Roberto Silveira: avenida da morte

Afinal, para que serve o acostamento?
quinta-feira, 14 de março de 2013
por Jornal A Voz da Serra
Roberto Silveira: avenida da morte
Roberto Silveira: avenida da morte

Faixas laterais são comumente utilizadas para estacionamento ou ultrapassagens proibidas

Henrique Amorim
A Avenida Governador Roberto Silveira, conhecida pelos mais antigos como a reta de Conselheiro Paulino, é a via que liga o trevo de Duas Pedras ao distrito mais populoso de Nova Friburgo. Com cerca de 4 km de extensão, integra parte do eixo de perímetro urbano da RJ-116 e não é por acaso que tornou-se conhecida como “avenida da morte”. A importante artéria é tida ainda pela polícia como uma das campeãs em acidentes de trânsito no município. Na tarde do último dia 6, por exemplo, José Antônio de Oliveira, 39 anos, morreu esmagado pelos pneus traseiros de uma carreta quando pedalava sua bicicleta na Roberto Silveira. Ele foi atingido na altura da agência do Banco Itaú, no Prado, e o caminhoneiro sequer percebeu o atropelamento. Após ser avisado por demais motoristas, ele entrou em choque e se apresentou à polícia ainda na mesma tarde.
Mas, por que José Antônio foi atingido pela carreta? De acordo com testemunhas, o ciclista voltava do supermercado onde trabalhava, por volta das 13h30, e teve que disputar espaço com o tráfego pesado da via na pista de sentido a Duas Pedras—pois, como sempre ocorre, a faixa destinada ao acostamento da avenida junto à margem do Rio Bengalas estava ocupada por veículos estacionados. José Antônio, então, foi obrigado a desviar para a faixa de rolamento. A utilização dos acostamentos para o estacionamento de veículos é prática irregular, e rotineira em grande parte da Roberto Silveira, em ambos os sentidos, principalmente nos trechos com maior concentração de estabelecimentos comerciais, bancos e empresas. As poucas placas de trânsito que existem por lá alertando quanto à infração são solenemente ignoradas. Alie-se a isso a falta de fiscalização.
Outra característica da antiga reta de Conselheiro é a ultrapassagem pela direita, o que todo motorista sabe—ou, acredita-se, deveria saber—ser proibido. É norma clara do Código de Trânsito Brasileiro. Infelizmente, muitos motoristas a ignoram e mais assemelham a Avenida Roberto Silveira a uma via com normas de trânsito inglesas. A prática ilegal, segundo motoristas ouvidos pela reportagem e que não quiseram se identificar, é comumente usada com o intuito de ganhar tempo devido à enormidade de sinais de trânsito ao longo da Roberto Silveira.
“Colocaram um sinal a cada esquina. É terrível passar por aqui. O fluxo fica agarrado todo o tempo. Quando os sinais retêm o trânsito uma opção de agilidade é cortar pela direita e engolir a fila de carros arrancando na frente assim que o sinal fica verde. Isso, é claro, quando não tem carros estacionados no acostamento”, entrega um motorista de 34 anos, que passa pela via de carro pelo menos quatro vezes por dia e concorda que age errado. “É a correria do dia a dia, amigo”, justifica ele ao repórter, mas já um tanto quanto sem graça, sem conseguir disfarçar a vergonha. Afinal, ele vem colocando a própria vida e a dos outros motoristas e pedestres em risco com as ultrapassagens pela direita.
“A gente fica aqui aguardando a fila andar e vem o malandrão e rouba a vez de todo mundo, tumultuando tudo. E muitas vezes forçando a barra, fazendo todos os carros atrás frear para ele, o ‘esperto’, voltar novamente à pista. É muito egoísmo, muita falta de respeito”, disse indignada uma motorista mãe de família.
Já outro motorista que também confessou à reportagem ser adepto da bandalha que parece ter virado rotina na avenida revela que já testemunhou dezenas de acidentes, a maioria envolvendo motos, na Roberto Silveira. “É perigoso mesmo”, admite. Se os carros e, às vezes, até caminhões ultrapassam pela direita na avenida, imagine só os que os motociclistas fazem ao longo da reta. Para resumir a história, são verdadeiros malabarismos, além do famoso e perigoso “corredor” (circulação de motos entre duas faixas de veículos.
Muitos comerciantes da Avenida Roberto Silveira estão cientes de que a utilização dos acostamentos da via como estacionamento é uma prática irregular, mas o “jeitinho brasileiro” surge como opção para alavancar as vendas, já que nas imediações não há local para estacionar, a maioria das lojas não tem estacionamento próprio e em alguns trechos as ruas transversais ficam distantes e também sempre estão com suas vagas rotativas ocupadas.

Autran sugere que um dos acostamentos seja transformado em terceira faixa ou ciclovia

O superintendente da Autarquia Municipal de Trânsito (Autran) de Nova Friburgo, coronel PM Hudson de Aguiar Miranda, reconhece o perigo que pedestres e motoristas sofrem diariamente na Avenida Roberto Silveira e revela-se também incomodado com os indevidos estacionamentos nos acostamentos e ultrapassagens pela direita. “Por integrar o eixo rodoviário, a Avenida Roberto Silveira está situada num trecho concedido à concessionária Rota 116 que, por sua vez, tem um convênio com o Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv) para fiscalização de trânsito. A Autran auxilia com a manutenção dos sinais, sinalizações e pintura de faixas”, observa o superintendente.
Hudson acredita ser viável a utilização do acostamento da Roberto Silveira no sentido Conselheiro-Duas Pedras como uma terceira faixa, dando assim mais uma opção ao intenso fluxo de tráfego. “Além de escoar melhor o trânsito nos horários de pico, esta alternativa inibiria a prática ilegal do uso do acostamento para o estacionamento irregular de veículos. Outra opção seria a utilização dessa faixa de acostamento como uma ciclovia”, completa o coronel Hudson, lembrando que essas sugestões são paliativas, até que a tão propalada Avenida Brasil saia do papel, duplicando, enfim, as vias de tráfego no principal acesso ao distrito de Conselheiro Paulino.

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