Um alívio para os moradores de Córrego Dantas. Além de ter sido um dos bairros mais sacrificados na tragédia climática de janeiro de 2011, os moradores ainda se viram obrigados a conviver com a fumaça de um crematório. A princípio seriam apenas animais de pequeno porte a serem cremados ali, mas posteriormente diversos tipos de lixo também passaram a ser incinerados, poluindo o ar no bairro e provocando as mais variadas reações nos moradores.
Unidos desde a tragédia através da associação, os moradores de Córrego Dantas iniciaram outra luta, a fim de impedir que o crematório continuasse funcionando. Algumas luzes no fim do túnel chegaram a ser vistas, pois órgãos ambientais determinaram o fim das atividades da empresa. Mas, para desespero dos moradores, o crematório voltou a funcionar e ainda teve a licença prorrogada algumas vezes.
Porém, os moradores festejam agora o desmonte do crematório. Na terça-feira, 19, um senhor se limitou a atender a reportagem deste jornal por uma fresta do portão da empresa e não quis comentar o assunto. Já os moradores comemoram esta vitória e vislumbram dias mais felizes, embora o bairro ainda esteja carente de outras necessidades, em consequência da tragédia de janeiro de 2011.
Alcélia Cláudia da Silva fazia sua caminhada às margens da estrada RJ-130 (Nova Friburgo-Teresópolis), em Córrego Dantas, onde nasceu e foi criada. Ela afirma que era muito prejudicada pela fumaça emanada do crematório. Portadora de rinite e sinusite, ao cair da tarde, horário preferido para suas caminhadas, chegava em casa com dor de cabeça, devido à fumaça, mais sentida no fim da tarde, e seguia a noite toda. Ela era obrigada a manter toda a casa fechada.
Para contornar o problema, Alcélia fazia tratamento respiratório e tomava medicamentos. “Era um cheiro horrível, não dava para suportar. Eu vivia tomando remédio para alergia”, explica. Ela e outros moradores chegaram a apelar para a imprensa algumas vezes, além dos integrantes da associação de moradores que procuraram os órgãos responsáveis e botaram a boca no trombone pela internet também. “Agora a gente conseguiu se livrar disso”, comemora. Ela destaca que os moradores de Córrego Dantas, que já haviam sofrido tanto com a tragédia, não foram consultados e nem ficaram sabendo da instalação do crematório no bairro. Só depois da infestação da fumaça é que ficaram sabendo. “Era uma fumaça escura e bem fedida”, observa. E complementa: “Espero que agora melhore, porque a gente já perdeu demais nesses três últimos anos. Isso foi um desrespeito com a gente aqui”, observa, salientando que seus vizinhos, na Rua João Luiz Fernandes, eram os mais prejudicados com a fumaça, que invadia a rua. “Minha mãe, que já tem 78 anos, tossia a noite inteira. A gente ficava com a casa fechada, tinha falta de ar, era uma coisa horrível mesmo”, finalizou a moradora, na esperança de dias—e noites—melhores.
Paloma Thurler Leal foi uma das moradoras que só foi saber que havia um crematório em Córrego Dantas depois que começou a sentir o mau cheiro da fumaça. Chegou a imaginar que vinha de um abatedouro de porcos. O incômodo causado era enorme, principalmente à noite. Aliviada, Paloma disse que agora o sofrimento será amenizado, pois ainda resta mau cheiro da enchente nos dias mais quentes, como nesta época.
A preocupação de Andréa Storck Bachini, moradora da Rua Luiz Shottz, era com o filho, de 17 anos, que piorava do quadro de bronquite sempre que a casa era invadida pela fumaça preta do crematório. Volta e meia ele tinha que ser levado ao hospital. A luta da associação de moradores foi grande e, embora demorada, a vitória está sendo comemorada. “Espero que agora a gente não tenha mais mau cheiro por aqui”, diz, na expectativa.
Na porta da creche, Irene Ribeiro, moradora da Rua Laurindo Schottz, esperava por sua neta de 1 ano. Ela garante que, como toda a vizinhança, estava sendo prejudicada pela fumaça do crematório, que afetava a saúde de quase toda a família. O ambiente ficava poluído pela fumaça e pelo mau cheiro. Ela participou da luta da associação de moradores desde a tragédia e depois contra o crematório. “Esses dois problemas, juntos, prejudicaram muito a comunidade. E eles [os integrantes da associação] lutaram muito junto à comunidade para a retirada desse crematório. Eles [o crematório] ganharam vários recursos na Justiça para permanecer no bairro. Agora, graças a Deus, melhorou muito. E tem que melhorar mais. As autoridades têm que fazer mais pelo nosso bairro porque a gente está precisando de apoio.”
O comerciante Aurélio Gonçalves Corrêa também comemora a saída do crematório de Córrego Dantas, pois também era prejudicado pela fumaça tanto pela manhã, bem cedo, ou à noite. Além do mau cheiro, ficava com os olhos irritados. Clientes seus se queixavam de dor de cabeça, alergia e do mau cheiro. Mora há dois anos no bairro, na casa onde morava sua irmã, que já reclamava dessa situação. Soube por um amigo do Inea que o crematório havia sido fechado. Foi uma alegria geral. Mas, logo depois, a empresa foi reaberta, através de uma liminar concedida pela Justiça.
Além dos moradores, Aurélio lembra que eram afetadas também escolas, creche, hotel, pousadas e confecções, entre outros estabelecimentos. O incômodo era geral. Ele chegou a ouvir comentários sobre um protesto que estava sendo planejado, inclusive com interdição do trânsito na RJ-130. “Mas, agora, eu soube que o crematório está sendo transferido para outra cidade. Vamos torcer para que realmente se concretize essa saída”, comenta feliz.
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