Foi num dia 4 de maio, há exatos 20 anos, que um ato executivo incorporou o Instituto Politécnico do Rio de Janeiro à Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Nascido com o intuito de interiorizar a pesquisa tecnológica e reduzir a distância entre a universidade e a indústria, o IP-RJ vivia dias difíceis, e corria o risco de ser encerrado após uma transição no governo estadual. A incorporação pela Uerj foi a solução encontrada para a continuidade, embora naquele primeiro momento ainda não houvesse qualquer curso de graduação.
“No início era apenas um grupo voltado para as pesquisas avançadas”, diz o diretor do Instituto, professor doutor Francisco Duarte Moura Neto. “Inclusive, o primeiro diretor do Instituto foi o atual Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp. Mas, a partir do momento em que a Uerj entrou em cena, começou-se a pensar na melhor forma de formar alunos. Em 1995 começamos a incubadora de empresas e a pós-graduação em modelagem computacional, com resultados muito bons. Hoje, o mestrado e o doutorado têm a segunda melhor avaliação do Brasil, nesta área de pesquisa.”
O curso de engenharia mecânica começaria quatro anos mais tarde, seguindo um caminho alternativo à formação oferecida no Rio de Janeiro. Não apenas pela possibilidade de trabalhar a mecânica já nos primeiros períodos, ou pelo grande enfoque em modelagem computacional — derivado do perfil dos professores. Mas também, e acima de tudo, pela atenção individual dedicada ao aluno e seu aprendizado global. “Nossa ideia sempre foi prestar atenção a cada aluno, estimulando-os a pesquisar, a ter iniciativa, a trilhar o próprio caminho. Essa é uma opção que vem desde a elaboração dos primeiros cursos”, explica o diretor. “Existe um diálogo muito intenso entre os departamentos, e a nossa experiência mostra que o mercado gosta muito de nossos alunos.”
Um tesouro pouco aproveitado
Os 620 alunos do Instituto Politécnico, no entanto, nem sempre colhem em Nova Friburgo os frutos de uma das melhores formações do Brasil. A cidade, de tão rico passado industrial, hoje carece de empresas capazes de absorver toda a mão de obra especializada que produz, e acaba por assistir a um grande êxodo de profissionais rumo a centros mais industrializados. Um problema que não escapa à atenção do Instituto.
“Essa é uma questão que precisa ser enfrentada pelas forças vivas de Friburgo, e não apenas pela indústria ou pela universidade. E é um tema muito importante, porque a cidade está sendo drenada de alguns de seus principais cérebros, e deste modo fica complicado criar riquezas para que as pessoas fiquem por aqui. Essa dinâmica acaba gerando um ciclo de perdas”, pondera Francisco.
A despeito das dificuldades do mercado em absorver tanta mão de obra qualificada, a universidade estuda a criação de novos cursos, voltados às potencialidades locais, sobretudo no que se refere ao meio ambiente. “Friburgo possui zonas verdes que variam imensamente em altitude, contribuindo para uma biodiversidade riquíssima e pouco estudada. Nós temos conversado sobre isso e sobre outras vocações, como a floricultura. É possível que novos cursos sejam abertos no futuro”, acredita o diretor.
Por fim, é importante destacar também o papel da Uerj enquanto empregadora de parte desta mão de obra. Há no campus professores que foram formados na própria casa e graças ao instituto a cidade consegue empregar e fixar profissionais extremamente qualificados, diversos deles com pós-doutorado no exterior. Provavelmente muitos anos ainda terão que passar até que os benefícios deste tipo de presença em meio aos alunos possam ser devidamente avaliados.
Laboratórios de vanguarda
A reduzida variedade de cursos, no entanto, abriga uma imensa quantidade de linhas de pesquisa, em perfeita sintonia com a vocação inicial do Instituto para produzir conhecimento. Para tanto, além de contar com inúmeros e bem equipados laboratórios — alguns dos quais únicos no Brasil —, os alunos dispõem ainda das infinitas possibilidades da modelagem computacional, cada vez mais capaz de emular experiências. São os chamados “métodos de ensaios não destrutivos”. Deste modo, os estudos de materiais conseguem trabalhar em escala nuclear em um ambiente virtual, abrindo uma enorme e muito proveitosa frente de estudo.
Prova maior da qualidade de tais pesquisas pode ser vista nos vários artigos publicados em revistas científicas internacionais de grande prestígio, bem como na presença de estudantes oriundos de toda parte do mundo, e do Brasil. Casos, por exemplo, de Geysa Negreiros Carneiro, pesquisadora que deixou Santarém, no Pará, para estudar aqui. Ou de José Lucio, equatoriano que está terminando o doutorado, e que convive com a saudade da família, que precisou voltar à terra natal depois que as chuvas de 2011 interditaram os alojamentos do campus da Fundação Getúlio Vargas, onde estavam hospedados.
Outro termômetro da qualidade do trabalho desenvolvido em Nova Friburgo foi dado pela Google, que em 2012 concedeu quatro bolsas de estudo no valor de cinco mil e quinhentos dólares a alunos do professor Ricardo Fabbri, além de um outro aluno indiano que ele orientou à distância. “No período de três meses, estes alunos, que não tinham experiência anterior, tornaram-se programadores do mais alto nível, com o nome da Google em seus currículos”, explica Ricardo. “Depois de conhecer o mundo através de meus estudos, eu vi que são as pessoas que fazem o lugar. E aqui eu achei pessoas excelentes para trabalhar, um material humano de muito potencial. Inclusive entre os alunos cotistas”, diz.
Em meio a duas décadas repletas de dificuldades, que ao menos duas vezes deixaram o Instituto Politécnico sem um local próprio para funcionar, a parceria com a Uerj não apenas sobreviveu, como terminou por gerar um dos ambientes acadêmicos mais férteis dentro do território nacional.
Cabe guardar as palavras do diretor Francisco Duarte Moura Neto chamando à reflexão sobre a necessidade de que “as forças vivas de Nova Friburgo” se organizem de modo a colher todos os benefícios que uma instituição como esta pode render.
Os números da Uerj em Nova Friburgo
20 anos de existência
420 alunos de engenharia mecânica
100 alunos de engenharia de computação
40 alunos de doutorado em modelagem computacional
30 alunos de mestrado em modelagem computacional
30 alunos de mestrado em Ciência e Tecnologia de Materiais
25% dos alunos são mulheres
31 professores — todos doutores e em regime de 40 horas
Pós-graduação avaliada com 5 estrelas pela Capes (2ª melhor do Brasil)
Engenharia mecânica avaliada com 4 estrelas (3ª do estado e entre as 20 melhores do Brasil)
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