz com a APA. É por isso que a gente costuma dizer que é a grande caixa-d’água dessa região do estado é o Parque dos Três Picos.
AVS – Isso tudo sem falar da qualidade do ar a partir do momento que temos as montanhas, as florestas preservadas...
Sérgio – Sim, sem dúvida. Se a gente não tivesse o Parque dos Três Picos, se não houvesse a floresta que está dentro do parque, o nosso clima seria outro. Hoje em dia a gente tem um conceito de unidade de conservação que se chama mosaico, a união de várias unidades formando uma megaunidade. O parque dos Três Picos é vizinho do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, uma iniciativa estadual junto com a federal; a APA de Macaé de Cima se junta com os Três Picos, então a gente tem uma unidade de conservação — pode-se dizer assim — que vai de Queimados/Nova Iguaçu até praticamente Casimiro de Abreu, formando uma grande unidade, a espinha central da Mata Atlântica no Estado do Rio de Janeiro.
AVS – A serra entre Cachoeiras de Macacu e Nova Friburgo está no Parque dos Três Picos...
Sérgio – Sim, a subida da serra de Cachoeiras de Macacu está dentro do Parque de Três Picos. E toda essa floresta exuberante que a gente vê na subida da serra está protegida pelo parque. E na estrada Friburgo-Teresópolis, do lado esquerdo sentido Teresópolis, toda aquela cadeia de montanhas — Mulher de Pedra, Torres de Bonsucesso, Vieira — está dentro do parque.
AVS – Quais são os municípios abrangidos pelo parque?
Sérgio – Nova Friburgo, Teresópolis, Silva Jardim, Guapimirim e Cachoeiras de Macacu, que tem a maior área dentro do parque. Inclusive foi por isso que a sede ficou nesse município. Agora o nome se deve ao conjunto de montanhas dos Três Picos, que é o ponto culminante da Serra do Mar, com 2.316 metros, nas divisas de Nova Friburgo, Teresópolis e Cachoeiras de Macacu.
AVS – Então o povo da área envolvida tem muito a ganhar com o parque, com a preservação da mata, das montanhas e cada um deve contribuir...
Sérgio – Não tenha dúvida, inclusive como o Estado do Rio de Janeiro foi beneficiado para sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas, existe um projeto muito grande e três partes do estado foram escolhidas para integrá-lo. E um deles é o Parque dos Três Picos. Isso implica num investimento muito grande, principalmente no setor turístico da região.
AVS – Deve ser construída uma subsede em Nova Friburgo...
Sérgio – Sim, o terreno já está em fase final de desapropriação e vai ser construída na subida dos Três Picos. Inclusive vai ser implantado ali o museu do montanhismo.
AVS – O parque é subordinado ao Inea...
Sérgio – Ele é administrado pela Diretoria de Biodiversidade e Áreas Protegidas (Dbap), que é do Inea, um órgão estadual ambiental, que foi a fusão em 2009 de três órgãos: a Serla, o IEF e a Feema, que se tornou muito mais eficiente na gestão do meio ambiente do estado.
AVS – Há algum órgão da cidade integrado diretamente ao parque?
Sérgio – É muito interessante a história do parque. Inclusive ela começou em 1992 com um movimento dos montanhistas para tornar a área dos Três Picos uma área de proteção integral. E dez anos depois foi criado o Parque Estadual dos Três Picos. Hoje em dia a gente tem uma relação muito íntima com o Centro Excursionista Friburguense, através de um termo de cooperação técnica. Seus integrantes tomam conta de uma casa que a gente tem no lugar conhecido como Vale dos Deuses, na base dos Três Picos, em terreno já desapropriado, é do estado. Eles administram essa casa através do conselho consultivo do parque.
AVS – Sem contar que o parque tem seus guardas (matéria já publicada), sendo nove em Nova Friburgo...
Sérgio – São quatro lotados na área dos Três Picos e cinco na área de Macaé de Cima. Eles estão sendo muito bem capacitados e vão se somar na nossa luta constante de preservação da área dos Três Picos.
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