Vinicius Gastin
Dezenove anos se passaram desde o acidente ocorrido na curva Tamburello, no GP de Ímola, na Itália. Naquele 1º de maio de 1994 o Brasil chorou a morte de um dos maiores ídolos do esporte nacional. Após quase duas décadas, Ayrton Senna da Silva ainda é reverenciado como exemplo de desportista pelo caráter, garra e dedicação que contagiaram a nação e fizeram do país do futebol, durante anos, também o país do automobilismo. Desde então, novos nomes surgiram na categoria, mas nenhum deles foi capaz de despertar a mesma paixão nos brasileiros. O legado de Senna permanece vivo no coração dos fãs espalhados por todo o mundo.
O colecionador friburguense Rogério Albertini é um desses apaixonados. A admiração pelo piloto tricampeão mundial de Fórmula 1 surgiu ainda no início da carreira, em 1982. “Acompanhei o Senna desde o primeiro treino pela Williams. Quem não acordava de madrugada para ver suas corridas? A força de vontade dele contagiava todo mundo, mesmo quem não gostava do esporte”, destaca.
Rogério Albertini recorda os momentos marcantes que o fizeram vibrar em frente à telinha da televisão nas manhãs de domingo. Entre elas, a vitória do brasileiro no GP de Detroit, nos Estados Unidos, em 1986, e no de Interlagos, em São Paulo, em 1991. “Nessa corrida de Detroit, o Brasil havia acabado de ser eliminado pela França na Copa do Mundo. O país estava triste. O Senna venceu e subiu ao pódio enrolado na bandeira brasileira. Aquilo foi muito marcante, assim como a vitória de Interlagos. Ele nunca havia vencido no Brasil, era o seu sonho. Ele ficou apenas com a sexta marcha nas últimas dez voltas e mesmo assim conseguiu chegar em primeiro lugar”, recorda Rogério, que possui todos esses momentos gravados em fitas VHS e já se movimenta para convertê-las em DVD.
De fato, Ayrton Senna ocupa um grande espaço no acervo de Rogério. Vídeos, livros, selos, cartões telefônicos, cards, autorama, jogos de videogame, camisas, bonés, miniaturas, disco com o famoso “Tema da Vitória” e até mesmo uma cópia do atestado de óbito do piloto são guardados com carinho no canto da casa dedicado aos objetos que compõem a coleção. “Eu consegui o atestado com um rapaz que visitou a exposição que fiz em 2004, dez anos após a morte do Senna”, conta.
Uma das peças guardadas com maior carinho é a miniatura de Senna com o troféu da vitória na corrida de Interlagos, em 1991. O objeto, feito de resina, retrata o momento exato do pódio e impressiona pela riqueza de detalhes, incluindo a medalha pendurada junto à taça. Recentemente o colecionador adquiriu uma rara miniatura de Senna vestindo o macacão preto da equipe Lotus. “Eram poucas peças disponíveis e eu tive sorte de conseguir pela internet”, conta, orgulhoso. No entanto, o item mais desejado ainda não faz parte do acervo: a cópia do famoso capacete verde e amarelo utilizado por Senna. Para realizar o sonho de ter o objeto, Rogério terá que investir cerca de R$ 4 mil. “O Instituto Ayrton Senna vende esse capacete. Ele é licenciado e possui certificado de autenticidade. Pretendo comprá-lo até o ano que vem, quando a morte do Senna completa 20 anos. Isso envolve bastante dinheiro e, consequentemente, o esforço do meu trabalho e dos meus familiares. Eles compreendem a minha paixão e me apoiam”, garante.
A CARREIRA DO PILOTO
Ayrton Senna começou a carreira no automobilismo competindo no kart. Em 1981, aos 21 anos, mudou para a Fórmula Ford inglesa e conquistou o campeonato na categoria. O desempenho acima das expectativas garantiu ao brasileiro uma vaga na equipe da Toleman, em 1984. Na primeira temporada na Fórmula 1 o piloto brasileiro obteve resultados jamais alcançados pela modesta equipe inglesa. No ano seguinte foi contratado pela Lotus e venceu seis corridas ao longo de três temporadas.
A transferência para a McLaren, em 1988, mudou os rumos da carreira de Ayrton Senna. Ele se juntou ao francês Alain Prost (que seria seu maior rival nos anos seguintes) e fez história na equipe. Os dois venceram 15 dos 16 GPs daquela temporada, e Senna conquistou o campeonato mundial pela primeira vez. Prost deu o troco em 1989, mas o brasileiro voltou a ser campeão em 1990. Na temporada seguinte, aos 31 anos, Senna faturou o terceiro título mundial, tornando-se o piloto mais jovem a conquistar um tricampeo-nato da Fórmula 1 – marca superada apenas no ano passado pelo alemão Sebastian Vettel.
Em 1992 a equipe Williams passou a dominar a categoria, mas Senna conduziu a McLaren de forma brilhante e conseguiu ser vice-campeão em 1993. Foi pilotando o carro da equipe rival, a Williams, que Ayrton sofreu o acidente fatal na Itália. Até 2006 foi o recordista de pole positions e ainda detém o recorde de maior número de vitórias no Grande Prêmio de Mônaco, seis.
O reconhecimento ao desempenho do brasileiro ainda pode ser notado. A rede de comunicação estatal britânica BBC elegeu Ayrton Senna como o melhor piloto de Fórmula 1 da história. “Provavelmente, nenhum piloto da Fórmula 1 se dedicou mais ao esporte e deu mais de si mesmo em sua obstinada busca pelo sucesso. Ele era uma força da natureza, uma combinação incrível de muito talento e, em alguns casos, uma determinação espantosa”, aponta o texto publicado no site da emissora. No programa O Maior Brasileiro de Todos os Tempos, promovido em 2012 pelo SBT para eleger a maior personalidade do país, Senna ficou entre os 12 mais votados, sendo vencido por Chico Xavier em uma das semifinais.
INSTITUTO AYRTON SENNA
O legado de Senna vai muito além dos fãs e apaixonados por automobilismo espalhados por todo o mundo. Em 1994, o maior desejo do piloto foi realizado pela irmã Viviane: a criação do Instituto Ayrton Senna, que atende a crianças e jovens de baixa renda. A estimativa é de que o programa beneficie por ano dois milhões de alunos de 1.300 municípios em 25 estados.
O instituto trabalha em parceira com o poder público, ONGs e universidades, sendo mantido por doações e recursos de empresas, além do licenciamento das marcas Senna, Ayrton Senna e Senninha.
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