Algumas pessoas podem pensar que os animais abandonados nas ruas da cidade são um problema que não lhes diz respeito. Estão enganadas. Diz respeito sim, e a todos nós. Como disse Alexander von Humboldt, cuja máxima vem sendo repetida por vários pensadores séculos afora, o grau de civilidade de um povo se mede pela forma como trata seus animais.
Ainda bem que tem gente que não apenas se preocupa com os bichos como faz algo, ou melhor, faz tudo por eles. É o caso dos voluntários da Confraria dos Miados e Latidos, uma ONG paulista que aportou em Nova Friburgo logo após a tragédia de 2011, sensibilizada pela situação dos animais que haviam perdido seus donos. Eram milhares e o drama que a população estava vivendo naquele momento acabava por deixar estes bichinhos em segundo plano.
Desde então, o município passou a contar com a atuação da confraria, que formou um núcleo na cidade, onde vem enfrentando um desafio de grandes proporções. Além de resgatar animais em situação de risco pelas ruas da cidade, reabilita, castra e busca novos lares para os gatinhos.
Os animais resgatados passam por avaliação veterinária e recebem todos os cuidados necessários. Como se pode deduzir, muitos estão feridos e doentes. Depois de recuperados e tratados, tanto os machos como as fêmeas são castrados para diminuir a população de animais famintos, doentes e, muitas vezes, vítimas de maus-tratos.
É bom lembrar que um casal de gatos pode ter 66 mil descendentes em apenas seis anos. Duvidam? Pois é verdade. Pasmem. Com sete meses de vida, uma gata já pode gerar novos filhotes. Como os cios se sucedem duas a três vezes por ano e uma gata tem, em média, seis filhotes por ninhada, chegaríamos fácil a este total. É irrefutável, portanto. A castração ainda é a melhor maneira de reduzir a quantidade de animais abandonados.
Visando atacar o problema pela raiz, a Confraria dos Miados e Latidos direciona seu trabalho principalmente para a castração. Tanto de animais de rua como os que pertencem a famílias carentes, que pagam um valor simbólico para castrar os seus gatinhos. Só aqui em Friburgo, a ONG já realizou 600 castrações.
Os que não têm dono permanecem em lares temporários e não em abrigos, para manter os animais mais sadios e onde eles têm mais chances de adoção. Outro desafio. Encontrar voluntários que cuidem dos bichanos, provisoriamente, em suas próprias casas, já que a entidade não conta com uma sede para abrigá-los. Uma vez castrados, eles são vacinados e ganham um microchip para que possam ser identificados com mais facilidade caso fujam de casa.
O trabalho continua mesmo depois da castração
O desafio final e mais difícil, porém, é encontrar "pais” adotivos para os gatinhos. Aqui em Nova Friburgo, a Confraria já conseguiu que 300 animais fossem adotados. Não é pouca coisa. Principalmente levando em conta os critérios rígidos da entidade para entregá-los a alguém. Para começo de conversa, o candidato deve se comprometer a doar um pouco de ração para os que ainda não encontraram um lar.
"Não basta gostar, achar os gatinhos lindos e querer levar para casa. O candidato precisa ter responsabilidade”, destaca a diretora regional da ONG em Nova Friburgo, Evelyne Ferreira. Se não houver este comprometimento, o animal corre um sério risco de ser abandonado novamente. Por exemplo, quem quer adotar e mora em apartamento, por exemplo, deve ter telas nas janelas para evitar que fujam.
Evelyne destaca que apesar do nome da confraria — Miados e Latidos — aqui em Nova Friburgo 99% dos animais atendidos são gatos, pois não dispõe de espaço físico para atender também os cães.
A coordenadora da ONG na cidade faz questão de destacar que todos podem ajudar e, por isso mesmo, um dos trabalhos que realiza é realizar palestras nas escolas. "Elas são multiplicadoras em potencial, pois todas, sem exceção, adoram gatos”, diz.
A verdade é que muitas pessoas procuram a Miados e Latidos e outras ONGs quando encontram animais abandonados nas ruas, mas não fazem nada por eles. "Na verdade, qualquer um pode salvar um animal, mesmo se não dispuser de tempo ou situação financeira”, afirma, citando como exemplo a possibilidade de abrigar um gatinho provisoriamente. "O problema é de todos nós”, conclui.
Infelizmente, o grupo de Nova Friburgo só dispõe de dez voluntários fixos. Quem quiser ajudar ou obter mais informações pode fazê-lo através do e-mail evelyne@miadoselatidos.com.br.
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