Uma festa de emoções

segunda-feira, 11 de março de 2013
por Jornal A Voz da Serra
Uma festa de  emoções
Uma festa de emoções

Girlan Guilland
Domingo, 10 de março de 2013. Mais uma data que entra para a história friburguense com um acontecimento especial, num dia inteiro de fortes emoções. Emoções vividas, desde a manhã ensolarada, com o concerto especial da banda sinfônica Euterpe Friburguense, no Teatro Municipal de Nova Friburgo. E durante toda tarde, no Country Clube, mais emoções e todos os convidados tomados por grande encantamento, durante a entrega das 150 comendas de “Embaixador(a) do Sesquicentenário” a personalidades, autoridades e convidados especiais.
O concerto, que começou às 11h15, levou ao teatro municipal um público bastante expressivo para o horário da manhã, e foi considerado impecável. O repertório que o maestro Nelson José da Silva Neto preparou nos últimos meses agradou em cheio, mostrando ainda o nível de excelência da agremiação musical e a qualidade de seus músicos, como inclusive seria destacado mais tarde pelo professor e maestro Ricardo Tacuchian, da Academia Brasileira de Música, ele também distinguido com a comenda e que se mostrou vivamente entusiasmado com o desempenho da agremiação.

De milagre em milagre
As emoções que dominaram durante todo o dia, começaram com os vídeos exibidos durante o concerto. Foram cinco VTs, iniciando pela história da fundação da SMBEF, pelo maestro português Samuel Antonio dos Santos, como resultado da promessa a Santo Antônio, ao enfrentar em 1858 uma tempestade em alto-mar e que exprime o slogan adotado para a celebração deste sesquicentenário: “Euterpe Friburguense: de uma promessa a exemplo de superação”.
Sempre encerrados com músicos tocando o “Parabéns pra você”, os outros três “taques” foram, respectivamente, sobre a trajetória da agremiação musical, exibindo diversas fotos deste século e meio da instituição; o de “Milagre em milagre”: exemplo de superação”, que mostrou como foi a tragédia de 12 de janeiro para a banda, que teve parte de sua sede invadida pelas águas, que carregou alguns instrumentos.
E finalizando com “A Euterpe é a minha vida” e os casos de amor à música e à banda, sintetizados nos depoimentos emocionados do primeiro clarinetista Marcos da Conceição, ex-servente de pedreiro, levado à Euterpe por seu pai, o então também clarinetista Chico Bonn, e que hoje além de formado em música pela UFRJ, é professor da escola de música e tem na Euterpe a terceira geração de músicos de sua família: além dos filhos Igor, de 11 anos, e de Luana, vários sobrinhos e sobrinhas, totalizando nove pessoas.
Neste último vídeo também, o depoimento do maestro Nelson José da Silva Neto. Cria da casa, Nelsinho disse que a Euterpe nem é a sua segunda casa, mas a primeira mesmo. Ele lembrou que entrou para a banda com oito anos, há dez é seu maestro titular, função que assumiu num momento delicado da Euterpe, pois o então maestro abandonara a batuta na véspera de um concerto importante num festival de inverno da cidade, Nelson José deu um depoimento emocionado de um jovem maestro de 37 anos, com a responsabilidade de conduzir a banda sinfônica Euterpe no seu ano sesquicentenário.

UMA HOMENAGEM ESPECIAL
No quinto e último VT mais emoções. Nas homenagens póstumas a algumas das pessoas falecidas recentemente, a exemplo do diretor do jornal A VOZ DA SERRA, Laercio Rangel Ventura; do ator Nelmo Ricardo Martins Dias; da soprano Wanda Simões Bastões; ao senhor Antonio Thurler, que foram simbolizados no saudoso produtor da TV Globo, Sergio Madureira Campos, que completaria seu 58° aniversário neste dia 11 de março. Falecido em 30 de março de 2011, vítima de um AVC, Madureira deixou como seu legado a campanha “Ame Nova Friburgo, que está sendo levada adiante pelos filhos, a atriz Aimée Ubaker Madureira (a Rayanne de “Salve Jorge”, TV Globo), presente à festa e que recebeu também a comenda do sesquicentenário e seu irmão, o jornalista Luã Madureira.
O concerto, que durou mais de duas horas, iniciou com as execuções dos hinos Nacional Brasileiro e do Centenário de Nova Friburgo e, em seguida, teve uma homenagem especial ao prefeito Rogério Cabral: chamado ao palco, ele recebeu a partitura de um dobrado com o seu nome e que foi executado em seguida. De autoria do músico, professor e arranjador Thiago Vidal Corrêa (que entregou a partitura ao chefe do executivo), a peça une acordes dos hinos de Nova Friburgo e da Suíça.
Durante o concerto, o tenor Martin Fernandez encantou o público com os solos em Con te partiro, de Satori – Quarantotto e na ária da ópera “Turandot”, de Giácomo Puccini, em ambas efusivamente aplaudido de pé pelo público.

Homenagem a JK
Com o número “Minas e suas canções” o maestro Nelson e os músicos prestaram homenagem especial ao ex-presidente Juscelino Kubitschek, um euterpista histórico, desde sua eleição à presidência, em 1955, quando a Euterpe tocou em seu comício de encerramento da campanha, realizado em Nova Friburgo. Na presença de sua filha, Maria Estela Kubitschek Lopes, diretoria do Memorial JK, em Brasília, que veio também receber sua comenda, foi interpretada a peça, reunindo composições de Milton Nascimento, Claudio Nucci e Zé Renato, com transcrição especial do maestro Bruno Rodrigues, regente da banda sinfônica da Cidade do Rio de Janeiro, presente ao evento, também para receber sua comenda e para assistir a execução de “Euterpe Tribute”, de sua autoria, um tributo aos músicos, maestros e diretores pelos 150 anos de vida, sucessos e glórias.

“O importante é que emoções eu vivi”
Durante o almoço no Country Clube, as emoções novamente dominaram. Animado pelo grupo “Quarteto Eclético”, com Cícero Adriano (voz e violão de 12 cordas), Paulinho Brasileiro (voz e violão), Odeir Louvise (Sapo), voz e pandeiro e Duduca Lopes (voz e percussão), a tarde contou com um momento musical muito especial também, quando a cantora, compositora e violonista Lee Santos, nome artístico da friburguense Linéa Schneider dos Santos que, ao receber sua comenda, em vez de discurso, puxou a capella trecho da música de Roberto Carlos, com o exato tom daquele dia: “Quando estou aqui, eu vivo este momento lindo, olhando pra você e as mesmas emoções sentindo”. E sob aplausos ainda encerrou: “Se sorri ou se chorei, o importante é que emoções, eu vivi”.

Ensaio para os 200 anos 
Dentre as diversas personalidades que receberam a comenda, a professora friburguense Eliane Yunes, da Cátedra Unesco de Leitura, criadora do Pro Ler, programa de Leitura do Ministério da Cultura; o cineasta friburguense Lincoln Azambuja, que além de fazer um programa na rádio Roquete Pinto, na qual estará apresentando nos próximos dois meses, notícias sobre a Euterpe, começou filmagens na última quarta-feira, 6, para o documentário que está produzindo sobre a banda friburguense.
Também recebeu a comenda o embaixador da Hungria, Csaba Szíjjartó, que veio ao evento (a partir de contatos estabelecidos pela presidente da Casa Húngara de Nova Friburgo, Eva Bitto), acompanhado de sua equipe para realizar encontro de negócios, com as principais lideranças do empresariado local, estando presentes a presidente da Firjan regional, Neuci Layolla; o presidente da Associação Comercial, Claudio Santos Verbicário (ambos que receberam também a distinção) e o vereador Pierre Moraes, presidente da Comissão de Assuntos Exteriores, Cidades Irmanadas, Países colonizadores, História e Patrimônio da Câmara Municipal. A Prefeitura esteve representada pelo subsecretário de Planejamento e Desenvolvimento Econômico, Carlos Bouckel.
Também foram agraciados o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas, Braulio Rezende Filho; o presidente do Grupo de Arte Movimento e Ação, Francisco Figueiredo; o prefeito Rogério Cabral, o ex-vereador Marco Medeiros, cujo pai, Helio Medeiros, foi presidente da SMBEF; as jornalistas friburguenses Adriane Salomão, Roberta Campos Babo Fernandes e Adriana Ventura, diretora do jornal A VOZ DA SERRA, que falou emocionada lembrando o pai, jornalista Laercio Ventura, e as homenagens que lhe foram prestadas pela diretoria da agremiação.
Diversas outras personalidades também foram agraciadas, especialmente vários músicos que passaram pela banda, a exemplo de Bruno Hollfinger, filho da professora Belkiss e Leonardo Silva Marujo, o Leo Marujo, que, também emocionado, lembrou de momentos especiais de sua época, como os concertos na Sala Cecília Meirelles e fez questão de render homenagens ao saudoso maestro Rubens Coelho Gomes, professor de várias gerações de músicos, inclusive seu e do maestro Nelson.
O jornalista Girlan Guilland, coordenador dos festejos do sesquicentenário, num gesto de surpresa da diretoria foi o último a receber a comenda e aproveitou para fazer uma exortação para a festa daqui a cinco anos, do bicentenário de Nova Friburgo, na qual vem insistindo há 15 anos, sendo que a senhora Maristela Kubitschek, fez intervenção para sugerir que faça “50 anos em 5”, numa referência ao slogan de seu pai na presidência.


A Banda Euterpe, meu pai e eu

Adriana Ventura
Manhã de domingo. Me preparo para receber mais uma homenagem ao meu pai, Laercio Rangel Ventura, nestes últimos 30 dias, após sua partida. Entre as comemorações pelos 150 anos da Euterpe Friburguense, já havia ocorrido a passagem da Banda pela sede do jornal, poucos dias depois do falecimento dele, com os músicos parando e tocando para nós, prestando uma de suas homenagens. Foi emocionante.
Nós, de A VOZ DA SERRA, nos juntamos às celebrações mais do que merecidas, e fizemos uma edição comemorativa, singela, porém carinhosa, sabedores que somos da importância da Euterpe para a história de Nova Friburgo. E não poderíamos deixar de registrar este grande evento para nossa cidade. A comenda oferecida a 150 amigos da Banda, entre eles, meu pai, um justo merecedor desta honra, foi o motivo da minha ida ao Teatro Municipal para receber a comenda em seu nome e assistir à apresentação solene da nossa mais que centenária aniversariante.
Foi desta forma que conheci um pouco mais sobre a origem da Banda. Vi os depoimentos de seus integrantes, conheci o maestro, o arranjador, os músicos. Enfim pude presenciar de perto o esforço de sua diretoria para a realização deste grande momento. O repertório belamente escolhido e a quantidade de jovens tocando deram o toque do que estava por vir. Assisti a uma apresentação irretocável, que ultrapassou a importância deste momento histórico para Nova Friburgo.
Fui às lágrimas algumas vezes, e me imaginava sozinha neste sentimento tão particular, por estar mais sensível por toda a situação pessoal que hora enfrento. No entanto, constatei que meus vizinhos de poltrona compartilhavam daquela mesma emoção. A Banda Euterpe nos fez chorar. Todos os momentos que se seguiram foram especiais. Um almoço agradável, amigos se reencontrando, confraternizando. Um clima de intenso carinho e gratidão permeava o salão do Nova Friburgo Country Clube. 
No momento de receber a comenda, não pude me furtar de dizer breves palavras, e agradecer, do fundo do meu coração, aquela oportunidade única, recebendo por meu pai, a homenagem que tão generosamente lhe renderam. Ali se reverenciava a memória de um leal e verdadeiro amigo desta cidade, chamado Laercio Rangel Ventura. Que, além de amigo dos diretores da Euterpe, acompanhou este caminho até seus gloriosos 150 anos. E por mais de 50 anos, apoiou e registrou seus momentos em nosso jornal. 
À querida Banda Euterpe, meu respeito e admiração por todos os motivos acima relatados. E, reitero, obrigada pelo gesto comovente de ter trazido seus músicos até nós, no jornal. Tudo isso consolida em mim o orgulho que herdei de meu pai, que me transfere a grande responsabilidade de continuar a amar e respeitar nossa cidade, divulgando seus tesouros.
Percebi, claramente, neste inesquecível domingo, o quanto nossa cidade merece celebrar nossa Euterpe. Tantos anos de abnegação de seus dirigentes, tantas histórias comoventes de seus integrantes. Nova Friburgo merece seus filhos, seus trabalhadores incansáveis por sua cultura e os protetores de sua riqueza. Apaixonei-me pela Euterpe. Saibam, todos vocês, componentes da Banda, que têm em mim, a partir de agora, uma embaixadora empenhada em se juntar aos seus esforços de manter esta associação. O jornal passa por mudanças, é inevitável. E, por força do destino, caberá a mim fazê-las. A busca da modernidade é nossa meta, cada vez mais, continuando e procurando ser o verdadeiro porta-voz dos anseios da população de Nova Friburgo. 
Mas a lição que aprendi nesta grande festa é que, se não fizermos uma viagem de volta aos verdadeiros valores de nossa terra, uma grande volta ao passado, corremos o risco de perdermos nossa identidade. No afã de noticiar em primeira mão informações que consideramos relevantes, diariamente, e que deixam de ser importantes segundos depois, muitas vezes deixamos de lado a essência do que realmente importa. O passado nos ensina com erros e acertos a descobrir nossos valores mais genuínos. Voltemos ao passado com a modernidade. E o jornal da minha família, a família Ventura, teve sim, o orgulho de, em suas páginas, registrar esse momento singular para a Banda Euterpe.
Obrigado por engrandecer nossa cidade e, em uma bela manhã de domingo, revigorar minhas forças para continuar a amar esta cidade, trabalhar por ela todos os dias, como o meu pai sempre amou, trabalhou e fez.
Mais uma vez, parabéns a vocês, diretores, músicos, arranjadores. Parabéns, Nova Friburgo!

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