Henrique Amorim
A Prefeitura de Nova Friburgo e o governo do estado anunciam para o mês que vem a entrega dos primeiros lotes de casas populares para os desabrigados das chuvas que devastaram o município em 2011. Mas, quem perdeu suas moradias com os deslizamentos de encostas e enchentes em 2007 ainda aguarda a entrega das chaves das 54 casas populares de um conjunto habitacional no bairro Granja Spinelli. E, pelo jeito, o sonho da casa própria ainda está longe de tornar-se realidade para essas famílias. As obras iniciadas num terreno na Rua Alzemir Fernandes Coelho, bem no centro da Granja Spinelli, em fevereiro de 2011, foram paralisadas alguns meses depois. Parte das construções teve apenas algumas paredes parcialmente levantadas e o mato já cresceu. As placas que anunciavam as obras em parceria com o governo federal, através da Caixa Econômica, enferrujam, reforçando o total abandono.
“A construtora responsável por esse projeto largou tudo por completo. Até o salário que ela me pagava para vigiar o canteiro de obras já não recebo há sete meses. Não posso fazer mais nada. A empreiteira alega que parou de receber do governo. Aí tudo parou. Se alguém quiser invadir a obra agora só me resta chamar a polícia”, diz José Lúcio, ex-vigia do canteiro e morador vizinho à obra abandonada do conjunto habitacional, orçado em mais de R$ 4,7 milhões. A construção integra o programa Resposta aos Desastres do Ministério da Integração Social e na placa da Prefeitura de Nova Friburgo consta que as novas habitações seriam parte do projeto “Construindo para os 200 anos” e deveriam ter sido concluídas em agosto de 2011.
Moradores vizinhos ao canteiro de obras abandonado questionam a falta de informações sobre o destino do empreendimento, que causa mau aspecto bem no centro do bairro, há cerca de seis quilômetros do Centro de Nova Friburgo. As casas eram destinadas a abrigar aproximadamente 250 pessoas. “Tudo foi largado e ainda há equipamentos da construtora no local. Já vi pessoas estranhas rondando esse canteiro de obras à noite. Temos medo que pessoas mal-intencionadas invadam esse espaço. Depois ninguém vai conseguir tirá-las daí”, observou um morador que preferiu não se identificar.
Outra vizinha do canteiro abandonado revolta-se com a falta de investimentos na Granja Spinelli após a tragédia das chuvas de 2011. “Depois da catástrofe, só a estrada de acesso ao bairro (Rua Sabrina Abreu Aguilera) teve as barreiras retiradas e o trânsito liberado. Nada mais foi feito aqui. A Granja Spinelli virou o retrato do abandono. Por onde se olha se veem cicatrizes nas montanhas e amontoados de terra onde antes havia casas. Até a capela de Santa Luzia foi engolida pela lama”, diz a moradora. Ela declarou ainda já ter questionado o motivo da paralisação das obras do conjunto habitacional na Prefeitura e foi informada que o repasse do governo federal fora suspenso por pendências burocráticas do município. Na Prefeitura, soube que as tais pendências, inclusive, já haviam sido sanadas e o contrato estaria prestes a ser restabelecido, permitindo então a retomada das obras. “Só acredito vendo”, diz ela. Perto dali, um outro conjunto habitacional entregue pela Prefeitura em 2008, bem no centro do bairro, abriga dezenas de famílias de desabrigados das chuvas.
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