Um grupo de ex-funcionários – aposentados ou demitidos – da Fábrica Ypu está se organizando para tentar resolver de vez suas antigas pendências trabalhistas com aquela indústria. Existem situações em que o problema se arrasta até por mais de dez anos. De tanto encontrar outros companheiros na mesma situação, sempre lhe perguntando algo a respeito, Rudolfo Goeb, ex-chefe de seção da empresa, resolveu agir. Holandês, mas morando no Brasil desde a década de 60, ele trabalhou dez anos na fábrica e está liderando um abaixo-assinado reivindicando ao Ministério Público Federal, sediado em Nova Friburgo, que tome providências a respeito.
Segundo o próprio Rudolfo, acredita-se que possa chegar a 600 as pessoas em situação idêntica, algumas cujos processos já até tiveram decisão, mas os respectivos pagamentos de indenizações ainda não foram liberados. Ele agora está tentando conseguir um determinado número de assinaturas para encaminhar a solicitação ao MPF.
DENÚNCIAS
Na condição de ex-funcionários da Ypu, ao encaminhar o abaixo-assinado, o grupo solicita ao Ministério Público Federal em Nova Friburgo “uma ação em favor dos nossos processos, referentes a direitos trabalhistas” e acusa a empresa de sonegá-los. Os antigos trabalhadores também denunciam que a atual administração da fábrica “vem boicotando sistematicamente centenas de processos, com artimanhas jurídicas para evitar um desfecho dos mesmos”.
Tramitando na Vara do Trabalho de Nova Friburgo, em alguns casos desde 1998 e sem resultados, os processos dos antigos funcionários são representados na Justiça pelo Sindicato dos Trabalhadores da Fiação e Tecelagem e também por advogados particulares. “Mas nossos processos não avançam frente a manobras protelatórias da atual administração da fábrica, comandada pelo atual gestor da associação de funcionários, a qual não cumpre sentenças judiciais, nem acordos”, diz o texto conjunto.
MUTIRÃO
Para recolher o maior número possível de assinaturas, o grupo de ex-funcionários estuda agora a realização de um mutirão, nos fins de semana, em praça pública. Isso porque, apesar do grande número de pessoas na mesma situação, tem sido difícil colher as assinaturas, já que nem sempre as pessoas dispõem dos respectivos números de processos. Goeb acredita que o próprio sindicato, numa ação conjunta, possa ajudar nesse esforço. “Às vezes, a pessoa quer assinar, mas não dispõe, no momento, de dados como o número do processo. Isso vem dificultando o recolhimento, mas vamos tentar promover essa iniciativa, em locais que concentram maior número de interessados”, diz.
“A união faz a força. Sozinho não se consegue nada”, defende Adenir Soares da Silva, que também está entre as centenas de ex-funcionários prejudicados pela demora no pagamento de suas indenizações. Ele lembra que ao longo desses anos, muitas pessoas adoeceram, algumas até faleceram; outras se encontram em dificuldades financeiras, por conta de um dinheiro que lhes é devido, e está fazendo falta. “É preciso que a Justiça se pronuncie favoravelmente a centenas de famílias”, reclama.
SEM PAGAMENTOS
Tendo trabalhado na empresa, em diferentes períodos, mas por um total de exatos 39 anos e sete meses, Onides Venturini chegou a ser chefe da seção de metalurgia. Aposentado em 1985, voltou a trabalhar na firma, mas foi demitido em 1998, sob a alegação de redução de custos. Ele conta que entrou na Justiça, mas só lhe pagaram a rescisão do FGTS e que chegaram a depositar algumas parcelas, mas depois pararam.
Goeb lembra que um dos grandes problemas também é este. “Existem muitos casos que começaram a pagar, mediante acordo. Logo depois que as pessoas aceitam a proposta, eles pararam de pagar. E mesmo assim, muitas vezes, esses acordos só atingem 50 a 60 por cento do valor a que o ex-funcionário tinha direito”, explica.
Outro problema do qual o grupo reclama é que a própria Justiça destinou parte de um estoque para a produção de mercadorias, que seriam direcionadas aos pagamentos das ações. “No entanto, atualmente a administração vem dando prioridade à produção para outros canais, além disso consideramos que foram feitos investimentos como o posto de venda, o aluguel de lojas em shoppings, que não se justificam diante da crise estabelecida e de conhecimento público”, diz.
No caso também, Adenir questiona que a fábrica vem alugando e terceirizando espaços, por exemplo, como para academia de ginástica, sem uma prestação de contas desses recursos. Ele lamenta ainda que, enquanto isso, um patrimônio de máquinas inoperantes vem sofrendo desgastes, enquanto poderia estar gerando empregos, movimentando a economia.
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