Ah! Mulheres, o que seria de nós se não fôssemos nós

quinta-feira, 07 de março de 2013
por Jornal A Voz da Serra

Alda Maria de Oliveira*
A mística feminina desmistificada, o segundo sexo se tornando o primeiro e tudo estranhamente quase a mesma coisa em muitos lugares. 
O que nos perguntamos é onde as mudanças reais aconteceram, em que classes sociais as mulheres se tornaram libertas de suas próprias amarras donas de seu nariz, trocando pneus, lâmpadas, vivendo sozinhas ou não em espaços muito seus, largando empregos cansativos, repetitivos, escravizantes e descobrindo um o que fazer em casa ou fora dela criativo, enriquecedor, libertário e curador porque como já disse Jung "só aquilo que somos tem o poder de nos curar". 
É provável que as mulheres da classe média, as intelectuais de qualquer classe constituam a maior parcela de mulheres que conquistaram, de fato, os seus direitos e mesmo assim, talvez uma boa parcela delas ainda não. Uma pequena parte de mulheres das classes populares, mais combativas, conseguiram chegar quase lá; mas uma enorme parte dessas mulheres mais empobrecidas, sem acesso a educação, em trabalhos de baixa remuneração, morando mal, com parcas três refeições por dia para si e suas famílias, com uma penca de filhos para criar, muitas vezes sozinhas pois os companheiros foram embora, ainda não chegaram a lugar algum. Votam, é verdade. Me descubro perguntando a mim mesma se isso faz alguma diferença em suas vidas.
A autonomia das mulheres passa tanto pela educação em qualquer idade como  pela situação econômica em que se encontram. O empreendendorismo ainda é incipiente nas comunidades da periferia e nos campos do país. Falta informação sobre microcrédito—só soube há dois dias atrás que existe em Nova Friburgo num dos bancos governamentais e temos de nos empenhar em divulgar essa novidade.
É provável que a forma mais eficiente de ampliar as conquistas de cidadania, direitos humanos, autonomia entre as mulheres seja a via política. 
Mais mulheres na política, maior olhar feminino sobre as necessidades das mulheres, mais atenção com o que querem as mulheres e, principalmente um cuidado maior do estado para com suas mulheres. 
Nós somos a metade da nação brasileira. A maioria de nós saiu de casa para o mercado de trabalho, hoje em todas as frentes, em terra, no ar e no mar, somos responsáveis por boa parte do Produto Interno Bruto (PIB) do país mas o estado não nos assegurou a universalidade da educação, creches suficientes em número e qualidade para nossas crianças, transporte coletivo de qualidade (um real horror nos horários de pique!), que bem sei eu pois sou usuária dele nessas horas de aflição aguardando se o ônibus vem (nunca no horário), se vou poder sentar, se o limite de pessoas em pé já não foi ultrapassado e muito e outros tantos ‘ses’ que já fez da viagem a travessia da angústia. E com esse calor então...
Sinto que precisamos nos debruçar um pouco mais sobra a história das conquistas das mulheres através dos tempos para poder colocar em perspectiva o momento em que vivemos.
Já na Idade Média, Cristine de Pisan abre o debate da subordinação feminina em seu livro "A Cidade das Mulheres" afirmando que uma mesma educação deveria ser também direito das mulheres se homens e mulheres são iguais em sua própria natureza. Nesse mesmo tempo em que mulheres com conhecimento de medicina das ervas e que cuidavam dos doentes iam para a fogueira acusadas de bruxaria. Foi um tempo de sombras, de profunda crueldade.
E conforme os séculos avançavam as conquistas iam se fazendo.
Um dos marcos que nos foi legado seguramente foi a ação de Clara Zetkin que em 1910, na II Conferência das Mulheres Socialistas, propôs que o dia 8 de março, mesma data do massacre das operárias tecelãs, em Nova York, em 1857, fosse dedicado à comemoração do Dia Internacional da Mulher que só foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU), na Conferência Mundial no México, em 1975 tornando esse o Ano Internacional da Mulher. Esse fato vitalizou o movimento libertário em boa parte do mundo e expôs questões como a sexualidade, os direitos reprodutivos, creche e família e mais problemáticas como a igualdade salarial, o acesso profissional, as políticas públicas de gênero e a representação política, entre outras.
Muito contribuíram para o debate sobre o feminino, na década de 40, a publicação, na França, do livro de Simone de Beauvoir, "Segundo Sexo", que serviu de referência para que, anos mais tarde, nos Estados Unidos, Betty Friedan retomasse a discussão e a reflexão feminista, em 1960, no seu livro "A Mística Feminina" sempre na ótica da igualdade de direitos.
No Brasil, a luta das mulheres começou ainda nos séculos 18 e 19 em quilombos de Mato Grosso—Dona Teresa—e da Bahia—Dona Zeferina—, testemunhando a contribuição da mulher negra na luta pelos direitos das mulheres.
Inúmeras foram as contribuições pelos anos afora, Brasil adentro. 
E assim se chegou, em 1985, como resultado do movimento de mulheres do país inteiro à criação do Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres. Um ano depois se criava o Conselho Estadual dos Direitos das Mulheres no Rio de Janeiro.
Em 2011, o movimento de mulheres de Nova Friburgo conquistou a criação do nosso Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres de Nova Friburgo, em forma de lei. E é nesse fórum que a luta das mulheres por políticas públicas de moradia, de autonomia financeira e economia solidária, de defesa contra a violência em todas as formas e de ampliação da participação das mulheres na política vem se fazendo. A ideia de se criar uma Universidade Popular de Formação de Mulheres para a Política vem tomando corpo porque essa é a principal ferramenta para se atingir a igualdade de direitos. Direitos Humanos. Porque é disso que se trata desde sempre.
   
* Engª Agrª pela Universidade Federal de Pelotas, RS, M. Sc. pela Universidade de Londres, especializada em Engenharia Ambiental pela Universidade Cândido Mendes – campus Nova Friburgo e membro do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher. aldah.olive@bol.com.br

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